Opinião
O fogo e as cinzas
A demissão da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, resolve o problema dos fogos? Não. No entanto, a sua saída do Governo impõe-se.
Primeiro, porque está no topo da hierarquia daqueles que têm responsabilidades no combate aos incêndios. Depois, sendo um problema, não pode fazer parte das soluções que o primeiro-ministro, António Costa, prometeu começar a construir já a partir do próximo sábado, dia em que se realizará um Conselho de Ministros extraordinário exclusivamente dedicado à temática da prevenção de incêndios.
É irrelevante evocar as infelizes declarações da ministra - "para mim seria mais fácil, pessoalmente, ir-me embora e ter as férias que não tive" - para argumentar a favor da sua demissão. Relevantes são os factos e estes apontam para uma gestão deficiente. Por exemplo, o de o Estado ter perdido 29 meios aéreos para combate aos incêndios desde o início de Outubro, por fim de contrato, tal como o Público noticiou ontem. Ou de a Autoridade Nacional da Protecção Civil ter decidido, pela mesma altura, reduzir o número de efectivos disponíveis para responder às ocorrências. São escolhas que têm de ser avaliadas à luz dos resultados - e os resultados de domingo e segunda-feira (mortos e área ardida) foram uma catástrofe medonha.
E são estes factos que tornam a saída de Constança Urbano de Sousa inadiável.
De igual forma, bem pode o primeiro-ministro pregar sobre a necessidade de os privados tratarem da floresta, quando o próprio Estado dá um mau exemplo da gestão da coisa pública, como o demonstra o facto de 80% do pinhal de Leiria, cuja gestão pertence ao Instituto Nacional de Conservação da Floresta, ter ardido durante o fim-de-semana. E não foi por falta de aviso.
António Costa afirmou que não é tempo de demissões, mas sim de soluções. Ora, para encontrar soluções é preciso ter pessoas que as protagonizem e Constança Urbano de Sousa não tem condições para o fazer. Nem políticas, nem psicológicas, como o demonstra o deslocado desabafo sobre as férias.
Também por isso, politicamente, faz sentido o CDS ter anunciado que irá apresentar uma moção de censura, considerando que "o Estado falhou na prevenção e no combate" aos incêndios.
Os 350 mil hectares de área ardida em Portugal são, por estes dias, o largo que Manuel da Fonseca descreveu em "O Fogo e as Cinzas". "Antigamente, o Largo era o centro do mundo. Hoje é apenas um cruzamento de estradas, com casas em volta e uma rua que sobe para a Vila. O vento dá nas faias e a ramaria farfalha num suave gemido, o pó redemoinha e cai sobre o chão deserto. Ninguém. A vida mudou-se para o outro lado da Vila."
E já não volta.
É irrelevante evocar as infelizes declarações da ministra - "para mim seria mais fácil, pessoalmente, ir-me embora e ter as férias que não tive" - para argumentar a favor da sua demissão. Relevantes são os factos e estes apontam para uma gestão deficiente. Por exemplo, o de o Estado ter perdido 29 meios aéreos para combate aos incêndios desde o início de Outubro, por fim de contrato, tal como o Público noticiou ontem. Ou de a Autoridade Nacional da Protecção Civil ter decidido, pela mesma altura, reduzir o número de efectivos disponíveis para responder às ocorrências. São escolhas que têm de ser avaliadas à luz dos resultados - e os resultados de domingo e segunda-feira (mortos e área ardida) foram uma catástrofe medonha.
De igual forma, bem pode o primeiro-ministro pregar sobre a necessidade de os privados tratarem da floresta, quando o próprio Estado dá um mau exemplo da gestão da coisa pública, como o demonstra o facto de 80% do pinhal de Leiria, cuja gestão pertence ao Instituto Nacional de Conservação da Floresta, ter ardido durante o fim-de-semana. E não foi por falta de aviso.
António Costa afirmou que não é tempo de demissões, mas sim de soluções. Ora, para encontrar soluções é preciso ter pessoas que as protagonizem e Constança Urbano de Sousa não tem condições para o fazer. Nem políticas, nem psicológicas, como o demonstra o deslocado desabafo sobre as férias.
Também por isso, politicamente, faz sentido o CDS ter anunciado que irá apresentar uma moção de censura, considerando que "o Estado falhou na prevenção e no combate" aos incêndios.
Os 350 mil hectares de área ardida em Portugal são, por estes dias, o largo que Manuel da Fonseca descreveu em "O Fogo e as Cinzas". "Antigamente, o Largo era o centro do mundo. Hoje é apenas um cruzamento de estradas, com casas em volta e uma rua que sobe para a Vila. O vento dá nas faias e a ramaria farfalha num suave gemido, o pó redemoinha e cai sobre o chão deserto. Ninguém. A vida mudou-se para o outro lado da Vila."
E já não volta.
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