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A cosmética movimenta milhões. Milhões de euros e milhões de unidades que tradicionalmente são de plástico e/ou cartão. Então, numa altura em que se fala cada vez mais de sustentabilidade, o que estão a fazer o setor e as marcas no sentido de serem mais sustentáveis?
Não há uma resposta única. Cada marca tem a sua própria abordagem. A Lush, por exemplo, desde a sua fundação que definiu como princípio ter produtos sem embalagem. E assim surgiram - há 35 anos - produtos como champôs sólidos, barras de massagem ou bombas de banho. Como explicou a marca ao Negócios, hoje 66% dos seus produtos "vendidos a cada ano são ‘nus’".
"Voltamos ao básico no início da Lush - removemos a embalagem e colocamos um número maior de funcionários altamente qualificados no piso de fábrica, para trazer de volta a arte da conversa e o atendimento especializado", refere Mark Constantine, cofundador, CEO e inventor do produto.
Entrar numa loja da empresa é poder decidir, por exemplo, comprar uma fatia - sim, uma fatia - de um sabonete. Uma decisão que, segundo a empresa, é benéfica para as partes. A Lush lembra que as previsões apontam para que sejam produzidas 120 mil milhões de unidades de embalagens para cosméticos, a maioria das quais com uma única utilização, e que apenas cerca de 9 a 12% dos plásticos sejam reciclados a nível mundial.
Segundo a marca, o recurso aos champôs sólidos traz um enorme impacto ambiental: uma barra de champô sólido equivale a três frascos de 250 g de champô líquido; cada champô rende de 80 a 100 utilizações (dependendo do formato, composição e espessura do seu cabelo), para manusear também é mais leve e menor que qualquer frasco de champô; e um camião de champô em barra sólido representa, aproximadamente, o mesmo número de lavagens equivalente a 15 camiões de champô líquido. O que leva a marca, com orgulho, a afirmar que nos últimos 15 anos, ao ter vendido 57,6 milhões de champôs sólidos, evitou o fabrico de 167,5 milhões de frascos plásticos: o equivalente a 4.275 toneladas de plástico, 5,3% da Grande Ilha de Lixo do Pacífico.
Além disso a marca promove a economia circular, incentivando os clientes a entregar embalagens usadas. "Por cada embalagem de plástico entregue em qualquer uma das lojas Lush em Portugal o cliente recebe 50 cêntimos que podem ser utilizados na sua compra nesse mesmo dia. As embalagens entregues nas lojas são depois enviadas para o nosso Green Hub na Croácia. Com a ajuda de um parceiro local, conseguimos criar um sistema de reciclagem de circuito fechado para todos os tipos de plástico utilizados nas nossas embalagens. Neste caso, o parceiro compra o material devolvido dentro do esquema Bring it Back e utiliza esse mesmo material para fabricar novos potes e garrafas", explica a Lush. Ao que Rae Stanton-Smithson, da equipa de Earthcare acrescenta que "este novo esquema é mais um passo importante para "deixarmos o mundo mais Lush do que o encontrámos". O que propomos é que o cliente pense num esquema de depósito em que aluga a embalagem e a pode devolver no final". Para os clientes que querem ir um pouco mais além há também a hipótese de adquirir o creme corporal Charity Pot. Lançado em 2007 trata-se de um produto desenvolvido especificamente com o objetivo de angariar fundos para apoiar pequenas associações locais e campanhas ativistas nas áreas de desastres ambientais e desflorestação. Desde o seu lançamento - apoiado pelo The Lush Regeneration Fund, um projeto para apoiar as práticas regenerativas a nível mundial - a marca já apoiou mais de 13.700 projetos e já doou mais de 76 milhões de euros por todo o mundo. Em Portugal, o projeto foi lançado em 2015 e já doou mais de 30 mil euros, distribuídos pelos projetos de 24 associações locais.
Começar a cuidar do ambiente no fabrico
Uma coisa é ter a sustentabilidade no centro desde a sua fundação. E o que acontece com as outras marcas? As consideradas "industriais"? Significa que não estão atentas e a trabalhar na problemática? Pelo contrário. A L’Oréal é um bom exemplo de um grupo que optou por seguir um caminho diferente, abordando a sustentabilidade no início de todo o processo. Ou seja, nas próprias fórmulas dos produtos e na utilização das matérias-primas, a par da reformulação das unidades industriais.
A fábrica de Burgos, à qual o Negócios teve acesso, é considerada um ex-líbris do grupo, sendo uma das unidades fabris mais sustentáveis. Desde logo por ser totalmente neutra em carbono - a primeira do grupo, mas, agora, não a única - no final de 2021 o grupo já tinha 100 locais neutros em carbono.
Mas essa não foi a única medida. Outra delas foi o passar a usar o sistema "water loop" que permite reciclar a água que sai dos processos de fábrica. Ines Fernandez, diretora da Fábrica L’Oréal Burgos, explicou que a água vai para uma depuradora onde é devidamente tratada por forma a retomar a qualidade suficiente para voltar a ser utilizada. Tudo isto num sistema fechado. Na prática, significa que a única água (da rede pública) utilizada é a que é usada no fabrico dos produtos.
"Reduzimos a quantidade de água utilizada nas nossas plantas e centros de distribuição em 53% em relação a 2005, por produto acabado. Até 2030, 100% da água utilizada nos nossos processos industriais será reciclada e reutilizada num ciclo", afirma Delia Garcia, acrescentando que "seis das nossas fábricas são ‘Waterloop’", incluindo a Fábrica Internacional de Produtos Capilares em Burgos desde 2017, o que significa que toda a água industrial é tratada, reciclada e reutilizada num circuito fechado. Até 2030, 100% das nossas instalações industriais e todos os nossos edifícios explorados terão um impacto positivo na biodiversidade, em comparação com 2019".
Já no que concerne às embalagens o grupo definiu como objetivo o ter, em 2025, "100% das nossas embalagens de plástico 100% recarregáveis, reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis (46% já é) e 0 plástico virgem até 2030", afirma a diretora de RSC e Sustentabilidade da L’Oréal Espanha e Portugal, que aponta ainda que "atualmente, 67% das embalagens de plástico PET já provêm de fontes recicladas. No total, 73.707 toneladas de materiais reciclados, incluindo 43.373 toneladas em embalagens primárias e secundárias, pouparam a quantidade equivalente de materiais virgens em 2021".
Plástico: o eterno inimigo da sustentabilidade
Se no segmento profissional a L’Oréal há já algum tempo que proporciona embalagens de maior dimensão e fomenta o chamado "refill", o principal problema prende-se com o segmento do retalho - que representa cerca de 50% do total de vendas. Basta ir a um supermercado para ver a quantidade de plástico envolvida. E se numa loja própria é mais fácil optar por uma estratégia de venda a granel - como faz a Lush - no retalho isso não é assim tão fácil. Questionada sobre o que o grupo está a fazer em relação a esta problemática, Delia Garcia lembra que há vários anos que a L’Oréal "tem vindo a investir no desenvolvimento de produtos mais sustentáveis e transparentes".
A par disso - e no seguimento de investir na fórmula do produto -, o grupo, lembra a diretora, já tem "produtos que podem ser enxaguados mais facilmente, poupando água como as máscaras à base de leite Garnier Ultra Suave ou o champô sólido da mesma marca e várias marcas já têm uma opção de champô seco, como Garnier Ultra Suave, L’Oréal Paris e Kérastase, que pode ser utilizado sem o uso de água e permite adiar as lavagens". A par de um maior investimento nos formatos recarregáveis.
"A Kiehl’s tem formatos recarregáveis para alguns produtos para o corpo e cabelo e também tem uma garrafa de alumínio especificamente para recargas. Algumas marcas de perfume também têm frascos recarregáveis: Acqua Di Gio Eau de Parfum, Idole em Lancôme e My Waye Mugler, bem como todos os novos lançamentos como Paradoxe by Prada ou La Vie Est Belle by Lancôme. Também os champôs Garnier Ultra Suave e Elvive da L’Oréal Paris têm agora um formato de recarga disponível no mercado de massas e na Divisão de Cosmética Activa La Roche-Posay oferece agora creme Lipikar e recargas de óleo de lavagem", exemplifica Delia Garcia.
A diretora de sustentabilidade da L’Oréal afirma mesmo que "60% dos nossos ingredientes nas fórmulas são de base biológica, derivados de minerais abundantes ou processos circulares. O nosso objetivo é até 2030, 95% dos ingredientes da nossa fórmula serão de base biológica, derivados de minerais abundantes ou processos circulares". E isto é muito importante porque, como reconhece a executiva, "a fase de utilização dos nossos produtos representa mais de 30% do consumo de água do grupo (por volume), pelo que estamos a desenvolver tecnologias para reduzir o consumo de água em salões, produtos altamente laváveis (menos necessidade de enxaguamento) ou produtos sem água e rotinas que irão reduzir o consumo de água. Isto permitirá aos nossos consumidores reduzir em 25% em média e por produto acabado o consumo de água associado à utilização dos nossos produtos em comparação com 2016", sublinha Delia Garcia.
Não há uma resposta única. Cada marca tem a sua própria abordagem. A Lush, por exemplo, desde a sua fundação que definiu como princípio ter produtos sem embalagem. E assim surgiram - há 35 anos - produtos como champôs sólidos, barras de massagem ou bombas de banho. Como explicou a marca ao Negócios, hoje 66% dos seus produtos "vendidos a cada ano são ‘nus’".
"Voltamos ao básico no início da Lush - removemos a embalagem e colocamos um número maior de funcionários altamente qualificados no piso de fábrica, para trazer de volta a arte da conversa e o atendimento especializado", refere Mark Constantine, cofundador, CEO e inventor do produto.
Entrar numa loja da empresa é poder decidir, por exemplo, comprar uma fatia - sim, uma fatia - de um sabonete. Uma decisão que, segundo a empresa, é benéfica para as partes. A Lush lembra que as previsões apontam para que sejam produzidas 120 mil milhões de unidades de embalagens para cosméticos, a maioria das quais com uma única utilização, e que apenas cerca de 9 a 12% dos plásticos sejam reciclados a nível mundial.
Segundo a marca, o recurso aos champôs sólidos traz um enorme impacto ambiental: uma barra de champô sólido equivale a três frascos de 250 g de champô líquido; cada champô rende de 80 a 100 utilizações (dependendo do formato, composição e espessura do seu cabelo), para manusear também é mais leve e menor que qualquer frasco de champô; e um camião de champô em barra sólido representa, aproximadamente, o mesmo número de lavagens equivalente a 15 camiões de champô líquido. O que leva a marca, com orgulho, a afirmar que nos últimos 15 anos, ao ter vendido 57,6 milhões de champôs sólidos, evitou o fabrico de 167,5 milhões de frascos plásticos: o equivalente a 4.275 toneladas de plástico, 5,3% da Grande Ilha de Lixo do Pacífico.
Além disso a marca promove a economia circular, incentivando os clientes a entregar embalagens usadas. "Por cada embalagem de plástico entregue em qualquer uma das lojas Lush em Portugal o cliente recebe 50 cêntimos que podem ser utilizados na sua compra nesse mesmo dia. As embalagens entregues nas lojas são depois enviadas para o nosso Green Hub na Croácia. Com a ajuda de um parceiro local, conseguimos criar um sistema de reciclagem de circuito fechado para todos os tipos de plástico utilizados nas nossas embalagens. Neste caso, o parceiro compra o material devolvido dentro do esquema Bring it Back e utiliza esse mesmo material para fabricar novos potes e garrafas", explica a Lush. Ao que Rae Stanton-Smithson, da equipa de Earthcare acrescenta que "este novo esquema é mais um passo importante para "deixarmos o mundo mais Lush do que o encontrámos". O que propomos é que o cliente pense num esquema de depósito em que aluga a embalagem e a pode devolver no final". Para os clientes que querem ir um pouco mais além há também a hipótese de adquirir o creme corporal Charity Pot. Lançado em 2007 trata-se de um produto desenvolvido especificamente com o objetivo de angariar fundos para apoiar pequenas associações locais e campanhas ativistas nas áreas de desastres ambientais e desflorestação. Desde o seu lançamento - apoiado pelo The Lush Regeneration Fund, um projeto para apoiar as práticas regenerativas a nível mundial - a marca já apoiou mais de 13.700 projetos e já doou mais de 76 milhões de euros por todo o mundo. Em Portugal, o projeto foi lançado em 2015 e já doou mais de 30 mil euros, distribuídos pelos projetos de 24 associações locais.
Começar a cuidar do ambiente no fabrico
Uma coisa é ter a sustentabilidade no centro desde a sua fundação. E o que acontece com as outras marcas? As consideradas "industriais"? Significa que não estão atentas e a trabalhar na problemática? Pelo contrário. A L’Oréal é um bom exemplo de um grupo que optou por seguir um caminho diferente, abordando a sustentabilidade no início de todo o processo. Ou seja, nas próprias fórmulas dos produtos e na utilização das matérias-primas, a par da reformulação das unidades industriais.
A fábrica de Burgos, à qual o Negócios teve acesso, é considerada um ex-líbris do grupo, sendo uma das unidades fabris mais sustentáveis. Desde logo por ser totalmente neutra em carbono - a primeira do grupo, mas, agora, não a única - no final de 2021 o grupo já tinha 100 locais neutros em carbono.
O grupo L’Oréal reduziu as emissões das suas instalações industriais em 87%. Delia Garcia
Diretora de Sustentabilidade da L’Oréal Espanha e Portugal
Segundo Delia Garcia, diretora de RSC e Sustentabilidade da L’Oréal Espanha e Portugal, "o grupo reduziu as emissões das suas instalações industriais em 87% em relação a 2005, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa das suas instalações e centros de distribuição, utilizando energias renováveis e melhorando a sua eficiência energética. Durante o mesmo período, o seu volume de produção aumentou 37%, confirmando a capacidade da L’Oréal de combinar o sucesso comercial com o seu empenho em ações climáticas ambiciosas." Diretora de Sustentabilidade da L’Oréal Espanha e Portugal
Mas essa não foi a única medida. Outra delas foi o passar a usar o sistema "water loop" que permite reciclar a água que sai dos processos de fábrica. Ines Fernandez, diretora da Fábrica L’Oréal Burgos, explicou que a água vai para uma depuradora onde é devidamente tratada por forma a retomar a qualidade suficiente para voltar a ser utilizada. Tudo isto num sistema fechado. Na prática, significa que a única água (da rede pública) utilizada é a que é usada no fabrico dos produtos.
"Reduzimos a quantidade de água utilizada nas nossas plantas e centros de distribuição em 53% em relação a 2005, por produto acabado. Até 2030, 100% da água utilizada nos nossos processos industriais será reciclada e reutilizada num ciclo", afirma Delia Garcia, acrescentando que "seis das nossas fábricas são ‘Waterloop’", incluindo a Fábrica Internacional de Produtos Capilares em Burgos desde 2017, o que significa que toda a água industrial é tratada, reciclada e reutilizada num circuito fechado. Até 2030, 100% das nossas instalações industriais e todos os nossos edifícios explorados terão um impacto positivo na biodiversidade, em comparação com 2019".
Já no que concerne às embalagens o grupo definiu como objetivo o ter, em 2025, "100% das nossas embalagens de plástico 100% recarregáveis, reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis (46% já é) e 0 plástico virgem até 2030", afirma a diretora de RSC e Sustentabilidade da L’Oréal Espanha e Portugal, que aponta ainda que "atualmente, 67% das embalagens de plástico PET já provêm de fontes recicladas. No total, 73.707 toneladas de materiais reciclados, incluindo 43.373 toneladas em embalagens primárias e secundárias, pouparam a quantidade equivalente de materiais virgens em 2021".
Plástico: o eterno inimigo da sustentabilidade
Se no segmento profissional a L’Oréal há já algum tempo que proporciona embalagens de maior dimensão e fomenta o chamado "refill", o principal problema prende-se com o segmento do retalho - que representa cerca de 50% do total de vendas. Basta ir a um supermercado para ver a quantidade de plástico envolvida. E se numa loja própria é mais fácil optar por uma estratégia de venda a granel - como faz a Lush - no retalho isso não é assim tão fácil. Questionada sobre o que o grupo está a fazer em relação a esta problemática, Delia Garcia lembra que há vários anos que a L’Oréal "tem vindo a investir no desenvolvimento de produtos mais sustentáveis e transparentes".
A par disso - e no seguimento de investir na fórmula do produto -, o grupo, lembra a diretora, já tem "produtos que podem ser enxaguados mais facilmente, poupando água como as máscaras à base de leite Garnier Ultra Suave ou o champô sólido da mesma marca e várias marcas já têm uma opção de champô seco, como Garnier Ultra Suave, L’Oréal Paris e Kérastase, que pode ser utilizado sem o uso de água e permite adiar as lavagens". A par de um maior investimento nos formatos recarregáveis.
"A Kiehl’s tem formatos recarregáveis para alguns produtos para o corpo e cabelo e também tem uma garrafa de alumínio especificamente para recargas. Algumas marcas de perfume também têm frascos recarregáveis: Acqua Di Gio Eau de Parfum, Idole em Lancôme e My Waye Mugler, bem como todos os novos lançamentos como Paradoxe by Prada ou La Vie Est Belle by Lancôme. Também os champôs Garnier Ultra Suave e Elvive da L’Oréal Paris têm agora um formato de recarga disponível no mercado de massas e na Divisão de Cosmética Activa La Roche-Posay oferece agora creme Lipikar e recargas de óleo de lavagem", exemplifica Delia Garcia.
A diretora de sustentabilidade da L’Oréal afirma mesmo que "60% dos nossos ingredientes nas fórmulas são de base biológica, derivados de minerais abundantes ou processos circulares. O nosso objetivo é até 2030, 95% dos ingredientes da nossa fórmula serão de base biológica, derivados de minerais abundantes ou processos circulares". E isto é muito importante porque, como reconhece a executiva, "a fase de utilização dos nossos produtos representa mais de 30% do consumo de água do grupo (por volume), pelo que estamos a desenvolver tecnologias para reduzir o consumo de água em salões, produtos altamente laváveis (menos necessidade de enxaguamento) ou produtos sem água e rotinas que irão reduzir o consumo de água. Isto permitirá aos nossos consumidores reduzir em 25% em média e por produto acabado o consumo de água associado à utilização dos nossos produtos em comparação com 2016", sublinha Delia Garcia.