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22 de Outubro de 2014 às 13:58

Constrói a tua própria Silicon Valley

A Califórnia pode ser o maior e mais conhecido hub de tecnologia, mas não está sozinho na tarefa de impulsionar start-ups inovadoras. De facto, tais empresas estão a surgir – quase despercebidas – por todo o lado, desde as megalópoles asiáticas, como Singapura e Xangai, até às pequenas cidades europeias como Espoo na Finlândia e Dwingeloo na Holanda. Muitas start-ups internacionais – incluindo a sueca Spotify, o Skype da Estónia e o Waze de Israel – e mais recentemente, o Alibaba da China – arrecadaram valorizações de milhares de milhões de dólares.

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Claramente, as características fundamentais de Silicon Valley que impulsionam a inovação e o empreendedorismo – uma densa concentração de talento humano, espirito competitivo, fácil acesso ao capital e um ambiente regulatório de apoio – podem ser replicadas e adaptáveis a uma ampla variedade de contextos. De facto, estes pilares de criatividade e progresso têm surgido em países cujas economias, políticas e culturas divergem da dos Estados Unidos da América (EUA).

 

Claro que nem todos os países abordam a inovação da mesma maneira. A Finlândia, por exemplo, detém o seu dinâmico cluster dos jogos de computador devido sobretudo a um movimento liderado por estudantes com um nível de educação elevado. Apesar da Rovio Entertainment ter lançado em 2009 o seu popular jogo de vídeo Angry Birds e ter catalisado o boom da inovação para Espoo, é a Universidade de Aalto – a instituição finlandesa equivalente à Universidade de Stanford – que continua a impulsionar a inovação nesta área, gerando programadores, designers e outros com os talentos necessários. Os estudantes de Aalto lançaram também a conferência de start-ups mais dinâmica da Europa, que junta mais de 10 mil empreendedores e investidores neste mês de Novembro.

 

Além disso, o programa de aceleração de start-ups, chamado Startup Sauna, ajuda empresas que estejam numa fase inicial a dar os primeiros passos na direcção do sucesso. Localizada na Universidade, as instalações deste programa assemelham-se aos escritórios da Google, mas com um toque finlandês: as salas de videoconferência foram construídas de forma a parecerem saunas. Desde a sua criação em 2010, 126 empresas graduaram-se da Startup Sauna, tendo angariado mais de 37 milhões de dólares em financiamento.

 

Actualmente, a Finlândia apoia mais de 200 start-ups de jogos, que exportam 90% dos seus produtos. De acordo com a universidade de Aalto, o sector finlandês dos jogos registou um crescimento de receitas de 260% entre 2012-2013, adicionando mil postos de trabalho e 1,5 mil milhões de dólares de valor total à economia finlandesa apenas no ano passado.

 

Na Holanda, o Governo tomou a liderança na promoção de actividades inovadoras. Há dois anos e meio, o Governo holandês associou-se à IBM e a um grupo de pequenas e médias empresas locais para lançar um grande hub de dados na distante vila do norte do país chamada de Dwingeloo, onde está localizado o Instituto de Radioastronomia da Holanda.

 

Tal como as iniciativas de Silicon Valley, este projecto junta tanto a academia como as empresas locais ricas em talento e as multinacionais que partilham do mesmo objectivo – neste caso, construir o maior radiotelescópio do mundo. Este esquipamento vai processar a analisar as ondas radioactivas recolhidas de mais de dois milhões de antenas individuais, permitindo aos investigadores a mapear a forma do universo até (esperam) 2020. A IBM dá o poder de processamento para os dados, enquanto as empresas holandesas locais estão a construir todas as componentes.

 

Além dos seus próprios objectivos específicos, a iniciativa pode ajudar a catalizar uma transformação mais ampla da cultura tecnológica da Holanda. Jan de Jeu, vice-presidente da Universidade de Groningen, antecipa que em Dwingeloo e no norte da Holanda vão ser formados mais cientistas e especialistas em tecnologias da informação para responder aos desafios fundamentais relacionados com o armazenamento, transferência e análise dos enormes conjuntos de dados e, por conseguinte, criando o que Jeu apelidou de "o vale da indústria de dados".

 

No sudeste asiático, Hong Kong beneficia, em primeiro lugar e sobretudo, de uma cultura empresarial que é livre quer da burocracia quer da corrupção. São necessários cerca de dois dias para lançar um novo negócio; os impostos são baixos, e espaços amplos de co-work estão disponíveis.

 

Além disso, o Governo fundou Programa de Incubação Cyberport que apoia o desenvolvimento da indústria de tecnologias da informação e da comunicação de Hong Kong dando às empresas o capital inicial, acesso a infra-estruturas e formação em empreendedorismo, tecnologia e desenvolvimento do negócio. Como resultado, o número de empreendedores cresceu mais de 300% nos últimos três anos.

 

Por sua vez, Singapura assiste cada vez mais aos efeitos de uma década de reformas regulatórias, incluindo subsídios governamentais e incentivos fiscais para atrair investimento externo no sector tecnológico. De 2002-2009, mais de 11 mil start-ups foram criadas.

 

A start-up de redes sociais de Singapura, Bubble Motion (recentemente adoptou o nome de Bubbly) angariou mais de 20 milhões de utilizadores nos seus primeiros dois anos – quase duplicou o número que o Facebook e o Twitter tiveram no mesmo período da sua história. Esta start-up conta com empresas influentes de Silicon Valley, como a Sequoia Capital, Northgate Capital e Comcast Ventures, como investidores.

 

Na China continental, a Alibaba recentemente fez história ao angariar 25 mil milhões de dólares na maior oferta pública inicial até á data. A empresa fundada por Jack Ma apontou que as suas ambições passam pela criação de um "ecossistema" próspero na zona das sedes de empresas em Hangzhou. Os funcionários da Alibaba, antigos funcionários e accionistas injectaram mais de seis mil milhões de dólares na economia local em 2013, com a Universidade de Zhejiang e o Centro de Incubadoras de Start-ups de Fudi (fundado por um antigo funcionário da Alibaba) a encorajam que as start-ups tenham uma actividade frenética.

 

O enclave californiano das empresas tecnológicas continua a ser a joia da coroa dos ecossistemas de empreendedorismo. Mas os inovadores internacionais estão a reconhecer cada vez mais que, à medida que as valorizações de Silicon Valley crescem, os verdadeiros negócios para os investidores astutos da área das tecnologias podem ser encontrados fora dos Estados Unidos.

 

Ross Buchanan é autor na UP Global.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2014.
www.project-syndicate.org

Tradução: Ana Laranjeiro

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