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14 de Setembro de 2007 às 13:59

Da ética

A equipa que não devolve a bola, o seleccionador que esmurra, a Fórmula 1 que espiona, a empresa de “rating” que esconde, as empresas que se encavalitam à frente das câmaras oferecendo computadores, o Governo que distribui benefícios fiscais irrelevantes.

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No desporto, Scolari não tem nem desculpa, nem outra saída que não seja a porta da rua – a relação amor-ódio entre o brasileiro e Portugal atingiu, esperemos, o ponto de não retorno. Segundos antes do soco fatal, os próprios jogadores tinham decidido não devolver a bola jogada para fora pela Sérvia. Na Fórmula 1, um escândalo sem precedentes ditou ontem a exclusão da McLaren do Mundial que liderava, por espionagem comprovada sobre a Ferrari, agora putativa campeã.
 
Mas continue a ler. Veja como são agora as empresas de “rating” que estão sob forte suspeita de terem escondido os riscos reais dos mercados, atribuindo notações às dívidas das empresas que fizeram os investidores crer que os balanços estavam mais sólidos do que na verdade estavam. Da mesma forma que grandes auditoras foi coniventes com os escândalos da Enron ou da WorldCom, o Banco Central Europeu insinua que agora são as agência de “rating” a funcionar como branqueadoras de casos de fragilidade financeira. Não há acusações de dolo, desta vez (ou por enquanto), mas quando os mercados passam a duvidar daqueles cuja razão de existir é precisamente carimbar atestados de credibilidade, o sistema fica doente. A crise do “subprime”, que nasceu no mercado de crédito à habitação de alto risco nos Estados Unidos e cuja extensão não está ainda medida, esteve camuflada a coberto dessas análises incompetentes.

Mas há mais. Leia a corretora que foi multada pela CMVM por violação grave e reiterada de deveres. Leia a inutilidade dos benefícios fiscais ao Interior publicitados há uma semana pelo primeiro-ministro: a descida do IRC custa quase nada ao Estado, sendo portanto uma medida fácil e politicamente correcta, mas abrange uma população de PME em que metade tem prejuízo e a metade que paga imposto paga já pouco. Não há nem uma evidência de que este tipo de medidas retenha ou atraia investimento para o Interior, nem o Governo sequer tem informação que permita concluir a que última descida de IRC neste sentido, em 1999, tenha tido qualquer sucesso. Aliás, este anúncio de Sócrates vem contra as recomendações de estabilização do sistema fiscal e do grupo de trabalho que, há um ano, procedeu à revisão do Estatuto dos Benefícios Fiscais, pretendendo eliminar quaisquer benefícios que não tivessem resultados extrafiscais comprovadamente positivos. O contrário, portanto, do que o Governo agora decidiu.

Em matéria de impostos, aliás, o pano dá para mangas. Lembra-se de ver Manuela Ferreira Leite jurar que a reforma da tributação do património (que substituiu a Contribuição Autárquica e a Sisa pelo IMI e pela IMT) não ia aumentar a carga fiscal? Três anos depois, o resultado está à vista: a cobrança pelo Estado (ou seja, o pagamento pelos contribuintes) não pára de aumentar. Mais 20% no primeiro semestre deste ano. Porquê? Por causa da reavaliação dos imóveis que essa reforma viabilizou. Por isso, quando lhe dizem que a reforma da tributação automóvel de 1 de Julho vai baixar os impostos que paga, duvide, duvide muito...

Que sina celerada, a nossa. Morremos de vergonha pela imagem que Scolari projecta de Portugal no seu irreflectido murro e indignamo-nos com a mancha que o caso McCann alastra globalmente sobre nós. Mas serão mesmo só as aparências que estão a falhar?

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