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Segundo Francisco Ferreira, presidente da Zero-Associação Sistema Terrestre Sustentável, há uma razão muito simples para se defender uma antecipação da neutralidade carbónica para 2040. Em 2018, quando o painel intergovernamental para as alterações climáticas apresentou um relatório sobre se era ou não possível não ultrapassarmos um aquecimento de 1,5ºC, em relação à era pré-industrial, esse relatório traçou quatro possibilidades e a mais segura, aquela que nos garante efetivamente que os impactos são menores, mas que é possível atingir, é um cenário em que essa neutralidade é atingida à escala global, em 2044.
Francisco Ferreira explica que haverá países em desenvolvimento que continuaram a emitir mais, mas que é preciso olhar para a responsabilidade histórica dos países desenvolvidos nas emissões de gases com efeito de estufa que estão a ter efeitos nas alterações climáticas. “A Europa aqui tem uma obrigação de conseguir atingir essa neutralidade antes e os sinais começam a ser positivos”, refere Francisco Ferreira.
No entanto, para este ativista e professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia, “a emergência climática está longe ainda de ser implementada ou de ser levada à prática como gostaríamos”. O comité de ambiente do Parlamento Europeu, já votou que gostaria de ver uma redução de 60% nas emissões entre 1960 e 2030. O que estava no pacto ecológico europeu quando apresentado, em dezembro de 2019, dizia que deveríamos tentar à escala da Europa uma redução entre 50 e 55%, mas foi anunciado pela presidente da Comissão Europeia que será pelo menos 55%. Mas começa “a existir um conjunto de sinais muito agradáveis, que é necessário agora ampliar e que é necessário acima de tudo traduzir nos diferentes países”.
Otimismo moderado
No entanto, como diz Francisco Ferreira, “o otimismo, no que respeita às alterações climáticas e às emissões, é sempre um otimismo extremamente moderado, porque quando se vê o que realmente nós precisávamos de reduzir à escala global, por exemplo, e nós ainda não o fizemos de forma estrutural. As reduções que se preveem este ano são devidas a um “acidente” de saúde pública e mesmo em Portugal, nós temos que acelerar muito vários setores, no sentido de realmente conseguirmos garantir a neutralidade climática e carbónica”.
Como sinais positivos Francisco Ferreira aponta o encerramento previsto das centrais a carvão e os investimentos fortíssimos nas energias renováveis para a produção de eletricidade com a eletrificação do funcionamento da nossa sociedade, nos estamos obviamente aqui a ganhar muito em relação a emissões”, diz Francisco Ferreira.
O sinal negativo está tráfego, em particular o tráfego rodoviário, que é responsável por um quarto das emissões aproximadamente. “Tem um peso muito grande e a eletrificação, no futuro o uso de hidrogénio, está longe de nos garantir o que seria uma transição rápida e necessária para um uso das energias renováveis, em vez dos combustíveis fósseis”, sublinha Francisco Ferreira.
O presidente da Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável fala de uma “esquizofrenia do Partido Socialista, que está no governo”. Anunciou como prioridade para este início de legislatura as questões do ambiente e uma lei do clima, mas ao mesmo tempo, o primeiro-ministro “não hesita em mencionar que a construção de um novo aeroporto é, sem dúvida, um dos projetos fundamentais a desenvolver, mas não nos esqueçamos que estas emissões são extremamente importantes e não foram tidas em conta, porque fazem parte do bolo internacional, mas devem fazer parte da responsabilidade política de cada Governo. As emissões da aviação tem um peso muito grande e nós estamos aqui a dar dois sinais contrários, quando devíamos ter uma abordagem mais integrada e coerente”.