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“Neutralidade carbónica não pode criar desigualdades”

O caminho para a neutralidade carbónica pode “ aumentar as assimetrias e falhar na chamada na transição justa e tem de se compreender que classes sociais ou classes profissionais podem ficar para trás e é necessário levar em consideração”.

07 de Outubro de 2020 às 14:10
Pedro Catarino
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“Se a neutralidade carbónica que se não for devidamente enquadrada por políticas públicas adequadas, podem conduzir a um aumento das desigualdades sociais”, referiu Júlia Seixas. Explicou que na panóplia de opções que se tem para descarbonizar a economia, verifica-se que os veículos elétricos, na mobilidade, os equipamentos classe A++, na eficiência energética são soluções que requerem uma disponibilidade financeira maior do que a opção mais convencional.

Júlia Seixas referiu o que chamou “o caso exemplar dos edifícios em onde nós vivemos, que na sua esmagadora maioria tem problemas muito graves em relação ao conforto térmico e, em termos de política pública de instrumentos para a eficiência energética que tem sido apresentada não é adequado às classes de menor rendimento, porque os pacotes que de ser implementados exigem duas coisas fundamentais à cabeça. Primeiro exigem um nível razoável de literacia energética para se poder candidatar a esse incentivo. Depois exige um investimento grande à cabeça para que dois ou três anos mais tarde, recebe esse incentivo, mas teve que fazer esse investimento à cabeça.

Baixos salários

Júlia Seixas considera que num país de baixos salários, em que o salário médio anda em torno dos 900 e 1000 euros, estes não são os instrumentos mais adequados. “É uma função da política pública ter formas para não deixar ninguém para trás nesta transição para a neutralidade carbónica. Podemos correr o risco de facto de haver classes, nomeadamente de rendimento médio e superior, que acompanham muito bem e que aderem, mas que há outras classes com rendimento mais inferior que não conseguem fazer isso”.

O caminho para a neutralidade carbónica pode “ aumentar as assimetrias e falhar na chamada na transição justa e tem de se compreender que classes sociais ou classes profissionais podem ficar para trás e é necessário levar em consideração”. Acrescentou que em Portugal, há cerca de 20% de famílias que vivem em pobreza energética, o que tem custos bem-estar e de saúde pública.

No Reino Unido há muitos anos que tem uma forma de lidar muito mais perto, de uma forma mais simples com as questões de eficiência energética. “Há uns anos atrás inventei uma morada numa cidade no Reino Unido, e em 48 horas tinha um email na caixa de correio a dar-me três opções para um perito ir visitar a minha casa e ajudar-me a resolver o problema até ao fim. Não sou eu que tenho que pagar, para depois receber daqui a três anos, isso não faz sentido absolutamente nenhum para uma família que não tem capacidade de investimento, mas há muitas opções e um grande trabalho a fazer.

 

As figuras do debate A conferência digital “Descarbonização: Metas e Objetivos” realizou-se a 23 de Setembro de 2020, no âmbito da iniciativa Negócios Sustentabilidade 20-30 e dos Prémios Sustentabilidade Negócios, e contou com a moderação de Celso Filipe, diretor-adjunto do Jornal de Negócios.

Participaram João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática, Júlia Seixas, professora e presidente do DCEA da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Afonso Arnaldo, corporate responsability & sustainability leader e partner da Deloitte, António Martins e Costa, membro do conselho de administração executivo da EDP, Sofia Reis Jorge, diretora executiva de sustentabilidade do Grupo Altri, e Francisco Ferreira, presidente da Zero- Associação Sistema Terrestre Sustentável.

 

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