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11 de Janeiro de 2015 às 20:41

Desastre e desenvolvimento

Quando o tufão Hagupit atingiu a costa das Filipinas a 6 de Dezembro, as memórias do tufão Haiyan, que matou mais de 6.300 pessoas, estavam frescas na memória das pessoas. Cerca de 227 mil famílias – mais de um milhão de pessoas – foram evacuadas antes da chegada do Hagupit, de acordo com as Nações Unidas.

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O tufão, um dos mais fortes da época, matou cerca de 30 pessoas. Todas as mortes por desastre são uma tragédia, mas o facto de este número não ser muito mais elevado comprova os esforços que as Filipinas têm feito para se prepararem para desastres naturais.

 

Como administradora do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, tenho visto em primeira mão a devastação e os danos emocionais causados pelos desastres à volta do mundo. Desde o início do século, mais de um milhão de pessoas morreram em tempestades como o Hagupit e outros grandes desastres, como o sismo de Haiti em 2010, com prejuízos económicos que totalizaram quase dois biliões de dólares.

 

Estas perdas são trágicas, mas são também evitáveis. Servem como recordação de que a preparação para os desastres não é um luxo opcional; é um processo constante e intenso que é necessário para salvar vidas, proteger infra-estruturas e salvaguardar o desenvolvimento.

 

O argumento para investir na preparação de desastres é simples. Se os países esperam sofrer embates naturais, como épocas de tempestades violentas ou sismos de grande intensidade, investir tempo e recursos na preparação de choques salvará vidas e protegerá as comunidades de outras perdas.

 

Infelizmente, os governos colocam frequentemente diferentes prioridades à frente da preparação para desastres. Com frequência têm precedência outros investimentos e os dadores têm historicamente financiado ajuda de emergência perante factos consumados muito mais rápido do que a preparação para os evitar. As medidas que são implementadas tendem a ser autónomas e fragmentadas, em vez de fazerem parte de um plano maior e sistemático de redução de riscos.

 

Isso precisa de mudar. Países como as Filipinas continuam a demonstrar os benefícios de investir na preparação, especialmente quando se faz no quadro de uma iniciativa de redução do risco de maior alcance. O tufão Hagupit é apenas o último acontecimento que demonstra isso.

 

A resposta rápida e eficaz do governo das Filipinas salvou muitas vidas. Mas é importante notar que estes esforços não foram simplesmente uma reacção da noite para o dia perante a tempestade que se aproximava. Faziam parte do esforço nacional bem planificado que estava a ser preparado muito antes. As autoridades foram sábias em reconhecer as vulnerabilidades do seu país e comprometer os recursos e capital necessários para desenvolver mecanismos de resistência.

 

As Filipinas incluíram a preparação como uma componente chave da sua estratégia geral para a redução do risco perante desastres. Ao longo da última década, as autoridades do país têm elevado o nível de consciencialização, criado e fortalecido instituições de gestão de desastres e têm-se esforçado para recuperar dos desastres do passado, incluindo o tufão Haiyan. Os planos nacionais e locais têm sido melhorados, têm sido desenvolvidos padrões de procedimento operacionais e têm sido colocados em funcionamento sistemas de alerta atempados. O resultado final foi uma verdadeira transformação da forma como as Filipinas reagem aos desastres.

 

A PDNU, e as Nações Unidas em geral, estão a apoiar os governos que colocam uma maior ênfase na redução dos riscos de desastres, incluindo a preparação, reforçando a sua capacidade institucional para planear e agir quando necessário. Além de prestar ajuda de emergência, é crucial que a comunidade internacional contribua para introduzir procedimentos básicos para responder muito antes de que ocorra o desastre.

 

Os socorristas, por exemplo, precisam de treino e ferramentas. Os refúgios de emergência e as rotas de evacuação devem ser planeadas e estabelecidas mediante avaliações de risco e simulações reais. Se é esperado que as comunidades façam uso dos recursos disponíveis, precisam de estar envolvidas no desenho e desenvolvimento de planos de emergência. A redução de risco, incluindo a preparação, é também, em primeiro lugar, enraizada no governo ágil. 

 

Em Março de 2015, um novo quadro mundial para a redução de desastres será acordado em Sendai, Japão. É crucial que os delegados pressionem uma mudança transformacional que permita a preparação e salve vidas. Além disso, a redução de risco precisa de estar integrada nas estratégias de desenvolvimento sustentável.

 

As Filipinas podem servir de exemplo. O arquipélago estará sempre no caminho de tempestades tropicais. Pouco podem fazer as autoridades em relação a isso. Mas o que eles podem fazer – e têm feito – é melhorar a redução do risco e reforçar a preparação e, assim, salvar vidas e resistir melhor. Isto é uma lição que todos nós devemos aprender.

 

Helen Clark, antiga primeira-ministra da Nova Zelândia, é administradora do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2014.
www.project-syndicate.org

Tradução: Raquel Godinho

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