Opinião
Os alienados e o património
A dois minutos do fim do jogo, o Governo falhou o penalti. A bola bateu na trave e voltou para trás: o Eurostat chumbou a «alienação» de património do Estado para abater ao défice. Kaputt. E o défice? Ou sai mais algum coelho da cartola ou ficamos inevita
A dois minutos do fim do jogo, o Governo falhou o penalti. A bola bateu na trave e voltou para trás: o Eurostat chumbou a «alienação» de património do Estado para abater ao défice. Kaputt. E o défice? Ou sai mais algum coelho da cartola ou ficamos inevitavelmente acima dos 3%.
E qual é a diferença, além de um procedimento de défices excessivos que Bruxelas porá numa carta irrelevante a enviar a meio do próximo ano? Pouca, quase nula. Em termos económicos, é um zero redondo. Em termos políticos, em vésperas de eleições, é mais uma facada nas costas de Santana.
Trocadilhos à parte, esta apressada operação mostra que há sofisticações jurídicas que não passam em Bruxelas. Formalmente, o Eurostat vetou a operação de «lease and lease-back» do património do Estado que o Ministério das Finanças queria utilizar para cumprir um défice orçamental abaixo de 3% do PIB este ano.
À primeira vista, há agora três saídas e só uma parece boa: 1) o Estado desencanta, em dez dias, uma nova receita extraordinária – teme-se o pior – e cumpre o dogma-pouco-dogmático dos 3%; Bagão Félix deixa de lado a «ética política» e vende mesmo os edifícios (o Eurostat aceitará o modelo de «sale and lease back»), tirando da lista alguns dos edifícios mais incómodos – salva-se o Instituto Camões, o Instituto da Vinha e do Vinho... – e cumpre a teimosia do défice; ou cruza os braços, é vexado à esquerda e ultrapassa os 3%.
Esta última saída é mais penosa para o seu autor, pois será aproveitada com demagogia pela oposição e ficará para sempre como uma nódoa no curriculum. Mas é, de todas, a menos conivente com a hipocrisia do falso bom aluno. Na substância, as receitas extraordinárias não fizeram, não fazem e não farão qualquer bem à economia portuguesa; são pinturas caras nas paredes de uma casa arruinada por dentro.
De ontem para hoje, não mudou nada na economia portuguesa. E no entanto na TV não se fala noutra coisa.