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Carlos Bastardo - Economista 21 de Junho de 2012 às 23:30

Resgate? Não! Isto é só um financiamento!

Por muito que custe aos espanhóis admitirem que foram resgatados, o facto é que o foram e as yields da dívida espanhola a dez anos ultrapassaram os 7%, considerado o nível em que as campainhas de alarme tocam.

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Nos últimos anos várias frases de políticos europeus não beneficiaram a união da Europa: "Espanha não é a Grécia", Elena Salgado, ministra das Finanças de Espanha em Fevereiro de 2010. "Portugal não é a Grécia", The Economist, em 22 de Abril de 2010. "A Irlanda não faz parte do território grego", Brian Lenihan, ministro das Finanças da Irlanda."A Grécia não é a Irlanda", George Papaconstantinou, ministro das Finanças da Grécia em 8 de Novembro de 2010. "Espanha não é nem a Irlanda nem Portugal", Elena Salgado, ministra das Finanças de Espanha, 16 Novembro de 2010. "Nem Espanha nem Portugal são a Irlanda", Angel Gurria, Secretário-Geral da OCDE, em 18 de Novembro de 2010.

Estas frases revelam as diferenças que existem no espaço da Zona Euro. Contudo, o resultado foi idêntico: todos foram resgatados.

Por muito que custe aos espanhóis admitirem que foram resgatados, o facto é que o foram e as yields da dívida espanhola a dez anos ultrapassaram os 7%, considerado o nível em que as campainhas de alarme tocam. Responsáveis do governo espanhol dizem que o valor de 100 mil milhões de euros é uma linha de financiamento e não um resgate: o problema é que falamos de bancos públicos como o Bankia que devido às perdas potenciais, necessitam de capital entre 2 a 2,5% do PIB do país, ou de outras caixas de poupança muito relacionadas com o poder político em Espanha. Além disso, os detalhes desse financiamento ainda não se conhecem, o que não deixa de ser estranho!

Dizem que não foram resgatados, mas o FMI já lhes disse para aumentarem o IVA, reduzirem os ordenados dos funcionários públicos e apressarem as privatizações.

Vi muitos analistas nas últimas semanas apontarem o dedo à Grécia como a causa de todos os males das bolsas. Mas será efectivamente a Grécia a principal preocupação? Não, apenas pelo contágio. O grande problema da Europa é Espanha. Este país é a 4.ª potência económica europeia e com um peso de 11% do PIB da Zona Euro. Foi o país da Zona Euro onde houve maior especulação imobiliária e onde o endividamento das empresas e das famílias é dos mais elevados, contrariamente à dívida do Estado que é por enquanto um dos valores mais baixos, embora se preveja que chegue aos 100% do PIB em 2014. O crédito mal parado já vai nos 8,72% (dados de Abril de 2012), o valor mais alto dos últimos 18 anos.

Espanha é que é de facto o "osso duro de roer" para os políticos europeus e para os mercados financeiros nos próximos tempos. A Zona Euro até agora não tem passado de uma manta de retalhos e ainda por cima curta: quando uns puxam por ela, outros ficam destapados. A Zona Euro só tem viabilidade com um maior nível de federalismo.

Um governo económico e um orçamento europeu exigem um aumento do nível de supervisão de cada país e dos bancos europeus (melhor e mais exigente). A próxima reunião do Eurogrupo tem de dar respostas concretas e estruturantes que convençam os mercados, caso contrário, a situação de desconfiança irá aumentar.

Sinceramente, não estou a ver os espanhóis e muito menos os franceses e os próprios alemães a abdicarem facilmente de alguma soberania, quando é urgente uma união fiscal, política e financeira. Mas não há outro caminho! O processo vai demorar tempo e enquanto isso, os efeitos negativos na economia europeia e global estão a aumentar.

Está na hora de uma política monetária expansionista que promova o crescimento económico, crie emprego, reduza a dívida dos países da Zona Euro e de forma preventiva afaste o problema da deflação. O custo de financiamento dos países em dificuldades deve baixar um pouco mais e a austeridade deve ser menos impiedosa (mais gradual no tempo). Isto é, em linhas gerais, o que o Eurogrupo tem de decidir energicamente nos dias 28 e 29 de Junho.

Acima de tudo, para resolver um problema de solvência é necessário antes de tudo, gerar confiança. Sem ela, nada feito! Espero e desejo que finalmente se tomem as medidas adequadas e se deixem as tricas nacionalistas individuais.

Autor do livro Gestão de Activos Financeiros – Back to Basis

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