Opinião
As grandes escolas
O sr. Alex Ferguson fez 70 anos na passagem de ano e quase parece eterno na glória que trouxe para o clube. Mais do que um treinador ele é um gestor de talentos e um comandante de homens
O futebol global está cheio de futebolistas geniais, de treinadores competentes e de clubes fascinantes. Mas poucos surgem como escolas ou, melhor, como mosteiros onde se cria a alquimia do futebol mágico que encanta e criam tradições. A cultura própria do Manchester United ou do Barcelona não tem paralelo no futebol mundial. Há quem possa apontar o Real Madrid, porque lá estão o sr. José Mourinho e o sr. Ronaldo, mas o clube merengue não é uma escola: é um hotel de luxo onde se acolhem craques vindos de todas as latitudes e onde se fazem e desfazem equipas de galácticos. Quando o sr. Mourinho regressar aos nevoeiros britânicos, talvez até a Manchester, o Real Madrid começará outra era, erradicando a antiga como se nada se tivesse passado.
Nada disso acontecerá no Manchester United ou no Barcelona. O clube da cidade pós-industrial que os Joy Division cantaram como ninguém, tem há muitos anos um farol. O sr. Alex Ferguson fez 70 anos na passagem de ano e quase parece eterno na glória que trouxe para o clube. Mais do que um treinador ele é um gestor de talentos e um comandante de homens. Os jogadores passam (o sr. Beckham, o sr. Ronaldo, o sr. Cantona) e ele fica. Ele é o Manchester United. Quando finalmente se cansar, quem poderá carregar tão pesada herança? Quem se conseguirá manter como uma rocha num mundo de interesses tão diferentes? O sr. Ferguson conseguiu sempre ser o diplomata perfeito, unindo diferentes donos, jogadores e adeptos à sua volta. Sabe tudo e por isso controla tudo. Por isso as equipas do Manchester United são vendavais à solta.
O sr. Pep Guardiola é diferente. E o Barcelona também o é. O Barcelona é uma cidade e uma autonomia. Simboliza tudo o que é o oposto do centralismo de Madrid. Por isso criou uma cultura. Basta ver como o jogo criativo e delicado do Barcelona parece aprender-se na escola e ser repetido de cada vez que é necessário. Há umas semanas o sr. Pep Guardiola deixou a descansar a sua principal equipa e pôs a jogar os jovens que, um dia, substituirão o sr. Iniesta ou o sr. Xavi. Jogaram como eles, com o mesmo toque de bola, com o mesmo controle das jogadas, com a mesma magia. A dança era a mesma, só os intérpretes mudaram. É isso que o Barcelona tem e o Real Madrid, por exemplo, não tem. Quando o Barcelona joga, perante o olhar de um treinador que parece um dos jogadores, o relógio parece parar. De repente move-se e a baliza fica a um metro. O sr. Messi é a jóia mas tudo o resto são desenhos feitos mil vezes para que a obra-prima se concretize. Barcelona e Manchester United são diferentes mas une-os a capacidade de legarem uma cultura que já não parece deste mundo.
Nada disso acontecerá no Manchester United ou no Barcelona. O clube da cidade pós-industrial que os Joy Division cantaram como ninguém, tem há muitos anos um farol. O sr. Alex Ferguson fez 70 anos na passagem de ano e quase parece eterno na glória que trouxe para o clube. Mais do que um treinador ele é um gestor de talentos e um comandante de homens. Os jogadores passam (o sr. Beckham, o sr. Ronaldo, o sr. Cantona) e ele fica. Ele é o Manchester United. Quando finalmente se cansar, quem poderá carregar tão pesada herança? Quem se conseguirá manter como uma rocha num mundo de interesses tão diferentes? O sr. Ferguson conseguiu sempre ser o diplomata perfeito, unindo diferentes donos, jogadores e adeptos à sua volta. Sabe tudo e por isso controla tudo. Por isso as equipas do Manchester United são vendavais à solta.
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