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21 de Abril de 2014 às 16:39

Clima e competitividade

Com o atenuar da crise da dívida na Europa, outro desastre económico parece estar a aproximar-se – o preço da energia. Desde o início dos anos 2000, os preços da electricidade para as indústrias europeias quase duplicaram, e as empresas pagam o dobro de gás em relação às congéneres norte-americanas. Estarão as ambiciosas políticas climáticas – que procuram aumentar os custos das "más" fontes de energia – a destruir a base industrial da região?

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À primeira vista, os números parecem apoiar os pessimistas. Como pode uma enorme diferença de preços como esta não ter impacto sobre a competitividade? Mas, se os preços elevados da energia levam a uma queda das exportações, como é que a Alemanha, que tem algumas das políticas climáticas mais ambiciosas do mundo, duplicou as suas exportações desde 2000?

 

Na verdade, provas empíricas mostram que, em muitos casos, reduzir ainda mais as emissões de dióxido de carbono poderia ajudar a tornar as indústrias mais competitivas. Explorar este potencial poderia abrir oportunidades significativas não só para combater as alterações climáticas, mas também para promover a solidez económica da Europa no longo prazo.

 

Desde 2005, quando a União Europeia introduziu o seu Sistema de Intercâmbio de Emissões, a indústria alemã tem conseguido enormes ganhos de quota de mercado, apesar de os preços da energia terem subido muito mais do que nos Estados Unidos e noutros países. De acordo com estimativas da OCDE, as exportações alemãs aumentaram 10% entre 2005 e 2013, enquanto as exportações dos Estados Unidos cresceram apenas 1,2% mais rápido do que a procura no resto do mundo. Em 2013, tanto as exportações alemãs como as norte-americanas caíram ligeiramente em termos relativos – o que dificilmente será um sinal de quebra de competitividade provocada pela energia.

 

O mesmo é válido, ainda que num nível mais modesto, para sectores de consumo intensivo de energia, como o sector químico. Apesar dos preços cada vez mais elevados da energia, a indústria química da Europa cresceu mais ou menos ao mesmo ritmo do que o resto da economia desde 1995. Hoje, as empresas químicas da União Europeia são especializadas em produtos de elevado valor e as suas exportações são muito maiores do que as suas importações.

 

A razão é simples: a competitividade implica mais - muito mais – do que os preços da energia. De facto, as estimativas para a Alemanha mostram que, para a maioria da sua base industrial, os custos da energia representam apenas 1,6% do valor acrescentado bruto. Assim, mesmo o rápido aumento dos preços da energia implica apenas um custo adicional limitado para as empresas.

 

Claro que este fardo é maior para a indústria química, por exemplo. Mas as indústrias de consumo intensivo de energia geralmente beneficiam de isenções por emissões de carbono. E, mesmo nesses sectores, a competitividade deve ser definida num sentido muito mais amplo do que simplesmente comparando as estatísticas dos custos. Por exemplo, é provável que tenham mais peso factores como a mão-de-obra altamente qualificada, ou os benefícios de estar integrado em ‘clusters’ que funcionem de forma eficiente.

 

Estas considerações não são nenhuma garantia de que o aumento dos preços da energia não vai, em algum momento, desafiar seriamente a competitividade europeia. Na verdade, os novos investimentos na indústria química cresceram muito pouco de há uns anos para cá.

 

Ainda que este risco deva ser levado a sério, a história sugere que pode haver uma saída que não exija a reversão das políticas climáticas. O que é notável é que o aumento dos preços da energia tem sido acompanhado não só por uma competitividade relativamente robusta, mas também por grandes reduções nas emissões de CO2. A indústria química da Europa reduziu para metade as suas emissões de gases de efeito estufa em relação a 1990, enquanto o aumento da produção foi na ordem dos 20%. Isto sugere que a redução das emissões até pode ajudar a manter a competitividade de uma empresa.

 

Num estudo-piloto sobre produtos químicos específicos para a Fundação Europeia do Clima, especialistas da McKinsey identificaram potencial para uma redução de 50 a 75% das emissões de CO2. Além disso, em cerca de 60 a 70% dos casos, explorar a oportunidade de uma redução adicional não teria nenhum efeito sobre a competitividade da indústria, podendo mesmo reforçá-la. Isto acontece porque uma maior dependência da reciclagem, por exemplo, reduz os custos - e, portanto, aumenta a competitividade das empresas – ao mesmo tempo que reduz as emissões e impulsiona novas abordagens como a inovação intersectorial.

 

Certamente não seria prudente permitir que os preços da energia na Europa disparassem em nome de políticas climáticas ambiciosas. Há maneiras mais inteligentes de reduzir as emissões do que simplesmente aumentar os custos para a indústria e para os consumidores. Mas seria igualmente insensato pressionar no sentido de estabelecer políticas menos ambiciosas, atrasando, assim, o progresso na luta contra as alterações climáticas, sem ter a certeza de que isso iria melhorar a competitividade europeia.

 

O novo paradigma deve concentrar-se em encontrar estratégias para reduzir as emissões de CO2 de uma forma que, em última análise, ajude a produzir melhores produtos a um custo inferior. Isso também ajudaria os produtores europeus a conquistar novos mercados em países emergentes, que exigem cada vez mais os produtos químicos de elevado valor que a Europa já produz de forma competitiva.

 

A última coisa que faz falta à Europa, desgastada pela crise, é um novo golpe na sua competitividade. Mas, as metas climáticas ambiciosas, como a Alemanha e outras economias europeias bem-sucedidas têm mostrado, não são o problema. Poderiam mesmo ser uma parte da solução.

 

Thomas Fricke é economista-chefe da Fundação Europeia do Clima e responsável pelo "site" alemão Wirtschaftswunder.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2014.

www.project-syndicate.org

Tradução: Rita Faria

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