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Opinião
08 de Julho de 2011 às 11:45

A esquina do Rio

Aquilo a que temos assistido nos últimos meses é a uma guerra entre o dólar e o euro, entre os Estados Unidos e a Europa.

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Duelo
Aquilo a que temos assistido nos últimos meses é a uma guerra entre o dólar e o euro, entre os Estados Unidos e a Europa. Aqui há uns anos, a Europa teve a veleidade de atacar a hegemonia do dólar e dos Estados Unidos, por trás de uma construção chamada União Europeia e de uma moeda única decretada e criada com base em economias muito diferentes entre si. O objectivo desta moeda, impulsionada pela França e Alemanha, velhas inimigas dos Estados Unidos, era chamar para os dois países europeus o controlo de um novo modelo económico internacional, alternativo ao modelo americano e à margem do sistema financeiro norte-americano. A montagem burocrática da conspiração está a falhar porque é isso mesmo: uma montagem burocrática que parte dos egoísmos nacionalistas de Paris e de Berlim. Como qualquer maquinação de burocratas, esta baseia-se num projecto sem rumo, com falta de liderança, ao sabor das conveniências e do equilíbrio do momento.

A Europa, solidária e bondosa, de que nos falam os velhos sábios ou os ingénuos, com um misto de saudade e desgosto, era uma lamentável ficção, como hoje se vê. O resultado desta perigosa aventura em que fomos envolvidos está à vista: a Alemanha está de óptima saúde e os países periféricos do sul da Europa estão péssimos. Há quase dois anos que assistimos à contínua forma de actuação das agências de "rating" americanas e ao desenvolvimento da crise das dívidas soberanas, e a Europa ainda não foi capaz de dar uma resposta, as mais das vezes devido à oposição alemã, e por vezes francesa, em criar mecanismos alternativos e eficazes.

Foram os estados, as cidades, organismos públicos até, que durante anos deram força às agências de "rating", ao utilizarem então as suas optimistas avaliações, para conseguirem ir aumentando a dívida. Agora queixam-se, com razão aliás, dos seus métodos. É capaz de ser um bocado tarde. As agências de "rating" olham para os países europeus em crise e têm um argumento difícil de combater - mesmo quando esses países conseguem, com mais impostos, aumentar as receitas, nunca conseguem um ritmo de diminuição da despesa que permita fazer voltar o contador a zeros. Passos Coelho foi sincero quando comparou a avaliação da Moody's a Portugal a um murro no estômago. O problema é que neste ringue de boxe ninguém consegue pôr as agências de rating em KO técnico.


Semanada
Na semana passada, o então deputado Fernando Nobre não esteve no debate do Programa do Governo; na altura fez saber que estava indisposto, febril; segunda feira soube-se que na sexta-feira havia enviado à direcção do PSD uma carta a anunciar a renúncia ao mandato, ao contrário daquilo a que se havia comprometido antes das eleições; terça-feira soube-se que decidiu renunciar sem sequer ter avisado o grupo parlamentar pelo qual foi eleito; o PSD não teve uma palavra para comentar o assunto.


Ouvir
Gosto muito de ouvir guitarra eléctrica no "jazz" e um dos mestres deste instrumento é Joe Pass, que alia a imaginação ao virtuosismo, fazendo esquecer, graças ao improviso, que tudo é baseado num superior domínio técnico da guitarra. Nos anos 80 ele gravou, pelo menos em duas ocasiões, com Ella Fitzgerald, então já com 50 anos, e no auge da sua carreira e das suas capacidades vocais. "Easy Living" é o álbum que resultou dessas gravações e cuja edição original data de 1986 - e que há muito se encontrava esgotado. O programa "Original Jazz Masters Remasters", que a Universal Music tem estado a fazer nos seus diversos selos editoriais, foi buscar este disco à Pablo Records e voltou agora a disponibilizá-lo, numa remasterização de 24 bits. Grande parte dos temas são "standards" dos anos 30 e 40 e neles está marca da autenticidade de Joe Pass e de Ella Fitzgerald.


Memória
Quando dirigi a equipa que começou a construir a 2:, na RTP, numa tentativa ainda hoje mal compreendida de colaboração entre o serviço público de televisão e a sociedade civil, Maria José Nogueira Pinto, então Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, foi das primeiras que, com gestos e não apenas com palavras, acreditou no projecto, separando de forma franca o essencial, que era a 2:, das várias divergências que tínhamos. Falámos muito sobre a forma como instituições, como a que ela então dirigia, podiam colaborar - e das suas palavras saíram bons conselhos. Gosto de recordar o entusiasmo que ela colocava no que dizia e no que fazia e na abertura que manifestava para além das suas convicções pessoais.


Ver
Pedro Cabrita Reis é um dos maiores artistas plásticos da sua geração - criativo, excessivo, provocador, arrojado, cosmopolita. Além disso, é um dos que melhor sabe trabalhar a sua obra enquanto marca - prova disto mesmo são as duas exposições diferentes e complementares, mas simultâneas, com cerca de 700 obras suas, agora inauguradas. Quase quatro centenas, todas desenhos, estão na Fundação Carmona e Costa, no antigo edifício da Bolsa, ao Rego, sob o título "The Whispering Paper". Nesta exposição, em cada uma das salas estão misturadas as diversas fases da sua carreira num aparente caos, cheio de humor, que nos encaminha para coincidências e ajuda a perceber rumos. No Museu Berardo estão cerca de três centenas de peças, pinturas, esculturas e instalações rigorosamente ordenadas por épocas cronológicas e fases criativas. Esta exposição, "One after another, a few silent steps", tem por base uma retrospectiva do artista, que desde 2009 está em itinerância pela Europa, tendo já passado pela Kunsthalle de Hamburgo, na Alemanha, pelo museu Carré d'Art de Nîmes, em França, e pelo museu M de Lovaina, na Bélgica. Em Lisboa há mais peças, duas delas inéditas. As duas exposições mostram a diversidade da sua obra, a constante evolução, a permanente experiência. Pela forma como foram pensadas e executadas, em simultâneo, estas exposições ganham outra dimensão e outra repercussão - e marcam o Verão lisboeta. Ambas estarão até aos primeiros dias de Outubro.


Arco da Velha
Deve estar em alta a procura de estádios de futebol vazios: o de Leiria ficou esta semana à venda pela módica quantia de 63 milhões de euros. Tinha custado 83,2 milhões quando foi construído para o Euro 2004. Assim se foi construindo a dívida...


Provar
Perto da porta lateral do Museu Nacional de Arte Antiga, ao fundo do jardim, fica um dos melhores locais para ver o pôr-do-sol em Lisboa, com uma vista de rio completamente aberta. É um bar, construído com base num cubo de vidro, no terraço de um edifício, e que dá pelo nome de Le Chat Qui Pêche. Oferece "cocktails" variados, alguns originais, e tem também propostas de refeições rápidas, mas interessantes - destaco os mini-burguers, feitos na chapa, carne de boa qualidade, e cozinhados no ponto, que podem ser acompanhados de vários molhos e recheios à escolha. Também há tostas diversas (uma muito elogiada é a de lombo de porco fumado), saladas e alguns petiscos avulsos. Encerra à segunda-feira e está aberto do meio-dia à meia-noite, mas às quintas, sextas e sábado a coisa prolonga-se mais um bocado. É o ideal para um copo ao fim da tarde, para um lanche tardio ou para um jantar ligeiro antes de partir para outro destino. Rua das Janelas Verdes, Jardim 9 de Abril, telefone 917797155.


Ler
Volta e meia a revista francesa "Les Inrockuptibles", vulgo "Les Inrocks", publica umas edições especiais dedicadas a temas da história da cultura popular contemporânea. Em Junho saiu uma destas edições - ainda em banca nas lojas especializadas - dedicada aos 50 anos de "rock" em Nova Iorque. Na capa estão, triunfantes, os Ramones, em 1995. Lá dentro, repartidos por quatro capítulos, abordam-se as quatro décadas desde 1961, com enfoque nos principais artistas, de Bob Dylan a TV on the Radio, passando por Velvet Underground, Patti Smith, Talking Heads ou LCD Soundsystem. Muitas histórias de bastidores, muitas boas fotografias, a relação entre estilos e épocas constituem um belo trabalho para guardar. Em brinde um CD com 14 faixas do catálogo da ZE Records nos anos 80 - de Bill Laswell com os Material a Kid Creole, passando por Alan Vega, Arto Lindsay e John Cale. Tudo isto por 12 euros.



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