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Alterações climáticas reduziram stocks de peixe em metade das regiões marinhas

Investigadores projetam o impacto que diferentes aumentos da temperatura global e escalas de atividade pesqueira têm na biomassa, de 1950 a 2100.

08 de Setembro de 2022 às 09:00
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Investigadores da Universidade da Columbia Britânica (Canadá), do Centro de Soluções Oceânicas de Stanford (EUA) e da Universidade de Berna (Suíça) projetam o impacto que diferentes aumentos da temperatura global e gamas de atividade pesqueira têm na biomassa, de 1950 a 2100. As suas simulações, a partir dos níveis históricos, sugerem que as alterações climáticas reduziram os stocks de peixe em 103 das 226 regiões marinhas estudadas.

Estas unidades populacionais terão dificuldade em reconstituir o seu número sob os níveis de aquecimento global previstos para o século XXI. Nesse sentido, dizem os investigadores que os stocks globais de peixe não poderão recuperar para níveis sustentáveis sem ações fortes para travar as alterações climáticas e a sobrepesca.


"Uma gestão das pescas mais orientada para a conservação é essencial para reconstituir as unidades populacionais de peixes sobre-exploradas no âmbito das alterações climáticas. Contudo, só isso não é suficiente", diz o autor principal da investigação e biólogo marinho, William Cheung. "A mitigação dos efeitos do clima é importante para que os nossos planos de reconstituição dos stocks de peixe sejam eficazes", refere num comunicado da Universidade da Columbia Britânica.

A equipa de investigação utilizou modelos informáticos para descobrir a que níveis de alterações climáticas os stocks de peixe não podem ser reconstituídos. Atualmente, o mundo caminha para ultrapassar os 1,5 graus de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais e vai aproximar-se dos 2 graus nas próximas décadas. O estudo projetou que, quando a gestão das pescas se concentra em capturar as quantidades sustentáveis mais elevadas por ano, o impacto climático adicional do aquecimento a 1,8 graus sobre os peixes contribui para que os stocks de peixe não se consigam regenerar por si só.

"As ecorregiões tropicais na Ásia, Pacífico, América do Sul e África estão a sofrer um declínio das populações de peixes à medida que as espécies se deslocam mais para norte, para águas mais frias, e são também incapazes de recuperar devido às exigências da pesca", explica Cheung. "Estas regiões são as que sentem primeiro os efeitos do aquecimento global e o nosso estudo mostra que mesmo um ligeiro aumento de 1,5 graus Celsius poderia ter um efeito catastrófico nas nações tropicais que dependem da pesca para a segurança alimentar, receitas e emprego".

No pior cenário, em que nada é feito para mitigar o aquecimento global, incluindo o cumprimento de objetivos acordados internacionalmente, e em que ocorre uma sobrepesca para além dos objetivos sustentáveis, os recursos haliêuticos a nível global desceriam para 36% dos níveis atuais, projeta o estudo.

 

"Para reconstituir as unidades populacionais de peixes, as alterações climáticas devem ser plenamente consideradas", acrescenta o coautor, Juliano Palacios-Abrantes. "Vivemos num mundo globalizado, onde as situações estão interligadas". Vemos isto mais significativamente nas regiões tropicais, mas também no Ártico, onde muitas espécies exploradas são lentas a amadurecer, ou na Irlanda, Canadá e EUA, com elevadas taxas de mortalidade por pesca. Estes efeitos climáticos, mesmo quando olhamos para cenários centrados na conservação, estão a tornar demasiado difícil a recuperação dos recursos haliêuticos".

Cheung diz que, devido às alterações climáticas, é pouco provável que o mundo regresse aos níveis históricos das populações de peixes. "Encontramo-nos num ponto de viragem. O que precisamos é de um esforço global coordenado para desenvolver medidas práticas e equitativas de conservação marinha para apoiar a reconstrução efetiva da biomassa no âmbito das alterações climáticas". "É preciso reconhecer como a biodiversidade marinha contribui para a subsistência e para as economias, particularmente nas ecorregiões marinhas tropicais, bem como exigir limites mais rigorosos às atividades pesqueiras, para alcançar um maior potencial de reconstituição da biomassa", finalizou.

 

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