- Partilhar artigo
- ...
Um projeto português desenvolveu novos produtos alimentares totalmente à base de alfarroba, conjugando as suas potencialidades económicas à promoção de uma cultura sustentável e resiliente perante as alterações climáticas.
O projeto de investigação Alphamais, levado a cabo nos últimos três anos, criou um conjunto de novos ingredientes e preparados alimentares funcionais através da biotecnologia.
"Os principais resultados foram a obtenção de novos ingredientes e preparados alimentares funcionais, utilizando de forma integral a alfarroba, com recurso a soluções biotecnológicas de micronização e de extração de compostos. Foram ainda valorizados subprodutos de alfarroba, explorando o ingrediente na sua totalidade, numa lógica de desperdício zero", explica Manuela Pintado, investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina da Universidade Católica Portuguesa.
Para além da vertente nutricional, a investigadora destaca também o papel da alfarroba num contexto de agravamento das alterações climáticas num país como Portugal. "Claramente a alfarroba é uma planta sustentável. Adaptada a solos secos e grande exposição solar, responde a um dos grandes problemas das mudanças climáticas em países mediterrânicos. Por isso, em zonas com condições de solo, água e clima pouco favoráveis à formação de florestas, esta cultura pode representar uma promoção da biodiversidade, e com um potencial elevado para a valorização económica em novos produtos para promoção das dietas saudáveis e sustentáveis".
Portugal é um dos maiores produtores mundiais de alfarroba, segundo a investigadora, mas a sua utilização ainda não está massificada. O país produz cerca de 40.000 toneladas/ano de alfarroba no Algarve, sendo que dados de 2020 indicam que mais de metade da produção é exportada.
A produção de alfarroba ainda "carece de estratégia para o futuro", refere Manuela Pintado ao Negócios. E embora possa gerar uma diversidade de produtos, a produção nacional tem sido muito focada na produção de goma de alfarrofa, de elevado valor no mercado, e farinha de alfarroba. Mas há espaço para novas utilizações.
"O mercado tem crescido em resposta à demanda pelas propriedades nutricionais das farinhas, xarope e gérmen de alfarroba e pelo valor tecnológico da goma, pelo que o preço no mercado tem aumentado e Portugal não tem conseguido assegurar os mercados com a produção atual", explica a investigadora.
Pela grande resiliência desta cultura e forte adaptação às mudanças climáticas, Manuela Pintado defende que a alfarroba "poderia ser uma cultura em expansão não só no Algarve, em campos não cultivados, e no Alentejo alinhado com o montado, bem como potencialmente em outras regiões não exploradas".
O consórcio do projeto acredita que esta abordagem pode alavancar a proposta de valor da alfarroba como ingrediente natural, fazendo-a ultrapassar fronteiras como um produto de selo nacional.
O projeto foi levado a cabo por investigadores do Centro de Biotecnologia e Química Fina da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, do Centro de Investigação MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, do Instituto Superior de Engenharia da Universidade do Algarve e da empresa Decorgel.