Opinião
Trump. E agora?
Trump é um homem de negócios, para quem a política é um negócio, que se rodeou de homens de negócios, vários deles "alumni" da Goldman Sachs. Uma das suas muitas contradições.
Foi um discurso de Trump. Primário, populista, nacionalista, proteccionista, cheio dos "istas" que lançaram e lançam sombras sobre o mundo. Com o discurso da "inauguração", ficou desfeita qualquer réstia de esperança de que o Presidente pudesse ser diferente do candidato. Foi a estreia de um novo tempo. Preparemo-nos para ele.
Trump é um homem de negócios, para quem a política é um negócio, que se rodeou de homens de negócios, vários deles "alumni" da Goldman Sachs. Uma das suas muitas contradições.
Trump é contra os acordos para travar o aquecimento global porque isso vai contra os interesses das grandes petrolíferas, da exploração de carvão, da indústria americana. Trump quer reverter as regras criadas para tentar evitar outra crise financeira como a de 2008, porque isso dará poder e dinheiro aos bancos. Trump quer baixar os impostos às empresas, porque no seu grande plano para irradicar a pobreza, os ricos ficarão ainda mais ricos. Trump precisava de uma ideologia para se eleger e justificar o poder: agarrou-se ao populismo e ao nacionalismo.
De caminho haverá mais emprego, é verdade, mesmo que a taxa até já seja baixa. As fábricas de produtos americanos serão pressionadas a regressar aos Estados Unidos. Quem quiser vender nos EUA terá de lá abrir fábricas - já está a acontecer. Os produtos americanos serão protegidos por tarifas aduaneiras. "Buy America, hire America".
E porque não? Porque de caminho Trump deita borda fora aquilo que tem trazido segurança (a "pax americana") e prosperidade (o liberalismo económico) ao mundo. Mesmo que uma segurança por vezes falsa e uma prosperidade muito mal distribuída.
Os EUA são o principal destino das exportações da União Europeia (pesa 15%), pelo que o proteccionismo "a la Trump" terá inevitavelmente consequências negativas na economia. O alarme já soou na Alemanha. Por este andar, Berlim e Bruxelas serão obrigadas a dar mais atenção a outras geografias, como a Ásia. Acelerar, por exemplo, os trabalhos para o acordo de comércio livre com o Japão. Fortalecer ligações à América Latina e África. Portugal pode ter aqui um papel.
A insegurança internacional também vai pesar nas expectativas, logo na economia. Como escrevia Martin Wolf esta semana no Financial Times, os populistas precisam de um inimigo que ajude a galvanizar apoio e legitime certos actos. Trump coleccionará vários, mas já escolheu um, de peso: a China. Qualquer crescendo de tensão tirará pulmão ao crescimento. Se a Rússia afrontar a Europa, é incerto que a Europa possa contar com Trump. A união dentro da União será decisiva. Logo num momento em que ela se rompe por dentro. Momento celebrado, este sábado, na cidade alemã de Koblenz.
Mesmo sobre o Trumpnomics sobram muitas dúvidas. A que países vai vender a indústria americana se os custos laborais dispararem, os produtos forem produzidos inteiramente nos EUA e vendidos com um dólar muito forte? Se as taxas de juro dispararem quantas empresas deixarão de ser capazes de pagar as dívidas? Até os investidores nas bolsas americanas, que rejubilaram com os planos de negócio do novo Presidente, estão agora mais reticentes.