Opinião
Entre o cuco e o queijo
A sociedade portuguesa orienta-se por uma lógica suíça. Mas não é a do cuco, que surge sempre no segundo exacto. É, antes, a do queijo suíço: está cheia de buracos.
Está agora a pagar as favas de, durante anos, ter acreditado que o dinheiro (ou o crédito) não tinha fim e que não tinha de se preparar para o futuro. Não fez os trabalhos de casa e, agora, parece um país cábula, que já não sabe inovar: só quer copiar. Ainda discutimos um modelo de desenvolvimento para o país e, mesmo, uma política externa coerente.
Veja-se a nossa actuação nesse triste teatro que é a Guiné-Bissau. Acolhemos Nino Vieira e assistimos impávidos e serenos a chacinas sucessivas num país que vai consumindo, de forma cruel, os seus filhos (ainda se está à espera de perceber melhor o que sucedeu com Ansumane Mané ou a Veríssimo Seabra). E agora Nino Vieira regressa a Bissau e pede a suspensão do seu estatuto de exilado político, perante a aparente indiferença do MNE.
Talvez esteja na altura de Portugal deixar de ter medo de pisar ovos e criar um conceito estratégico de relação com os países africanos e o Brasil. No plano político, económico e cultural. Com um pouco de coragem política talvez isso fosse possível.