Opinião
A comovente solidariedade europeia
Um episódio recente da política interna francesa mostra bem como o verniz da solidariedade europeia estala depressa. Para capitalizar votos, Sarkozy não hesitou em frisar e até exagerar a situação vulnerável de Espanha, apresentando-a como o resultado natural da gestão socialista de um país.
Um episódio recente da política interna francesa mostra bem como o verniz da solidariedade europeia estala depressa. Para capitalizar votos, Sarkozy não hesitou em frisar e até exagerar a situação vulnerável de Espanha, apresentando-a como o resultado natural da gestão socialista de um país. Este não foi mais um excesso do presidente francês, trata-se, isso sim, de uma linha bem programada do seu discurso eleitoral.
Não é a primeira vez que os líderes europeus optam por esgravatar as feridas dos seus parceiros com o mesquinho objectivo de ganhar votos. Agora, calhou a Espanha ocupar o lugar de leproso. A 24 de Março, diante uma audiência de empresários, Mário Monti disse que "Espanha está a dar a toda a Europa motivos de preocupação. Através do contágio, pode afectar-nos". E esta semana, segundo a imprensa italiana, terá culpado o país pela subida das taxas de juro italianas (notícias que entretanto desmentiu).
Mas na dianteira surge a exemplar Angela Merkel, que desde o início não se tem coibido de exibir, e até caricaturar, as fragilidades dos países periféricos (sobretudo os do Sul, que são mais escurinhos) para tentar segurar votos nas várias eleições regionais do seu país. Exemplos cimeiros disso foram as referências às longas férias dos portugueses (por sinal mais curtas que as dos alemães) e ao desperdício dos dinheiros europeus na Madeira que "serviram para construir túneis e auto-estradas mas não para aumentar a competitividade" - os mesmos túneis e auto-estradas que tanto conforto dão aos turistas alemães.
Compreensivelmente, o primeiro-ministro espanhol reagiu de forma ríspida às provocações dos seus homólogos. "Não estamos contra ninguém e não falamos sobre os outros países. Queremos que os outros façam o mesmo. Que aceitem as suas responsabilidades e que tenham cuidado com os comentários", atirou Rajoy.
Mas Espanha também tem telhados de vidro. Há cerca de um ano, a ministra da Economia, Elena Salgado, fez questão de sublinhar que o mercado sabe "distinguir claramente entre Espanha e Portugal", notando que a economia espanhola é "maior que a de Portugal, muito mais diversificada e mais competitiva".
Talvez por se lembrar disso, Miguel Relvas aproveitou esta semana para dar uma alfinetada nos "nuestros hermanos". Disse o roto para o nu: "Esperamos que o Governo espanhol tome as medidas adequadas e crie confiança nos mercados porque as economias portuguesa e espanhola são economias de integração significativa".
Infelizmente, Relvas não aprendeu nada com o que disse a ministra irlandesa dos assuntos europeus numa corajosa passagem por Portugal, em Fevereiro. É importante que países "como a Grécia, Portugal e Irlanda mostrem solidariedade entre si e uma grande compreensão em relação às dificuldades que enfrentam. Acho que seria um erro não fazê-lo. É importante que nos tentemos apoiar ao máximo. Acho que seria errado tentarmos dissociar-nos da Grécia".
Não é a primeira vez que os líderes europeus optam por esgravatar as feridas dos seus parceiros com o mesquinho objectivo de ganhar votos. Agora, calhou a Espanha ocupar o lugar de leproso. A 24 de Março, diante uma audiência de empresários, Mário Monti disse que "Espanha está a dar a toda a Europa motivos de preocupação. Através do contágio, pode afectar-nos". E esta semana, segundo a imprensa italiana, terá culpado o país pela subida das taxas de juro italianas (notícias que entretanto desmentiu).
Compreensivelmente, o primeiro-ministro espanhol reagiu de forma ríspida às provocações dos seus homólogos. "Não estamos contra ninguém e não falamos sobre os outros países. Queremos que os outros façam o mesmo. Que aceitem as suas responsabilidades e que tenham cuidado com os comentários", atirou Rajoy.
Mas Espanha também tem telhados de vidro. Há cerca de um ano, a ministra da Economia, Elena Salgado, fez questão de sublinhar que o mercado sabe "distinguir claramente entre Espanha e Portugal", notando que a economia espanhola é "maior que a de Portugal, muito mais diversificada e mais competitiva".
Talvez por se lembrar disso, Miguel Relvas aproveitou esta semana para dar uma alfinetada nos "nuestros hermanos". Disse o roto para o nu: "Esperamos que o Governo espanhol tome as medidas adequadas e crie confiança nos mercados porque as economias portuguesa e espanhola são economias de integração significativa".
Infelizmente, Relvas não aprendeu nada com o que disse a ministra irlandesa dos assuntos europeus numa corajosa passagem por Portugal, em Fevereiro. É importante que países "como a Grécia, Portugal e Irlanda mostrem solidariedade entre si e uma grande compreensão em relação às dificuldades que enfrentam. Acho que seria um erro não fazê-lo. É importante que nos tentemos apoiar ao máximo. Acho que seria errado tentarmos dissociar-nos da Grécia".
*Editor de Economia
Visto por dentro é um espaço de opinião de jornalistas do Negócios
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