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| Poluir menos, ou produzir menos?
A poluição atmosférica diminuiu durante o confinamento. Susana Peralta fala numa diminuição de 5%, a maior desde a II Guerra Mundial. Mas poluir menos porque se produz menos não é o mesmo que tornar a produção mais sustentável, frisa. Até porque a quebra no crescimento económico concorre contra outros objetivos, como o da redução da pobreza, fome ou desigualdades. Marvão Pereira soma o potencial "efeito de rebound". Os incentivos, nota, estão todos alinhados para que o crescimento se faça através da indústria dos combustíveis fósseis, já que o petróleo está a preços baixíssimos.
| Reduzir a frota aérea ou salvar os aviões?
A paragem abrupta das ligações aéreas teve um benefício para o ambiente. O mesmo com a redução do tráfego rodoviário, ditado pelo #fiqueemcasa generalizado. As transportadoras aéreas e muitas produtoras de automóvel estão por isso perante a necessidade de reduzir a sua operação. Do ponto de vista da transição energética, poderia ser um paradigma de transportes a dar lugar a outros, como a ferrovia ou a bicicleta nos meios urbanos. Mas a ação política tem pendido para a necessidade de salvar estas empresas com injeções de dinheiro público, tendo em conta o impacto económico e social de eventuais falências.
| Poupar nos combustíveis ou aproveitar os saldos?
No curto prazo, a pandemia conduziu à redução do consumo de combustíveis. O teletrabalho permitiu reduzir as viagens rodoviárias e mostrou como é possível evitar viagens internacionais. Mas o petróleo está a preços muito baixos - uma tendência que começou antes da pandemia, mas que se intensificou com ela. E este é um excelente incentivo para o aumento do consumo, assim que a recuperação económica chegar. Além disso, tira interesse económico ao investimento em renováveis e à reciclagem e promove a utilização de plásticos descartáveis (determinantes no combate ao vírus).
| Trabalhar de casa ou ir de carro para o escritório?
A generalização do teletrabalho foi uma das principais mudanças comportamentais promovidas pela necessidade de combater a pandemia. Há já empresas, conta Rita Sousa, que estão a disponibilizar essa possibilidade aos seus trabalhadores, independentemente do surto. Porém, a crise sanitária também trouxe o medo de andar nos transportes públicos, incentivando a utilização do carro privado e travando o movimento de progressiva adesão que, em Portugal por exemplo, com a redução de preços, se verificava. Além disso, lembra Marvão Pereira, o facto de poder haver menos viagens de trabalho implica diminuir também as de lazer.
| Mudar o turismo ou salvar empregos?
O impacto da pandemia no turismo e na restauração parece ser claramente no sentido da maior sustentabilidade destas atividades em termos ambientais. A necessidade do distanciamento social desincentiva o turismo de massas, com custos ambientais e de organização do território bastante superiores. Porém, para muitas economias, como a portuguesa, a redução da intensidade da exploração destas atividades torna inviáveis muitas empresas, com forte impacto no emprego. A dúvida fica assim em saber se o turismo exigido no modelo imposto pela crise sanitária veio para ficar.