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27 de Março de 2014 às 14:42

Os testes da Polónia para a Zona Euro

Os novos Estados da Europa Central e Oriental que são membros da União Europeia devem entrar para Zona Euro como parte dos seus acordos de adesão. Mas decidir quando adoptar o euro é assunto para um debate aceso.

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Está em jogo não apenas um cálculo económico, mas também um julgamento sobre as perspectivas da própria moeda única. Para muitos, os benefícios da adesão têm diminuído desde a crise financeira e os candidatos a membros, como a Polónia, podem obter a máxima vantagem de aderirem apenas se conhecem claramente as condições económicas que primeiro devem prevalecer nos seus países.

 

Os critérios oficiais para a entrada fazem parte do Tratado de Maastricht de 1992, que define objectivos para a dívida do governo, défice orçamental, inflação, taxas de juro e taxas de câmbio. Mas ficou demonstrado que a simples obtenção destes objectivos (ou, pior, apenas aproximar-se deles) num dado momento no tempo não é um fundamento suficiente para a adesão. De facto, a maleabilidade dos critérios de Maastricht tem causado muitos dos problemas da Zona Euro. Enquanto a dívida da Zona Euro continuar a aumentar e as economias-membro divergirem em vez de convergirem, os países candidatos devem também ser alvo de testes de stress para verem se podem lidar com choques externos e manter a longo prazo o cumprimento dos critérios para a adesão.

 

Antes da Polónia decidir partilhar uma moeda com os seus principais parceiros de comerciais, deve considerar três condições económicas fundamentais: a sua competitividade internacional, a flexibilidade do seu mercado laboral e a riqueza das suas finanças públicas.

 

Os mercados de exportação da Polónia crescem de forma estável. Mas isto não acontece porque o país negoceia sobretudo com outras economias emergentes dinâmicas ou porque há uma grande procura mundial por produtos exclusivamente da Polónia. Pelo contrário, a Polónia simplesmente combina baixos custos (incluindo salários) com uma produção de elevada qualidade. Por esta razão, a Polónia é, por vezes, chamada a “China da Europa”.

 

Mas a competitividade baseada no custo, em vez do valor da marca ou inovação, faz da economia polaca vulnerável. A Polónia não tem uma competitividade profundamente enraizada como, por exemplo, a Alemanha, Holanda, Áustria, Suécia ou Suíça. As exportações polacas são vendidas com nomes não-polacos (italianos para os sapatos, por exemplo, ou ingleses para a roupa). As exportações de máquinas fazem parte de redes multinacionais maiores geridas por empresas alemãs, holandesas ou outras empresas mundiais. E a vantagem dos custos da Polónia desapareceria se o zloty se fortalecesse acentuadamente.

 

Embora as empresas polacas estejam a esforçar-se muito para construírem as suas marcas no estrangeiro, isso pode demorar décadas. Entretanto, o país deve ser cauteloso na hora de aderir ao mecanismo de taxa de câmbio – a banda estreita dentro da qual as moedas dos países candidatos devem negociar durante pelo menos dois anos antes de adoptar o euro. Fazê-lo levaria o zloty a ganhar força, como o fez a coroa eslovaca, e acabar com a vantagem competitiva da Polónia.

 

Outro aspecto importante da competitividade da Polónia é o seu mercado laboral flexível. Um em cada quatro trabalhadores não tem contrato fixo ou é autónomo. Um quarto do salário polaco típico inclui elementos variáveis, o que torna mais fácil que seja congelado ou mesmo reduzir a remuneração em períodos económicos mais difíceis. Isso significa que as empresas podem contratar trabalhadores com contratos de curto prazo quando estão inseguros em relação às perspectivas para o negócio; mas, geralmente, esta flexibilidade ajuda a economia a lidar com choques externos.

 

Mas mercados laborais flexíveis têm desvantagens também. As empresas tendem a não investir em talentos ou desenvolver novas capacidades e a qualidade das capacidades actuais pode ser afectada. No longo prazo, os mercados laborais flexíveis podem aumentar o desemprego estrutural e impulsionar a economia informal.

 

Além disso, a escassez do mercado de arrendamento residencial na Polónia limita a capacidade dos trabalhadores se moverem para onde estão os empregos. Não há dúvidas que o mercado laboral da Polónia é mais semelhante ao de Espanha do que ao da Escandinávia, onde uma protecção social generosa permite um amplo treino dos trabalhadores.

 

Por último, a Polónia precisa de finanças públicas sólidas – ou seja, margem orçamental para estabilizadores automáticos durante crises económicas. Ao poupar dinheiro para os tempos difíceis, o governo pode implementar medidas anti-cíclicas, enquanto assegura finanças estáveis ao longo de todo o ciclo económico.

 

E esta política foi implementada de forma bem-sucedida em 2009 e 2010, mas o governo não tinha os fundos de que precisava quando as condições económicas se deterioraram em seguida. Finanças públicas sólidas requerem não apenas uma reduzida dívida pública, mas também uma política orçamental apropriada, o que inclui cortar os gastos (ou aumentar os impostos) durante os períodos de crescimento, não durante os períodos de quebra, como aconteceu recentemente.

 

Uma competitividade ampla, mercados laborais verdadeiramente flexíveis e orçamentos prudentes não estão fora do alcance da Polónia. Em cada caso, há outros exemplos nacionais para imitar: a competitividade da Suíça, o mercado laboral da Dinamarca e as finanças públicas da Estónia, por exemplo. Antes de aderir à Zona Euro, a política económica da Polónia deve estar dirigida a estes três critérios de sucesso económico de longo prazo.

 

Marek Belka, antigo primeiro-ministro da Polónia e antigo director do Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional, é presidente do banco central da Polónia.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2014.
www.project-syndicate.org

Tradução: Raquel Godinho

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