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07 de Agosto de 2009 às 12:07

A esquina do Rio

Os responsáveis políticos do PSD dizem que a opção de constituição das listas de deputados foi feita com base em critérios exclusivamente políticos. Têm toda a razão - o revanchismo é uma atitude política e foi a prevalecente neste caso. Até aqui, o...

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REVANCHISMO - Os responsáveis políticos do PSD dizem que a opção de constituição das listas de deputados foi feita com base em critérios exclusivamente políticos. Têm toda a razão - o revanchismo é uma atitude política e foi a prevalecente neste caso. Até aqui, o revanchismo, a prepotência e a arrogância tinham sido pecados políticos do PS de Sócrates; depois desta semana passam a ser também património do PSD de Aguiar-Branco e de Ferreira Leite. Particularmente revoltante foi o cinismo pesporrento de Aguiar Branco que, bem interrogado por uma jornalista sobre as exclusões propostas de Passos Coelho e de Miguel Relvas das listas de candidatos a deputados, respondeu com os resultados de exploração das contas do PSD. Em matéria de desprezo pelos eleitores este é um caso exemplar - depois dessa resposta quem merecia ser excluído das listas era Aguiar-Branco, mas como parece ser ele a mandar em Ferreira Leite esse cenário ficará difícil. As listas de candidatos dos partidos, mais do que indicarem as escolhas políticas, indiciam os "progrom" internos. No arco do Bloco Central os dois partidos estão bem um para o outro nesta matéria.

PROGRAMAS - O meu conselho aos eleitores é votarem com base nas acções passadas e não nos programas futuros. Todos os programas de eleições são magníficos - dentro da perspectiva de que é politiquês a falar politiquês para politiqueses. Mas quando chega a hora da verdade os programas vão logo às urtigas. Basta pensar naquilo que Sócrates fez em matéria de emprego, saúde, educação e justiça. A demagogia contemporânea tem pouco a ver com dotes de oratória e muito a ver com promessas eleitorais que não são supostas serem cumpridas. Estes nossos membros da classe política acham-se uns aliens superiormente inteligentes que não têm que obedecer a regras nem aparentar vergonha.

TVI - Que se tem passado na TVI? Entre negociações com potenciais interessados e uma história muito mal contada de pressões de José Sócrates, o desfecho deu-se esta semana. Como Sócrates desejava, José Eduardo Moniz saiu da TVI. Convém lembrar que, quando José Eduardo Moniz entrou na TVI, foi para uma estação sem dinheiro, em dificuldades financeiras, num processo complexo: Carlos Monjardino tinha falhado com estrondo, Belmiro de Azevedo veio a seguir - e foi nessa altura que Moniz foi para a TVI - mas o patrão da SONAE rapidamente saiu da operação e Miguel Pais do Amaral acabou por ser o homem que reestruturou a estação, o seu passivo e moldou o novo modelo de negócio. Nessa altura eu era administrador da Valentim de Carvalho, com o pelouro do audiovisual, e recordo-me da forma como Moniz tinha ideias claras quando encomendava programas, de muito baixo orçamento, mas que ajudaram a TVI, pouco a pouco, a sair do limbo de audiências em que estava. O processo dos primeiros anos de Moniz na TVI é um "case-study" daquilo que a criatividade, uma análise rigorosa de objectivos e uma gestão espartana dos recursos podem produzir. Cá para mim este caso ainda não está encerrado - José Eduardo Moniz era um valor seguro do ponto de vista accionista, como a bolsa portuguesa mostrou logo no dia em que a notícia da sua saída foi conhecida. Sabe-se que, em Espanha, a Prisa é aliada histórica dos socialistas e que se permite moldar editorialmente os meios que controla por forma a favorecer o PSOE; em Portugal, da fama não se livra. José Eduardo Moniz saiu antes de as eleições começarem e as suas palavras de despedida não têm duas leituras possíveis: "Faço votos para que … se preserve o espírito livre, inconformista e batalhador desta empresa, imbuída de uma cultura de independência perante os poderes que representa um dos seus activos mais importantes".

COMIDAS - O Verão lisbonense traz algumas coisas estranhas. Este ano foi montada uma espécie de praia artificial perto de Alcântara, junto ao Kubo. A tal praia serve para beber uns copos e comer umas coisas com os pés na areia, a fazer de conta que Lisboa é como a Costa da Caparica. A grande diferença é que na Costa da Caparica há sítios onde se come bem e no "Urban Beach" em Lisboa se come péssimo e, ainda por cima, a um preço abusivo. Experimentem a especialidade de pastelaria da casa - uma cataplana que leva natas, tal e qual um bolo e que, obviamente é um desastre total. Será que confundiram a função de cozinheiro com a de pasteleiro quando fizeram a selecção de pessoal para a casa? De qualquer forma o resultado é mau, o preço não justifica e ainda por cima há demasiada gente horrível e feia à volta. A "Urban Beach" é um local a esquecer.

OUVIR - Portugal tem destas coisas: um compositor fora de série que faz canções extraordinárias e que tem a capacidade de juntar à sua volta talentos raros, como, aqui, Stuart Staples, dos Tindersticks, entre outros. O compositor e intérprete de que falo é Rodrigo Leão, ex-Sétima Legião, ex- Madredeus, um dos músicos portugueses contemporâneos com maior sucesso além-fronteiras, sem necessidade de subsídios, apoios ou benesses estatais. Rodrigo Leão venceu sozinho em mercados difíceis e leva mais longe as nossas sonoridades. Fora de politiquices, do Estado, fora das modas, fora de "lobbies", fora de ministérios e do poder, inteiramente por mérito próprio e privado, Rodrigo Leão é um caso raro de integridade musical e este disco é a prova disso - quanto mais não seja porque quando ele faz trabalhos de encomenda , como as canções da banda sonora de "Equador", elas são tão boas como se fossem feitas para nós e não para a televisão. O CD "Mãe" é um das grandes peças da carreira de Rodrigo Leão, um grito contra o conformismo e o marasmo e ao mesmo tempo, uma obra de comunicação musical baseada na nossa identidade nacional.

LER - Em tempo de férias, nada como um livro proibido pelos supermercados Auchan: "A Casa dos Budas Ditosos", de João Ubaldo Ribeiro. Se é certo que não o encontram entre detergentes e compotas, também é verdade que pode ser descoberto nas livrarias, que felizmente ainda não fazem censura, ao contrário daquela cadeia de mercearias agigantada. O original tem dez anos, as Edições Nelson de Matos em boa hora se lembraram de o reeditar. (Se gostam de livros tenham uma atitude de cidadania e não os comprem onde eles são censurados, como na Auchan).

BACK TO BASICS - O pior lugar dos infernos está reservado para aqueles que, em tempo de grande conflito moral, permanecem neutrais - Martin Luther King


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