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25 de Dezembro de 2013 às 23:30

Reforçar a economia global

Em 2013, a economia mundial manteve-se suspensa entre os pólos da esperança e da incerteza. Enquanto a retoma ganhou balanço, particularmente em algumas economias avançadas, a economia mundial ainda não está a voar com todos os motores – e é provável que também se mantenha com pouca força no próximo ano.

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O último boletim de previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) coloca o crescimento do produto interno bruto (PIB) mundial em 3,6% em 2014, o que é razoável, mas ainda assim abaixo do crescimento potencial de cerca de 4%. Por outras palavras, o mundo ainda podia gerar muitos mais empregos sem alimentar uma pressão inflacionária.

Isto significa que os membros do FMI – quer sejam economias avançadas, emergentes ou em desenvolvimento – têm mais trabalho a fazer. Uma recuperação forte e duradoura que levante todos os países e todas as pessoas obriga os decisores políticos a pressionar em todas as frentes – orçamental, estrutural e financeira. Ao mesmo tempo, a comunidade internacional deve revigorar os esforços para fortalecer a cooperação através do G-20, do FMI e de outros actores. De facto, apenas através de tal colaboração é que seremos capazes de ultrapassar o impacto duradouro da crise global.

Não há dúvida que nos últimos cinco anos evitámos o pior cenário possível (a Grande Depressão II), graças aos esforços dos decisores políticos mundiais – particularmente a determinação dos bancos centrais para manterem as taxas de juro globais baixas e para apoiarem o sistema financeiro, em conjunto com estímulos orçamentais em alguns países. Mas chegou a hora de fazer mais, o que inclui usar o espaço criado por políticas monetárias pouco convencionais para implementar reformas estruturais que podem reavivar o crescimento e criar empregos.

O que acontece nas economias avançadas é essencial para as perspectivas globais; e apesar de terem tido um melhor desempenho recentemente, os riscos de estagnação e deflação continuam a dar sinais preocupantes. Os bancos centrais só devem voltar a políticas monetárias mais convencionais quando estivermos a caminho de um crescimento robusto.

Os Estados Unidos têm sido desde há muito o principal motor da economia mundial, e, lá, a procura privada voltou a ganhar vigor. Mas os principais desafios ainda estão para chegar. Por exemplo, é extremamente importante que os decisores políticos prossigam o recente acordo orçamental e acabem com a luta política sobre o futuro orçamental do país. Uma maior certeza sobre a direcção das políticas pode recolocar o crescimento num nível que poderia levantar toda a economia mundial.

No Japão, a retoma foi estimulada por um misto de políticas monetárias e orçamentais agressivas, conhecidas como "Abenomics". Trata-se de um desenvolvimento importante. O desafio agora é acordar os ajustes orçamentais a médio prazo e implementar as reformas estruturais – incluindo a desregulação dos mercados de produtos e serviços e criar medidas para aumentar a percentagem de mulheres nos locais de trabalho – que são necessárias para tornar o crescimento sólido e acabar finalmente com o espectro da deflação.

A Europa também está num ponto crítico. A Zona Euro está finalmente a mostrar sinais de recuperação, mas o crescimento é desigual e desequilibrado. Apesar de em muitos países as coisas estarem a correr bem, a procura, no geral, continua fraca, e o desemprego na periferia continua teimosamente alto, particularmente entre os jovens. Uma área de incerteza para a Europa é a saúde dos seus bancos. Os testes de stress e a avaliação da qualidade dos activos que aí vêm podem ajudar a repor a confiança e fazer avançar a integração financeira, mas apenas se forem bem conduzidos. A Europa também precisa de aumentar a procura, fortalecer a sua arquitectura financeira e orçamental e avançar com reformas estruturais para garantir um crescimento sustentável e a criação de empregos.

Ao longo da última meia década, os mercados emergentes estiveram na vanguarda da retoma económica: em conjunto com os países em desenvolvimento, eles foram responsáveis por três quartos do crescimento do PIB mundial. Mas o impulso destas economias abrandou em 2013, quando a incerteza sobre o momento para a normalização da política monetária nos EUA coincidiu com as dúvidas sobre a sustentabilidade do seu rumo de crescimento.

Apesar de os piores medos se terem desvanecido, as economias emergentes enfrentam novos desafios de políticas. Na resposta à fraca procura, os decisores políticos devem estar atentos aos excessos financeiros, especialmente na forma de bolhas de activos ou de aumento de dívidas. Também devem concentrar-se no fortalecimento da regulação financeira, para controlar os ciclos de crédito e os fluxos de capital de forma mais eficaz, e para restabelecer espaço orçamental de manobra.

Os países com baixos salários também têm tido um lugar de destaque na economia global nos últimos cinco anos. Provaram ser resilientes a enfrentar a crise, e muitos – especialmente em África, onde a produção anual cresceu cerca de 5% em 2013 – estão a desfrutar de um forte crescimento. Agora é tempo de capitalizar estes ganhos, através, em primeiro lugar, do reforço da capacidade de estes países gerarem receitas. Com a procura dos mercados emergentes a enfraquecer, os países de baixos salários devem reforçar as suas defesas contra uma grave desaceleração da economia, mesmo que continuem a concentrar a sua despesa em programas sociais e a projectar infra-estruturas.

Os países em transição do Médio Oriente enfrentam desafios adicionais na forma de instabilidade social e incerteza política. Estes problemas devem ser abordados ao lançar as bases para economias dinâmicas e transparentes, ao promover um crescimento mais inclusivo e ao assegurar um apoio contínuo da comunidade internacional.

Apesar de os desafios variarem entre países e regiões, muitos problemas comuns devem ser abordados nos anos que aí vêm. Demasiados países enfrentam um legado de dívidas públicas e privadas elevadas, de desequilíbrios orçamentais e externos e de modelos de crescimento que são incapazes de gerar o emprego suficiente. A comunidade internacional também precisa de completar as reformas regulatórias necessárias para criar um sistema financeiro mais seguro, que apoie melhor as necessidades da economia real.

Estes não são desafios abstractos. Só se os abordarmos é que conseguiremos assegurar prosperidade no futuro, numa altura em que milhares de milhões de pessoas têm objectivos cada vez maiores – encontrar emprego, sair da pobreza, e um dia fazer parte da classe média global.

Em 2014 precisamos de dar os passos que ajudem a fazer deste sonho uma realidade. O FMI compromete-se a trabalhar com os seus 188 países membros para definir e implementar as medidas que podem dar força aos motores do crescimento – e fazer levantar toda a gente para uma prosperidade renovada.

 

Christine Lagarde é directora-feral do Fundo Monetário Internacional

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2013.
www.project-syndicate.org
Tradução: Bruno Simões

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