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Opinião
08 de Abril de 2011 às 11:25

A esquina do Rio

Quando a RTP 1 programou uma entrevista com José Sócrates para segunda-feira passada, a nova Direcção de Informação da estação estava a correr um risco.

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A entrevista
Quando a RTP 1 programou uma entrevista com José Sócrates para segunda-feira passada, a nova Direcção de Informação da estação estava a correr um risco. Nuno Santos pensou que o tema lhe traria boas audiências - como aconteceu (a entrevista foi, no global de todos os canais, o terceiro programa mais visto do dia), e quis inaugurar o seu mandato a dar que falar. O risco vinha do comportamento de Sócrates, habitualmente arrogante com os jornalistas, e que tem, fruto de muito treino, o hábito de não responder a perguntas concretas e dizer apenas o que lhe interessa. No entanto, nesta entrevista, ele passou das marcas e claramente tentou intimidar os jornalistas - desde as expressões faciais de enfado e desagrado com algumas perguntas, até proferir observações, que não lhe ficam bem, sobre as razões de algumas questões.

Acontece que com comportamentos destes Sócrates só dá trunfos aos defensores da privatização da RTP e aos que clamam que o serviço público está sempre em riscos de servir de porta-voz governamental. Tivesse Sócrates respondido às perguntas e não fosse tão arrogante para com jornalistas, outra coisa seria. Quando um Primeiro-Ministro se comporta, numa entrevista à RTP, como se estivesse num tempo de antena, dá argumentos para quem acha que o serviço público não faz falta. Eu acho que faz falta. Este foi o risco que a estação correu.


Semanada
No rescaldo da entrevista, Bagão Félix chamou mentiroso a José Sócrates, a propósito de este ter garantido que a questão da ajuda externa não foi discutida no Conselho de Estado; Campos e Cunha disse que "estamos a viver um filme de terror em que o Drácula culpa a vítima"; Manuel Maria Carrilho diz que Sócrates está a trair o interesse nacional e que segue a "estratégia de Xerazade" - com referência à história de "As Mil e Uma Noites": enquanto for capaz de contar uma história por noite, a sua vida não estará em risco. Tudo isto foi dito a propósito da entrevista de José Sócrates à RTP 1 na segunda-feira passada.


Lisboa
Já que António Costa quer ficar em Lisboa e continuar a ser Presidente da Câmara, ofereço-me para o levar numa voltinha de "scooter" pelas ruas do centro da cidade para ele sentir, no corpinho, os buracos, o mau estado do pavimento, as armadilhas que existem por todo o lado. Este singelo convite foi, nesta semana, o "post" que publiquei no Facebook e que gerou maior número de comentários de apoio. É elucidativo da forma como os lisboetas se sentem. Lisboa está a ficar uma cidade complicada. Qualquer dia é óptima para os turistas, mas péssima para quem cá quer continuar a viver. Já agora: repararam como nos dois dias de greve de Metro desta semana os fiscais da EMEL andaram tão zelosos logo pela manhã?


Ouvir
Para mim esta é uma das mais importantes edições discográficas dos últimos anos - o conjunto de quatro CD's intitulado "Twelve Nights in Hollywood", que recolhe as gravações feitas em 1961, por Ella Fitzgerald, no Crescendo, um pequeno clube de jazz em Los Angeles. Estas gravações, inéditas até agora, foram feitas pelo fundador da Verve e na época agente da cantora, Norman Granz. Foram remasterizadas digitalmente a partir das fitas originais - e a gravação original era já muito boa. Ao todo estão aqui editadas 76 canções, que recolhem a generalidade dos temas que tornaram Ella Fitzgerald célebre. Ainda por cima ela estava no pico da sua carreira quando estas gravações foram feitas, tinha 45 anos, e cantou de forma solta, com um "swing" e alegria extraordinários e com uma criatividade invulgar - que deve muito também à qualidade dos músicos que a acompanharam e à ligação que a cantora tinha com eles. Em Portugal estes quatro discos estão distribuídos pela Universal sob a forma de dois CDs duplos, "12 Nights in Hollywood", volumes I e II. Absolutamente imperdível.


O presente
O pedido de ajuda externa não vem atrasado os 15 dias desde o chumbo do PEC IV, vem atrasado muitos meses e só o facto de os banqueiros terem levantado a voz a dizer que os cofres estão vazios fez Sócrates agir. Nada mais. O grande problema dos tempos que aí vêm é conseguir passar esta fase, até às eleições antecipadas, sem que o País seja submetido a um saque generalizado pelo Governo e seus organismos periféricos, nesta fase de saída de poder. O comportamento geral do executivo ao longo deste último ano, e sobretudo nas últimas semanas, é o pior dos prenúncios nessa matéria. Em ocasiões destas torna-se especialmente importante que o Presidente da República consiga gerir esta transição sem que o desmando se torne na regra de funcionamento e sem que o Governo deixe deliberadamente agravar a situação do País, refugiando-se numa interpretação minimalista da capacidade do executivo, como já se está a ver no caso das SCUTs.


O futuro
Quanto mais tempo passa mais me convenço que a solução para a delicada situação política não é reforçar a bipolarização PS-PSD, e sim dar possibilidade a forças mais pequenas, à esquerda e direita, para que se possam constituir coligações equilibradas e saudáveis. É a existência de dois grandes partidos, hoje em dia sem diferenças evidentes entre si, que é responsável pela confusão que se foi instalando aos longo dos anos. A reforma do sistema político não é para agora - mas vai ser impossível continuar a viver com normas e funcionamentos que podiam estar certíssimos há meio século, mas que hoje não se adaptam nem à velocidade da mudança nem à forma como os cidadãos seguem o mundo, a actualidade e percepcionam os acontecimentos. Estamos na segunda década do século XXI com procedimentos do início da segunda metade do século XX. A continuar assim a coisa não pode dar bom resultado.


Arco da velha
"Não tenho o talento e as qualidades que um primeiro-ministro deve ter" - José Sócrates em entrevista ao DNA, de 16 de Setembro de 2000.


Agenda
No Museu da electricidade a nova exposição de fotografias de Paulo Catrica intitulada "A Prospectus Archive" e que é baseada nos bastidores do Teatro de S. Carlos; Ainda na fotografia, destaque para a exposição que assinala o 6º aniversário da KGaleria, agora com o seu espaço renovado, na Rua das Vinhas 43 A. Trata-se de uma exposição dos fotógrafos do colectivo Kameraphoto intitulada "Schadenfreude", apresentada como "uma denúncia da compartimentação dos géneros fotográficos".


Ler
Na edição da revista "Monocle" deste mês de Abril, destaco a reportagem sobre uma série de actividades económicas que, em vários locais do mundo, estão a gerar pequenas bolsas de emprego, apostando na qualidade, na manufactura de objectos invulgares, no regresso ao fabrico em pequenas séries, na criação de pequenas e médias empresas, como exemplo de criatividade e desenvolvimento - e se olharmos para a exposição "Ordem de Compra", em baixo referida, não posso deixar de pensar nisto . Outros artigos interessantes abordam o que é a rádio hoje em dia, oferecem um olhar sobre Sidney e um guia destacável sobre Madrid, muito bem feito, óptimo para guardar - para quando um assim, sobre Lisboa?


Ver
Por iniciativa da Experimenta Design, a exposição "Ordem de Compra" reúne cerca de duas centenas de exemplos de bom design, com aplicação industrial, vindos de 75 empresas nacionais, em sectores de referência como a porcelana, o vidro, a cortiça e o calçado, bem como produtos que usam tecnologias avançadas, destinados a nichos de mercado ou à exportação. A exposição está no Palácio Quintela, ao Chiado, e pode ser vista de terça a Domingo, das 10h00 às 20h00, com entrada gratuita e até 3 de Julho.


Provar
Por menos de seis euros pode escolher um belo petisco: uma das magníficas conservas da Tricana, acompanhada por bom pão e um copo de vinho. A coisa passa-se todos os dias, ao almoço ou ao lanche, no 128 da Avenida Conde de Valbom, quase a chegar à Fundação Gulbenkian. Há várias outras sanduíches e petiscos e uma oferta vasta de produtos nacionais - de conservas a azeites, passando por doces - incluindo uma caixa de sardinhas…. de chocolate.



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