Opinião
A ilusão da multiplicação de acções
Empresas fazem “stock splits” pós-subidas acentuadas para criarem a ilusão de que a acção fica mais barata.
Comente aqui o artigo de Ulisses Pereira
O mundo dos mercados está cheio de operações financeiras completas. Por vezes, os pequenos accionistas têm dificuldades em compreender aumentos de capital, operações harmónio, entre outras operações, cujo impacto no mercado e nas cotações não é de fácil compreensão para quem é menos conhecedor da matemática financeira. Mas há uma operação que é de tão fácil compreensão que me faz confusão como baralha tanto os investidores e tem um impacto tão grande no curto prazo no mercado - o stock split. E esta operação feita nas últimas semanas pela Apple e pela Tesla moveu o mercado, pelas razões erradas.
O stock split é uma operação muito simples em que a empresa multiplica o número das suas acções no mercado, multiplicando também o número de acções detidas pelos seus accionistas. Por exemplo, num stock split de 5 para 1, cada accionista fica com 5 vezes mais acções do que detinha anteriormente. É uma operação meramente contabilística, não alterando o valor da empresa, nem o valor da carteira do accionista. Imaginemos um investidor que detém 1.000 acções da empresa X que estão a cotar a 10 euros. Se a empresa decidir fazer um stock split de 5 para 1, o mesmo investidor ficará com 5.000 acções mas o preço deverá ajustar para 2 euros, pelo que o valor da sua carteira não se altera.
Se isto em nada afecta o valor da empresa, porque é que empresas como a Tesla ou a Apple o fazem? A sua justificação é para aumentar a liquidez e para possibilitar que investidores com menos dinheiro possam comprar as suas acções. Mas alguém acha que uma empresa como a Apple precisa de aumentar a sua liquidez quando negoceiam em média 170 milhões de acções por dia?
Sejamos honestos. As empresas fazem stock splits pós-subidas acentuadas para criarem a ilusão de que a acção fica mais barata. E como estas operações normalmente acontecem em bull markets, no curto prazo essa notícia é bem recebida pelo mercado. Irracionalmente, pois não tem qualquer impacto em termos de valor da empresa.
A Apple, depois do anúncio do stock split, subiu cerca de 40% num mês, tendo depois desvalorizado perto de 16% numa semana. Na Tesla, o impacto foi ainda maior, com a empresa a valorizar mais de 80% em apenas 20 dias! Posteriormente, caiu mais de 30% em menos de duas semanas. Normalmente o que sucede (desde que estejamos em bull market) é um impacto positivo no muito curto prazo e depois uma correcção desses ganhos (ou de parte deles, uma vez que se estamos em bull markets é normal que a tendência seja de subida).
O que é verdadeiramente espantoso na Apple e na Tesla é a dimensão do impacto desse anúncio dos stock splits, o que mostra bem a loucura que se tem vivido no actual momento do mercado norte-americano. E se mais stock splits acontecerem, isso será um sinal de topo no mercado. Não critico quem compre acções por causa de um stock split mas espero que saiba que esse efeito mais cedo ou mais tarde esvanece-se. Porque uma operação desse género é apenas uma ilusão.
Artigo escrito em 11/09/20 às 11h20
Fontes: https://live.euronext.com/pt/
Ulisses Pereira não detém qualquer dos ativos analisados. Deve ser consultado o disclaimer integral aqui,onde também pode ser consultada a lista com as anteriores análises de Ulisses Pereira.
Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico
O mundo dos mercados está cheio de operações financeiras completas. Por vezes, os pequenos accionistas têm dificuldades em compreender aumentos de capital, operações harmónio, entre outras operações, cujo impacto no mercado e nas cotações não é de fácil compreensão para quem é menos conhecedor da matemática financeira. Mas há uma operação que é de tão fácil compreensão que me faz confusão como baralha tanto os investidores e tem um impacto tão grande no curto prazo no mercado - o stock split. E esta operação feita nas últimas semanas pela Apple e pela Tesla moveu o mercado, pelas razões erradas.
Se isto em nada afecta o valor da empresa, porque é que empresas como a Tesla ou a Apple o fazem? A sua justificação é para aumentar a liquidez e para possibilitar que investidores com menos dinheiro possam comprar as suas acções. Mas alguém acha que uma empresa como a Apple precisa de aumentar a sua liquidez quando negoceiam em média 170 milhões de acções por dia?
Sejamos honestos. As empresas fazem stock splits pós-subidas acentuadas para criarem a ilusão de que a acção fica mais barata. E como estas operações normalmente acontecem em bull markets, no curto prazo essa notícia é bem recebida pelo mercado. Irracionalmente, pois não tem qualquer impacto em termos de valor da empresa.
A Apple, depois do anúncio do stock split, subiu cerca de 40% num mês, tendo depois desvalorizado perto de 16% numa semana. Na Tesla, o impacto foi ainda maior, com a empresa a valorizar mais de 80% em apenas 20 dias! Posteriormente, caiu mais de 30% em menos de duas semanas. Normalmente o que sucede (desde que estejamos em bull market) é um impacto positivo no muito curto prazo e depois uma correcção desses ganhos (ou de parte deles, uma vez que se estamos em bull markets é normal que a tendência seja de subida).
O que é verdadeiramente espantoso na Apple e na Tesla é a dimensão do impacto desse anúncio dos stock splits, o que mostra bem a loucura que se tem vivido no actual momento do mercado norte-americano. E se mais stock splits acontecerem, isso será um sinal de topo no mercado. Não critico quem compre acções por causa de um stock split mas espero que saiba que esse efeito mais cedo ou mais tarde esvanece-se. Porque uma operação desse género é apenas uma ilusão.
Artigo escrito em 11/09/20 às 11h20
Fontes: https://live.euronext.com/pt/
Ulisses Pereira não detém qualquer dos ativos analisados. Deve ser consultado o disclaimer integral aqui,onde também pode ser consultada a lista com as anteriores análises de Ulisses Pereira.
Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico
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