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Fim de festa

O primeiro-ministro aproveitou os derradeiros dias da Presidência Portuguesa para prolongar o seu estado de graça a nível europeu. Deu uma entrevista ao diário francês “Libération” e abriu as portas da sua vida privada ao jornal espanhol “El País”. Depois

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Compreende-se, mas é a vida. Está na hora de começar a apanhar as canas porque a realidade está feia e o próximo ano não vai ser fácil. Sobretudo na frente económica.

Em caso de dúvida, basta observar o volume atingido ontem pela injecção de liquidez no mercado monetário protagonizada pelo Banco Central Europeu. O número, por si só, impressiona: 348 mil milhões de euros. É a soma mais alta alguma vez oferecida no mercado pela autoridade monetária da “Eurolândia”, e a uma taxa de juro reduzida, para acorrer à escassez de fundos que caracteriza a actual crise financeira. Num só dia, a instituição colocou à disposição dos bancos que estivessem necessitados um valor superior à soma de dois anos inteiros de produção portuguesa. É muito dinheiro para tentar resolver os problemas daquilo que se chegou a pensar não se tratar de mais do que uma mera tempestade de Verão que depressa estaria de partida.

Perante tamanha avalanche, um economista da Goldman Sachs afirmou que o BCE decidiu fazer de Pai Natal para as instituições financeiras que não ajustaram os seus balanços às novas realidades. Por outras palavras, presentes como os que foram ontem entregues estariam a ser utilizados para disfarçar perdas e adiar o momento de as assumir. Se assim for, não há remédio que não seja meramente temporário. Mais tarde ou mais cedo, os riscos que agora estiverem a ser varridos para debaixo do tapete hão-de ver a luz do dia. A volatilidade nos mercados e a desconfiança que os vai minando são um indicador de que os investidores não querem acreditar na eficácia e boas intenções da figura que, por esta época do ano, costuma descer pelas chaminés, ainda que, em 2007, surja vestida de banqueiro central.

Um mal raramente vem só. E as aspirinas reforçadas do BCE ameaçam revelar-se insuficientes para cortar a corrente que começa a transmitir os efeitos da crise financeira à economia real. O dólar débil, um euro forte, os preços do petróleo e dos bens alimentares em subida e taxas de juro ajustadas em alta a uma fase de restrições no crédito, penalizando empresas e famílias, são muita areia para uma camioneta que enfrenta a ameaça de uma crise global. Em Washington, fala-se em nuvens negras, sopradas pelo sector imobiliário onde se acumulam imóveis por vender e preços em baixa. Em Bruxelas, reconhece-se que a confiança no futuro próximo já conheceu melhores dias e que a Zona Euro vai arrefecer mais do que aquilo que se previa. Não são boas notícias.

A experiência indica que não há Presidência Europeia que, uma vez terminada, não force os líderes portugueses a enfrentarem uma maré de dificuldades económicas. Será apenas uma infeliz coincidência, mas foi o que sucedeu a Cavaco Silva, em 1992, e a António Guterres, em 2000. José Sócrates entra na recta final do seu mandato apertado por uma conjuntura que não encontrará cura milagrosa na retórica do optimismo. A festa acabou. E o que vem aí parece não ser muito “porreiro, pá”.

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