Opinião
O Princípio da incerteza
As empresas vivem hoje num ambiente de grande incerteza. A globalização é por vezes vista como a causa desse ambiente acrescido de incerteza. No fundo, o processo de integração das economias mundiais faz com que os resultados das decisões empresariais sej
Numa economia, como a portuguesa, a maioria dos concorrentes potenciais são estrangeiros e muitas vezes são maiores do que os actores nacionais.
É este temor da incerteza que leva algumas empresas a solicitarem abrigo debaixo da saia protectora do Estado. No fundo, há empresas que acreditam que o Estado português tem capacidade de criar por si só regras no espaço português que atinjam simultaneamente dois objectivos: por um lado, a promoção da eficiência e do aumento da produtividade e, por outro lado, a protecção do “status quo” no quadro das empresas nacionais. Ora, estes dois objectivos são, em muitas circunstâncias, inconsistentes, embora muitos gostem de acreditar que são compatibilizáveis.
Acresce que o impacto mais positivo da integração das economias internacionais é uma melhor formação dos preços dos vários bens e serviços produzidos à escala mundial, a que importa sujeitar as empresas domésticas. Há também um forte incentivo à meritocracia empresarial, na medida em que as empresas que concebem e executam soluções mais inovadoras podem capitalizar do valor dessas inovações num mercado muito mais vasto. Estes lados positivos da integração das economias mundiais são muitas vezes negligenciados nos debates domésticos.
Em muitas empresas o medo da incerteza decorrente da concorrência acrescida, empurra os gestores para solicitarem a protecção do Estado ou para conceberem soluções assentes em colaborações ou alianças que visem partilhar os riscos da incerteza. Na verdade, os gestores destas empresas comportam-se como se estivessem a gerir seguradoras. Um sector que não costuma ser usado na literatura académica em gestão como exemplo de inovação de serviços ou processos.
Pelo contrário, as empresas e os líderes mais admirados e estudados tendem a ser aqueles que criam soluções novas para os problemas da sociedade e que são capazes de vender e implementar essas soluções à escala mundial.
O poder transformacional de produtos e conceitos, como a Internet, os computadores ou a pasta de dentes é tão grande e a sua utilização tão generalizada que por vezes nos esquecemos de quão positivamente transformaram a sociedade em que vivemos. Aumentando, a eficiência e a qualidade de vida na sociedade do Homem. Isso não significa que estas transformações não tenham sido negativas para muitas pessoas que dependiam de actividades que de uma forma ou de outra concorriam com estes produtos. Porém, vistas à luz do presente, essas inovações criam um valor inquestionável na sociedade.
Que papel pode ter o Estado na promoção da inovação? Esta é uma matéria em que as opiniões estão ainda longe de um consenso. Contudo há dois aspectos que me merecem destaque. Em primeiro lugar a previsibilidade sobre os proveitos das inovações valiosas (só se incentiva devidamente a escrita de um bom livro se os direitos de autor estiverem adequadamente protegidos). Ora, numa sociedade globalizada, a maioria dos benefícios da inovação vêm de outras economias que não a portuguesa, pelo que Portugal deve participar e ter regras idênticas às das economias mais evoluídas. As regras deveriam mudar pouco e sempre de forma coordenada com o que fazem os nossos principais parceiros da União Europeia e Estados Unidos.
Em segundo lugar, a sociedade deve ser tolerante do risco e proteger os inovadores de iniciativas que não tenham dado lucro. Para isso é necessário que seja fácil e rápido o reconhecimento das perdas das empresas que tentam criar inovações, não arrastando nos tribunais ou punindo socialmente os gestores das empresas que desaparecem por não conseguirem tornar rentáveis as suas ideias.
Há um terceiro aspecto que é importante respeitar: o Estado não deve ser factor de incerteza adicional alterando regras com grande frequência quer por activismo voluntarista de algum governante menos experiente, quer por necessidade de mostrar serviço perante uma sociedade crescentemente mediatizada.
A incerteza nos mercados não é gerível por nenhum governo, mesmo um hipotético governo mundial. A incerteza é como as marés, deve ser vista como um facto e não como um problema. As empresas devem lidar e gerir essa incerteza e não ter ilusões sobre a capacidade dos estados em protegê-las da mesma. As energias que as empresas devotam a cultivar proximidade com o Estado seriam bem melhor utilizadas em actividades de inovação no desenvolvimento de novos produtos e serviços.