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A procura por soluções sustentáveis em todas as áreas da economia está a impulsionar a emergência das chamadas "green startups" ou startups verdes. Alinhadas com a Agenda 2030 da ONU e com as melhores práticas ESG (ambientais, sociais e de governação, na sigla inglesa), procuram trazer soluções para problemas da economia atual.
Surgem já com uma matriz de preocupações energéticas, redução do desperdício, fomento da economia circular ou respeito pelos direitos humanos. "As startups desta área nascem com uma missão relacionada com a sustentabilidade, enquanto as empresas já existentes procuram modificar o seu modelo de negócio, ou ‘modus operandi’, no sentido da sustentabilidade. Isto faz uma diferença grande, dando um papel de relevo às startups, não só no que respeita às suas ofertas para o mercado, como no apoio ao processo de transição das outras empresas, particularmente das grandes e médias", salienta Miguel Henriques, professor na Porto Business School.
Segundo a Comissão Europeia, em 2021, foram investidos em startups na área da sustentabilidade 8,8 mil milhões de euros, por comparação com os 4,7 mil milhões de 2020. "Isto mostra como o fenómeno está a crescer de forma avassaladora", destaca o também coordenador do Ignition Programme, um programa de ignição de empresas da Porto Business School para desenvolver ideias para uma economia mais sustentável.
Embora não existam estatísticas específicas sobre startups verdes em Portugal, esta expansão também é visível no país. Miguel Sousa, CEO da Inova+, empresa que trabalha na área dos estudos ligados à inovação, salienta que "nos últimos anos tem havido um aumento significativo no número de startups dedicadas à sustentabilidade em áreas como energias renováveis, eficiência energética, economia circular, gestão de resíduos, agricultura sustentável ou mobilidade". Desta forma, com "um papel cada vez mais importante no tecido empresarial português", já se torna "evidente o contributo destas startups para a transição para uma economia mais verde e sustentável, ao mesmo tempo em que impulsionam o crescimento económico e a criação de empregos", acrescenta.
As "green startups" são promissoras como vetores de inovação, mas como qualquer empresa, para serem bem-sucedidas, terão de ser financeiramente viáveis. "Modelos de negócio inovadores são essenciais para a sustentabilidade das ‘green startups’, porque envolve identificar as fontes de receita que normalmente não são consideradas, entender os custos envolvidos, considerar o esforço financeiro necessário para a sua diferenciação e estabelecer uma estratégia clara para obter retorno financeiro", destaca o CEO da Inova+.
Miguel Henriques, da Porto Business School, considera que na atualidade "ser verde já não é sinónimo de falta de rendibilidade ou viabilidade". "É certo que muitas tecnologias verdes são particularmente caras de desenvolver e adotar, mas isso acontece com qualquer tecnologia inovadora". Neste sentido, aconselha as startups a procurarem todas as formas de financiamento que as ajudem a desenvolver as suas soluções e a estabelecer parcerias com grandes empresas, que podem ajudar os inovadores a desenvolver e testar as suas soluções.
À procura de apoio
Existem diversos programas que apoiam estas startups, alguns deles específicos para as startups verdes, como o Green Vouchers, da Startup Portugal, o Ignition Programme, da Porto Business School, ou o Clean Future, da StartupLisboa. A nível europeu, o programa EIC Accelerator, do Horizon Europe, apoia o desenvolvimento de projetos empresariais disruptivos alinhados com os desafios identificados no Pacto Ecológico Europeu. A dificuldade será saber navegar neste mundo de forma a aceder aos diversos esquemas de financiamento disponibilizados.
Mas não são só os programas que podem ajudar a alavancar uma startup. A relação com grandes empresas pode ser uma solução "win-win", no sentido em que as startups são apoiadas na sua jornada e as empresas estabelecidas beneficiam da inovação, flexibilidade, rapidez e frescura destes novos agentes económicos. "Hoje, mais do que nunca, tem de se trabalhar em rede e, por isso, a chave do sucesso é a qualidade do ecossistema, alargar tanto quanto possível as parcerias", defende o docente Miguel Henriques.
Miguel Sousa também vê nas parcerias uma relação de sucesso: "Acredito que são negócios que necessitam do estabelecimento de parcerias estratégicas sólidas, com a academia, empresas estabelecidas no setor, organizações sem fins lucrativos ou até mesmo parcerias público-privadas".
Porém, criar uma empresa exige todo um esforço da própria iniciativa e também para convencer um mercado conservador como o português, com tendência para desconfiar do que é desconhecido, como o caracteriza Miguel Henriques. E isto coloca dificuldades acrescidas, nomeadamente ao nível do investimento. "As empresas arriscam pouco na adoção de processos ainda não dominados e os investidores têm um perfil menos profissionalizado do que noutros mercados. A maior dificuldade continua a ser o acesso ao financiamento privado e sustentável para as fases de crescimento das startups. Isto agrava-se para as startups que atuam na área da sustentabilidade ou impacto social", explica o professor da Porto Business School.
Assim, o acesso ao investimento, a entrada no mercado, a entrada em infraestruturas de testes e experimentação são algumas das barreiras a ultrapassar. Ainda assim, frisa Miguel Sousa, "o ecossistema empreendedor nacional evoluiu muito nos últimos anos, incluindo novos negócios ligados à economia verde".
O responsável da Inova+ lembra que "investir numa startup é considerado arriscado, uma vez que muitas delas não sobrevivem ao conhecido vale da morte". "Alguns investidores inibem-se em investir em empresas que ainda estão à procura de fazer a primeira venda e de terem a validação do mercado em relação à sua proposta de valor", diz. De forma a mitigar esta desconfiança, destaca, "é importante que as startups desenvolvam outras variáveis de análise, como o valor criado, evolução das vendas, qualidade da equipa, experiência e capacidade de responder a problemas que possam surgir". "Investidores precisam de confiança e as startups devem trabalhar estes elementos para transmitir essa confiança."
Como ser uma startup sustentável
O objetivo final das "green startups" será criar produtos e serviços benéficos tanto para os consumidores como para os negócios e o meio ambiente. Os trajetos da Bambu Bycicles e da Fish n’ Greens também se iniciaram com esta premissa.
Joana Saavedra, cofundadora da Bambu Bycicles, conta que a ideia surgiu por acreditarem no potencial das fibras naturais para contribuir para um mundo mais amigo do ambiente. "O nosso objetivo é oferecer bicicletas feitas de bambu e fibra de cânhamo, recursos renováveis e sustentáveis, como uma alternativa ecológica ao transporte convencional", conta.
Atualmente, estão na fase de lançamento do negócio, com uma produção inicial de bicicletas de bambu. "Para viabilizar o negócio, estamos focados em investir em campanhas de marketing para aumentar a consciencialização sobre o bambu como fibra e compósito natural e os benefícios das nossas bicicletas. Procuramos parcerias estratégicas com o turismo (hotéis, agências, etc.), municípios, lojas de bicicletas e outras empresas afins para expandir a nossa presença no mercado", explica. Dada a procura de mercado, estão já a pensar diversificar a linha de produtos oferecendo no futuro uma bicicleta elétrica e outros modelos para atender às diferentes necessidades do mercado.
Mas quais são as maiores dificuldades para desenvolver uma startup? Joana Saavedra destaca angariar o capital inicial para investigação e desenvolvimento (I&D). "Trabalhar um material desconhecido em Portugal, onde ainda não existe uma indústria do bambu estabelecida, não facilita", desabafa. Também a consciencialização do público sobre as vantagens do produto é referida como demorada.
O investimento inicial foi dos próprios, seguido dos chamados FFF ("family, friends and fools" - trad.: família, amigos e tolos). Tiveram também alguns apoios do Município de Anadia com o Invest Anadia e prémio do Tourism Creative Factory. E, neste momento, estão à espera dos resultados do Startup Voucher.
Dada a dificuldade em afirmar-se em Portugal, esta startup pretende expandir-se para mercados internacionais, com destaque para países europeus com uma mentalidade "eco-friendly" e amantes do ciclismo urbano. E o sonho é grande: "Almejamos ser referência no segmento de bicicletas sustentáveis, expandindo a nossa linha de produtos e serviços para atender às necessidades de ciclistas urbanos conscientes em todo o mundo", conta a empreendedora.
Numa outra área, a alimentar, a Fish n’ Greens também nasceu com a sustentabilidade no seu ADN. A startup aposta num projeto de aquaponia que combina a produção simbiótica e orgânica de vegetais e peixe utilizando as tecnologias que desenvolveu nos últimos anos. "O projeto alia a experiência da equipa e sua motivação com as atuais necessidades ambientais e tendências de consumo, contribuindo significativamente para um conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável", explica João Cotter, CEO e fundador do projeto Fish n’ Greens.
Embora a motivação para o bem maior social e ambiental seja muito forte entre os cofundadores, João Cotter destaca que "há também uma necessidade económica associada ao projeto, pois a racionalização de recursos, como a água e os fertilizantes, permitem significativas poupanças económicas, assim como viabilizar o projeto em regiões onde esses recursos são cada vez mais escassos". "Há uma combinação de circularidade, produção local, sustentabilidade e organicidade na produção de alimentos naturais, saudáveis e isentos de pesticidas e fertilizantes sintéticos, indo ao encontro das nossas raízes ibéricas e de gastronomia mediterrânica", acrescenta.
A jornada desta startup já leva alguns anos, tendo sido necessário resolver aspetos jurídicos e de licenciamento da atividade, desenvolver um plano de negócios ou participar em programas de aceleração. Entretanto, a implementação de sistemas de aquaponia em clientes já permitiu testar, melhorar e validar as tecnologias desenvolvidas pela equipa. Agora é tempo de arrancar com a primeira unidade em grande escala do Fish n’ Greens, na cidade de Torres Vedras. Para tal, a startup está neste momento a finalizar negociações com um fundo de investimento internacional para garantir o financiamento necessário para o investimento, de cerca de 5 milhões de euros. "Esta primeira unidade permitirá produzir anualmente cerca de 120 toneladas de peixe e 400 toneladas de vegetais com certificação de sustentabilidade", avança.
Para esta startup, as maiores dificuldades têm sido os aspetos legais, de licenciamento e burocráticos. "O setor alimentar é particularmente próspero num complexo entrelaçado de legislação e formalidades, o que favorece as corporações já estabelecidas, que dispõem de gabinetes jurídicos e de estruturas já preparadas, em detrimento daqueles que estão a entrar no mercado", critica o empreendedor. E acrescenta que a morosidade das decisões em processos de licenciamento tem sido um obstáculo ao desenvolvimento de alguns dos projetos, "com clientes estrangeiros a desistirem de prosseguir com projetos pela espera de mais de três anos relativamente ao licenciamento camarário para a utilização do terreno".
Em termos de apoio, a startup conseguiu encontrá-lo junto do Município de Torres Vedras, que ofereceu instalações para a incubação física da empresa, e conseguiu apoio de programas de aceleração como o EIT Climate-KIC, Food Accelerator Network do EIT Food, o Circular4Good (Fundo Ambiental), e do programa Blue Bio Value. Participaram também no Ignition Programme e estão agora à procura de apoio financeiro público para prosseguir com o investimento na primeira unidade em grande escala.
Nascida em Portugal, também esta startup tem ambições mundiais. Depois de implementar no país diversas unidades de produção, pretende conquistar mercados além-fronteiras.
Entretanto, uma nova Lei das Startups, aprovada pelo Parlamento em março passado, traz novas regras a estas empresas, com algumas delas a entrarem em vigor só em novembro próximo ou em janeiro de 2024. A nova lei vem ajudar as startups a enquadrar o seu estatuto e a incentivar o investimento em I&D. Para Miguel Sousa, o novo regime "vem contribuir de forma positiva para melhorar o ecossistema empreendedor nacional". "Mais atratividade para empreendedores e investidores, nacionais e internacionais. Vale a pena destacar duas medidas que podem influenciar de forma positiva o ecossistema: o regime de incentivos fiscais à aquisição de participações sociais de startups e o reforço do sistema de incentivos fiscais em investigação e desenvolvimento empresarial (SIFIFE II)", destaca.
Surgem já com uma matriz de preocupações energéticas, redução do desperdício, fomento da economia circular ou respeito pelos direitos humanos. "As startups desta área nascem com uma missão relacionada com a sustentabilidade, enquanto as empresas já existentes procuram modificar o seu modelo de negócio, ou ‘modus operandi’, no sentido da sustentabilidade. Isto faz uma diferença grande, dando um papel de relevo às startups, não só no que respeita às suas ofertas para o mercado, como no apoio ao processo de transição das outras empresas, particularmente das grandes e médias", salienta Miguel Henriques, professor na Porto Business School.
Segundo a Comissão Europeia, em 2021, foram investidos em startups na área da sustentabilidade 8,8 mil milhões de euros, por comparação com os 4,7 mil milhões de 2020. "Isto mostra como o fenómeno está a crescer de forma avassaladora", destaca o também coordenador do Ignition Programme, um programa de ignição de empresas da Porto Business School para desenvolver ideias para uma economia mais sustentável.
Embora não existam estatísticas específicas sobre startups verdes em Portugal, esta expansão também é visível no país. Miguel Sousa, CEO da Inova+, empresa que trabalha na área dos estudos ligados à inovação, salienta que "nos últimos anos tem havido um aumento significativo no número de startups dedicadas à sustentabilidade em áreas como energias renováveis, eficiência energética, economia circular, gestão de resíduos, agricultura sustentável ou mobilidade". Desta forma, com "um papel cada vez mais importante no tecido empresarial português", já se torna "evidente o contributo destas startups para a transição para uma economia mais verde e sustentável, ao mesmo tempo em que impulsionam o crescimento económico e a criação de empregos", acrescenta.
As "green startups" são promissoras como vetores de inovação, mas como qualquer empresa, para serem bem-sucedidas, terão de ser financeiramente viáveis. "Modelos de negócio inovadores são essenciais para a sustentabilidade das ‘green startups’, porque envolve identificar as fontes de receita que normalmente não são consideradas, entender os custos envolvidos, considerar o esforço financeiro necessário para a sua diferenciação e estabelecer uma estratégia clara para obter retorno financeiro", destaca o CEO da Inova+.
Miguel Henriques, da Porto Business School, considera que na atualidade "ser verde já não é sinónimo de falta de rendibilidade ou viabilidade". "É certo que muitas tecnologias verdes são particularmente caras de desenvolver e adotar, mas isso acontece com qualquer tecnologia inovadora". Neste sentido, aconselha as startups a procurarem todas as formas de financiamento que as ajudem a desenvolver as suas soluções e a estabelecer parcerias com grandes empresas, que podem ajudar os inovadores a desenvolver e testar as suas soluções.
À procura de apoio
Existem diversos programas que apoiam estas startups, alguns deles específicos para as startups verdes, como o Green Vouchers, da Startup Portugal, o Ignition Programme, da Porto Business School, ou o Clean Future, da StartupLisboa. A nível europeu, o programa EIC Accelerator, do Horizon Europe, apoia o desenvolvimento de projetos empresariais disruptivos alinhados com os desafios identificados no Pacto Ecológico Europeu. A dificuldade será saber navegar neste mundo de forma a aceder aos diversos esquemas de financiamento disponibilizados.
Mas não são só os programas que podem ajudar a alavancar uma startup. A relação com grandes empresas pode ser uma solução "win-win", no sentido em que as startups são apoiadas na sua jornada e as empresas estabelecidas beneficiam da inovação, flexibilidade, rapidez e frescura destes novos agentes económicos. "Hoje, mais do que nunca, tem de se trabalhar em rede e, por isso, a chave do sucesso é a qualidade do ecossistema, alargar tanto quanto possível as parcerias", defende o docente Miguel Henriques.
Miguel Sousa também vê nas parcerias uma relação de sucesso: "Acredito que são negócios que necessitam do estabelecimento de parcerias estratégicas sólidas, com a academia, empresas estabelecidas no setor, organizações sem fins lucrativos ou até mesmo parcerias público-privadas".
Porém, criar uma empresa exige todo um esforço da própria iniciativa e também para convencer um mercado conservador como o português, com tendência para desconfiar do que é desconhecido, como o caracteriza Miguel Henriques. E isto coloca dificuldades acrescidas, nomeadamente ao nível do investimento. "As empresas arriscam pouco na adoção de processos ainda não dominados e os investidores têm um perfil menos profissionalizado do que noutros mercados. A maior dificuldade continua a ser o acesso ao financiamento privado e sustentável para as fases de crescimento das startups. Isto agrava-se para as startups que atuam na área da sustentabilidade ou impacto social", explica o professor da Porto Business School.
Assim, o acesso ao investimento, a entrada no mercado, a entrada em infraestruturas de testes e experimentação são algumas das barreiras a ultrapassar. Ainda assim, frisa Miguel Sousa, "o ecossistema empreendedor nacional evoluiu muito nos últimos anos, incluindo novos negócios ligados à economia verde".
O responsável da Inova+ lembra que "investir numa startup é considerado arriscado, uma vez que muitas delas não sobrevivem ao conhecido vale da morte". "Alguns investidores inibem-se em investir em empresas que ainda estão à procura de fazer a primeira venda e de terem a validação do mercado em relação à sua proposta de valor", diz. De forma a mitigar esta desconfiança, destaca, "é importante que as startups desenvolvam outras variáveis de análise, como o valor criado, evolução das vendas, qualidade da equipa, experiência e capacidade de responder a problemas que possam surgir". "Investidores precisam de confiança e as startups devem trabalhar estes elementos para transmitir essa confiança."
Como ser uma startup sustentável
O objetivo final das "green startups" será criar produtos e serviços benéficos tanto para os consumidores como para os negócios e o meio ambiente. Os trajetos da Bambu Bycicles e da Fish n’ Greens também se iniciaram com esta premissa.
Joana Saavedra, cofundadora da Bambu Bycicles, conta que a ideia surgiu por acreditarem no potencial das fibras naturais para contribuir para um mundo mais amigo do ambiente. "O nosso objetivo é oferecer bicicletas feitas de bambu e fibra de cânhamo, recursos renováveis e sustentáveis, como uma alternativa ecológica ao transporte convencional", conta.
Atualmente, estão na fase de lançamento do negócio, com uma produção inicial de bicicletas de bambu. "Para viabilizar o negócio, estamos focados em investir em campanhas de marketing para aumentar a consciencialização sobre o bambu como fibra e compósito natural e os benefícios das nossas bicicletas. Procuramos parcerias estratégicas com o turismo (hotéis, agências, etc.), municípios, lojas de bicicletas e outras empresas afins para expandir a nossa presença no mercado", explica. Dada a procura de mercado, estão já a pensar diversificar a linha de produtos oferecendo no futuro uma bicicleta elétrica e outros modelos para atender às diferentes necessidades do mercado.
Mas quais são as maiores dificuldades para desenvolver uma startup? Joana Saavedra destaca angariar o capital inicial para investigação e desenvolvimento (I&D). "Trabalhar um material desconhecido em Portugal, onde ainda não existe uma indústria do bambu estabelecida, não facilita", desabafa. Também a consciencialização do público sobre as vantagens do produto é referida como demorada.
O investimento inicial foi dos próprios, seguido dos chamados FFF ("family, friends and fools" - trad.: família, amigos e tolos). Tiveram também alguns apoios do Município de Anadia com o Invest Anadia e prémio do Tourism Creative Factory. E, neste momento, estão à espera dos resultados do Startup Voucher.
Dada a dificuldade em afirmar-se em Portugal, esta startup pretende expandir-se para mercados internacionais, com destaque para países europeus com uma mentalidade "eco-friendly" e amantes do ciclismo urbano. E o sonho é grande: "Almejamos ser referência no segmento de bicicletas sustentáveis, expandindo a nossa linha de produtos e serviços para atender às necessidades de ciclistas urbanos conscientes em todo o mundo", conta a empreendedora.
Numa outra área, a alimentar, a Fish n’ Greens também nasceu com a sustentabilidade no seu ADN. A startup aposta num projeto de aquaponia que combina a produção simbiótica e orgânica de vegetais e peixe utilizando as tecnologias que desenvolveu nos últimos anos. "O projeto alia a experiência da equipa e sua motivação com as atuais necessidades ambientais e tendências de consumo, contribuindo significativamente para um conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável", explica João Cotter, CEO e fundador do projeto Fish n’ Greens.
Embora a motivação para o bem maior social e ambiental seja muito forte entre os cofundadores, João Cotter destaca que "há também uma necessidade económica associada ao projeto, pois a racionalização de recursos, como a água e os fertilizantes, permitem significativas poupanças económicas, assim como viabilizar o projeto em regiões onde esses recursos são cada vez mais escassos". "Há uma combinação de circularidade, produção local, sustentabilidade e organicidade na produção de alimentos naturais, saudáveis e isentos de pesticidas e fertilizantes sintéticos, indo ao encontro das nossas raízes ibéricas e de gastronomia mediterrânica", acrescenta.
A jornada desta startup já leva alguns anos, tendo sido necessário resolver aspetos jurídicos e de licenciamento da atividade, desenvolver um plano de negócios ou participar em programas de aceleração. Entretanto, a implementação de sistemas de aquaponia em clientes já permitiu testar, melhorar e validar as tecnologias desenvolvidas pela equipa. Agora é tempo de arrancar com a primeira unidade em grande escala do Fish n’ Greens, na cidade de Torres Vedras. Para tal, a startup está neste momento a finalizar negociações com um fundo de investimento internacional para garantir o financiamento necessário para o investimento, de cerca de 5 milhões de euros. "Esta primeira unidade permitirá produzir anualmente cerca de 120 toneladas de peixe e 400 toneladas de vegetais com certificação de sustentabilidade", avança.
Para esta startup, as maiores dificuldades têm sido os aspetos legais, de licenciamento e burocráticos. "O setor alimentar é particularmente próspero num complexo entrelaçado de legislação e formalidades, o que favorece as corporações já estabelecidas, que dispõem de gabinetes jurídicos e de estruturas já preparadas, em detrimento daqueles que estão a entrar no mercado", critica o empreendedor. E acrescenta que a morosidade das decisões em processos de licenciamento tem sido um obstáculo ao desenvolvimento de alguns dos projetos, "com clientes estrangeiros a desistirem de prosseguir com projetos pela espera de mais de três anos relativamente ao licenciamento camarário para a utilização do terreno".
Em termos de apoio, a startup conseguiu encontrá-lo junto do Município de Torres Vedras, que ofereceu instalações para a incubação física da empresa, e conseguiu apoio de programas de aceleração como o EIT Climate-KIC, Food Accelerator Network do EIT Food, o Circular4Good (Fundo Ambiental), e do programa Blue Bio Value. Participaram também no Ignition Programme e estão agora à procura de apoio financeiro público para prosseguir com o investimento na primeira unidade em grande escala.
Nascida em Portugal, também esta startup tem ambições mundiais. Depois de implementar no país diversas unidades de produção, pretende conquistar mercados além-fronteiras.
Entretanto, uma nova Lei das Startups, aprovada pelo Parlamento em março passado, traz novas regras a estas empresas, com algumas delas a entrarem em vigor só em novembro próximo ou em janeiro de 2024. A nova lei vem ajudar as startups a enquadrar o seu estatuto e a incentivar o investimento em I&D. Para Miguel Sousa, o novo regime "vem contribuir de forma positiva para melhorar o ecossistema empreendedor nacional". "Mais atratividade para empreendedores e investidores, nacionais e internacionais. Vale a pena destacar duas medidas que podem influenciar de forma positiva o ecossistema: o regime de incentivos fiscais à aquisição de participações sociais de startups e o reforço do sistema de incentivos fiscais em investigação e desenvolvimento empresarial (SIFIFE II)", destaca.