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Opinião
Manuel Falcão - Jornalista 04 de Setembro de 2020 às 10:29

Um artista de variedades

A curiosidade é uma coisa tramada. Dizem até que os gatos correm risco de vida quando são demasiado curiosos.

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Back to basics
"É verdade que o conhecimento pode criar problemas, mas não é permanecendo ignorantes que os evitaremos"
Isaac Asimov

Um artista de variedades
A curiosidade é uma coisa tramada. Dizem até que os gatos correm risco de vida quando são demasiado curiosos. Os portugueses, pelo contrário, têm a sua curiosidade estancada pelas autoridades, e cada vez com maior frequência. Os gatos, por estas bandas, correm risco de vida quando andam nas cercanias dos governantes. Tomemos quatro casos recentes neste rectângulo à beira-mar plantado: a anulação dos debates quinzenais com o primeiro-ministro na Assembleia da República, cozinhada a meias entre Rui Rio e António Costa com o pretexto de deixar tempo ao Governo para trabalhar; as manobras do Governo para considerar ilegítimo o relatório da Ordem dos Médicos sobre o lar de Reguengos que criticava as autoridade de saúde locais; a tentativa de esconder o relatório e as recomendações da Direção-Geral da Saúde sobre a Festa do Avante!; e, finalmente, o caso da auditoria ao Novo Banco, que foi considerada confidencial. Cada vez que existe um tema quente, a primeira reacção deste Governo é esconder os detalhes, negar seja o que for, procurar atirar as culpas para cima de quem estiver à mão. Por vezes, os protestos são eficazes, outras vezes nem tanto. No caso do Novo Banco, a auditoria retoma aquela imagem da montanha que pariu um rato: afinal, estava tudo bem. Lê-se o que nos deixam ler, procura-se um culpado e chega-se à conclusão de que afinal havia outro, como numa célebre canção de Ágata. O Governo está a assemelhar-se a uma estação de rádio especializada em música pimba, para iludir a multidão e distrair as consciências. Costa é um grande artista de variedades, troca de papel com rapidez e à-vontade e aparece sempre sorridente em palco. E, quando não é aplaudido, lança ele próprio os foguetes - veja-se a sua recente entrevista a um jornal, cheia de fogo-de-artifício...

Semanada

O Fisco abriu uma página no Facebook, mas ainda não se sabe se é para ter seguidores ou para ir seguindo contribuintes  o Portal das Finanças recebeu 4.383 queixas  entrou em vigor o novo regimento da Assembleia da República que contém o acordo de Rio e Costa para acabar com os debates quinzenais entre deputados e o primeiro-ministro segundo o Instituto de Conservação da Natureza e Floresta, um terço dos incêndios tem mão criminosa nas últimas três décadas, o valor investido em obras na linha ferroviária que liga Lisboa ao Porto foi de 1,5 mil milhões de euros, o mesmo valor que teria custado fazer uma linha de alta velocidade as vítimas mortais de acidentes rodoviários em Julho deste ano aumentaram 50% em relação ao mesmo mês do ano passado mais de metade das estradas portuguesas têm má ou muito má qualidade, revela um estudo do Programa Europeu de Avaliação de Estradas entre Abril e Junho deste ano, o gasto das famílias em produtos alimentares foi de 6,2 milhões de euros, o valor mais alto de sempre num trimestre as famílias portuguesas gastaram menos 52 milhões de euros por dia na compra de bens e serviços durante o segundo semestre deste ano, em comparação com igual período do ano passado o desemprego entre jovens até aos 24 anos cresceu 37% este ano um estudo da Marktest indica que, este ano, descobrir o país é uma das actividades de que os portugueses mais gostam: 2,5 milhões revelaram essa preferência  cerca de mil parques infantis estão em risco de falência num sector que emprega mais de 3 mil pessoas a mortalidade em Agosto voltou a ser superior ao normal, mas só uma em cada cinco mortes em excesso foi devida à covid-19, sendo estimado que a redução de assistência médica e de cuidados sociais é a causa mais provável das restantes mortes.

Dixit
"A arte mais exigente da saúde pública é percorrer o estreito caminho entre proteger a saúde das pessoas (...) e evitar excessos na natureza e oportunidade das medidas a adoptar."
Constantino Sakellarides e Francisco George

Um mistério pessoano
Em Portugal há escritores que trabalham angustiados a pensar no prémio Nobel. Foi coisa que nunca passou pela cabeça a Fernando Pessoa. Mas, e se tivesse acontecido? Este é o ponto de partida para "A Segunda Vida de Fernando Pessoa", de João Céu e Silva. Editado originalmente durante o confinamento sob a forma de folhetim no Diário de Notícias, esta foi a maneira que o jornal escolheu para evocar os 150 anos da publicação de um outro folhetim que ficou célebre, "O Mistério da Estrada De Sintra", de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. "A Segunda Vida de Fernando Pessoa" conta a história de um homem que, através de experiências esotéricas, encarna um dos heterónimos de Fernando Pessoa e continua a obra do poeta rumo ao Nobel. O livro conta-nos a história de um misterioso especialista em estudos pessoanos que atrai um professor para a sua investigação sobre a relação de Pessoa com Aleister Crowley. Revive-se uma viagem ao passado, desde as primeiras correspondências até ao ponto em que o poeta português ajudou o ocultista britânico a forjar o suicídio na Boca do Inferno. Sem se aperceber, e através de experiências esotéricas e descobertas perturbadoras, o professor vai sendo moldado física e espiritualmente para encarnar Vicente Guedes, o heterónimo a quem inicialmente foi atribuído "O Livro do Desassossego", e continuar a obra do poeta, rumo ao Nobel. O romance de João Céu e Silva reata a tradição do folhetim, e mantém o seu elemento de "suspense" entre capítulos, criando uma atmosfera de mistério até ao final. Edição Guerra & Paz.

Confinamento exposto
Isabel Garcia desenvolveu o projecto da sua exposição "Seed", que inaugura dia 5 de Setembro na galeria Arte Periférica (CCB), durante o período do confinamento. No texto que escreveu para a exposição, Filomena Serra sublinha que os trabalhos apresentados são "um convite urgente a pensar a negociação entre a natureza e o ambiente". A exposição apresenta pequenos objectos em bronze patinado que são simultaneamente pequenos cofres e sementes e também pinturas sobre tela em duas séries - "Floating Seeds" e "Another Green World", na imagem, esta última criada a partir da evocação de uma composição de Brian Eno. Em Lisboa, a Galeria Vera Cortês prossegue o ciclo de exposições de curta duração, que coloca em diálogo obras de dois artistas. Até 9 de Setembro, poderão ver os trabalhos de José Pedro Croft e Catarina Dias (Rua João Saraiva 16-1.º). No Espaço Exibicionista (Av. Casal Ribeiro 18), Valentim Quaresma apresenta, entre 4 e 28 de Setembro, a exposição "Once Upon A Time", feita com base no conceito de criação de peças novas a partir da reutilização de materiais. E, para terminar, Paulo Brighenti apresentou esta semana um projecto a que devotou muito trabalho, a RAMA - Residências Artísticas da Maceira, localizada na Aldeia da Maceira em Torres Vedras. A RAMA destina-se a artistas, investigadores e curadores nacionais e internacionais e quer organizar residências artísticas, oficinas, exposições e palestras, de forma a fomentar a relação com a comunidade local, a cultura, os ofícios e os saberes tradicionais, a história e a paisagem rural, aprofundando o conhecimento da região. Mais informações em www.ramastudios.pt

Arco da velha
O PCP continuou a vender bilhetes para a Festa do Avante!, mesmo depois de já ter ultrapassado a lotação permitida pelas autoridades de saúde.

Uma voz à parte
Há uma dezena de anos, Gregory Porter era um ilustre desconhecido. Agora, a sua voz de barítono e o seu visual tornaram-se uma imagem de marca entre os cantores de jazz contemporâneos. Em 2017, lançou um álbum basicamente de versões de temas celebrizados por Nat King Cole e o seu último disco de originais datava de 2016. Quatro anos depois, regressa às suas próprias composições com o novo álbum "All Rise", agora editado. Aqui, mostra de novo os seus talentos de compositor, destacando-se a forma como escreve, tendo em conta as suas próprias características vocais e aproveitando-as ao máximo. A sua voz é notável, mas o seu talento de compositor também. Dos 16 temas deste disco, destacam-se "Phoenix", "Merry Go Round", "Long List Of Troubles" (e, se puderem, vejam como neste tema a voz se harmoniza com o som do órgão Hammond tocado por Ondrej Pivec), "Thank You", "Revival Song" e a balada "If Love Is Overrated". Neste seu sexto álbum, Gregory Porter vai do jazz à soul, passando pelo gospel. Fez-se acompanhar por uma secção de metais, um coro de 10 vozes e pela secção de cordas da London Symphony Orchestra. O trabalho de produção de Troy Miller (que, entre outros, trabalhou com Amy Winehouse), abriu toda a sonoridade do álbum. Disponível no Spotify.

A arte do filete
Tudo começou quando me gabaram os filetes de um restaurante na estrada de Birre, a caminho do Guincho, mais precisamente numa localidade chamada Areia. Disseram-me que O Correio era um restaurante simples, com decoração antiga, mas bom serviço, boa confecção e boa matéria-prima. A recomendação mostrou-se certeira e, numa mesa alargada, provou-se de tudo um pouco - os filetes de pescada, acompanhados de arroz de tomate no ponto, eram suculentos, o peixe era fresco e bem cortado, a fritura impecável e foram unanimemente elogiados: noutra ponta da mesa, era gabada a carne de porco à alentejana e, no meio, uma massada de peixe com gambas e um arroz de bacalhau com amêijoa também obtiveram sucesso, assim como uns belos carapaus de bom porte. A lista de vinhos tem sugestões correntes sem grandes desvarios, na mesa do lado foram muito gabados os mexilhões à espanhola acompanhados de batatas fritas caseiras. Confirmo, pois, o que me disseram: a comida é muito boa, o serviço é atencioso e a conta não é pesada. "O Correio" fica na Rua da Areia 1406, com o telefone 214 860 039.
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