Opinião
Promessas & disfarces
Ainda a campanha eleitoral mal começou e já se percebe que estes políticos que se servem de nós através do voto transformaram a política numa actividade pouco recomendável.
Back to basics
"Em última análise, ou queremos ser recordados pelo que nos aconteceu ou queremos ser recordados pelo que fizemos."
Randy K. Milholland
Promessas & disfarces
Ainda a campanha eleitoral mal começou e já se percebe que estes políticos que se servem de nós através do voto transformaram a política numa actividade pouco recomendável. Na semana passada, surgiram muitos anúncios de obras, uma ideia recorrente dos anos eleitorais. Num balanço rápido e não exaustivo, recordo-me de nos últimos dias ter ouvido prometer uma nova ponte sobre o Tejo, uma milionária linha circular de metro, uma nova "Expo" na zona ocidental da cidade e mais algumas coisas avulsas que, contas por alto, se atiram para centenas de milhões de euros em obras. Face a esta fartura de recursos, só posso ficar espantado que não se encontre algum dinheiro para investir numa política de médio-prazo de gestão florestal, que os meios aéreos continuam a faltar, que o ordenamento das zonas do interior, mais vulneráveis aos fogos, continue eternamente adiado. O que se passa nesta matéria é um retrato da política tal como ela é praticada - todos os anos se garante que se aprende com os erros cometidos e no ano seguinte lá estão os mesmos erros, as mesmas incúrias, as mesmas faltas. Há quem se preocupe muito - e com razão - com as "fake-news" das redes sociais. Mas vejo muita pouca gente, em todo o espectro político, a preocupar-se com o mais recorrente problema da sociedade portuguesa: a realidade escondida, o disfarce usado para evitar que se vejam as coisas como elas de facto são. Nestes quatro anos de tirocínio, a geringonça tirou um mestrado em camuflar a realidade. O pior aldrabão não é o que mente, é o que esconde, deturpa e disfarça.
Semanada
Os gastos do Estado em assessoria jurídica quase duplicaram no primeiro semestre • no início da semana, em apenas dois dias, duplicou a área ardida desde o início do ano • o primeiro-ministro tentou passar as culpas dos problemas no combate aos incêndios para os presidentes das Câmaras • quando estes incêndios começaram havia helicópteros de combate aos incêndios parados por falta de autorização da Agência Nacional da Aviação Civil • o transporte de um bombeiro ferido em estado grave para Lisboa demorou mais de quatro horas por uma série de falhas do INEM e de articulação com a Protecção Civil • durante a actual legislatura, apenas dois deputados não tiveram faltas registadas no Parlamento • em contrapartida, os deputados no seu conjunto faltaram, em média 24, vezes ao plenário da Assembleia ao longo dos quatro anos da legislatura • a Protecção Civil deve meio milhão de euros aos bombeiros relativos ao combustível utilizado nas deslocações para o combate a fogos • segundo o Ministério Público, no caso das armas roubadas em Tancos, o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, exerceu o poder de "forma perversa, bem sabendo que estava a beneficiar e proteger criminosos".
Dixit
"O nacionalismo e o populismo extremista - que dantes eram fenómenos marginais na política europeia - tornaram-se agora problemas centrais. Parece-me que a Europa está num estado de espírito semelhante ao dos anos 30."
Graydon Carter, na apresentação da nova publicação online Air Mail.
Uma investigação
Um facto curioso sobre Martin Amis, um dos mais afamados escritores britânicos contemporâneos, é que até meio da adolescência apenas lia banda desenhada. O seu pai, Kingsley Amis, trabalhou com os serviços secretos ingleses e, nessa qualidade, esteve em Portugal no tempo da guerra - daí resultando o romance "I Like It Here". Martin estudou literatura inglesa em Oxford e começou a escrever bem cedo - o seu primeiro romance, "The Rachel Papers", foi publicado em 1973, tinha ele 24 anos. Mas foi mais tarde que ganhou notoriedade e fama com "Money" (1984) e "London Fields" (1989), ambos centrados na emergente forma de vida de jovens profissionais com êxito na sociedade britânica daquela época. "The Night Train" é bem diferente - foi publicado em 1997, já tinha sido editado há uns anos em Portugal e a Quetzal reeditou-o agora numa nova e boa tradução de Telma Costa. "O Comboio da Noite" é um "thriller" que tem como protagonista Mike Hoolihan, uma mulher polícia de uma cidade americana, que investiga a morte de Jennifer Rockwell, filha do seu antigo chefe, Tom Rockwell. Tudo aponta para um suicídio. Jennifer Rockwell, uma astrofísica bem-sucedida e respeitada, não tinha aparentemente razão para tirar a sua própria vida. A detective Hoollihan, uma alcoólica em recuperação, envolve-se no caso e descobre uma série de factos que a levam a mudar de opinião, ou pelo menos a ter muitas dúvidas. Perturbada com o que descobriu sobre os últimos dias da vida de Jennifer, a detective entra num bar onde volta a beber… Aqui está um belo policial para este verão.
Arco da velha
"Com tantas sondagens, pergunto se ainda vale a pena fazer eleições" - a pergunta foi feita por Rui Rio e é esclarecedora sobre o seu entendimento do funcionamento da comunicação na sociedade.
Navalha & nervos
Na Rua da Esperança há uma livraria/galeria chamada Tinta Nos Nervos. A exposição que lá está até 30 de Agosto chama-se "Fio da Navalha" e inclui vídeos de William Kentridge, desenhos de Pedro Proença, desenhos e pequenas instalações de Ema Gaspar e fotografia manipulada digitalmente de José Cardoso. A representação de William Kentridge é assegurada por uma selecção dos seus flipbook films, pela projecção de "Second Hand Reading", uma obra de 2013 com música de Neo Muyanga, e de "Tango For The Page Turning", com música de Philip Miller. Pedro Proença exibe uma série de 14 desenhos a que chamou "O Exílio dos Contos" (na imagem), que funcionam como pedaços isolados de uma banda desenhada do quotidiano. São desenhos cáusticos, onde o humor faz parte do sentido de observação e com o traço inconfundível de Proença. Cada um vale bem os 900 euros, o preço pelo qual estão à venda. Por ocasião desta exposição, a Tinta Nos Nervos editou também um livro com desenhos de 2010 de Pedro Proença, "Tomai E Comei", que tem por subtítulo "Os Teólogos Compra Carne no Talho Errado", uma espécie de banda desenhada num registo fantástico que o autor fez para o seu filho e que é uma pequena delícia. Se, além da exposição, derem uma vista de olhos nas prateleiras da livraria, verão o muito que na área do desenho e da banda desenhada a Tinta Nos Nervos tem para oferecer. E ao fundo existe ainda uma pequena cafetaria com esplanada. Tinta Nos Nervos - Rua da Esperança 39, a Santos.
O disco
"Com Que Voz", de Amália Rodrigues, por muitos considerado como o melhor disco português de sempre, conjugando coerência artística, elevação poética e requinte musical - como faz notar Frederico Santiago, que se tem dedicado a recuperar o arquivo de gravações de Amália. Acabado de gravar em Janeiro de 1969, "Com Que Voz" só foi editado em Março de 1970. Trata-se do primeiro disco de Amália em que todos os fados foram compostos por Alain Oulman, para acompanhar poetas como, entre outros, David Mourão-Ferreira, Cecília Meireles, Alexandre O’Neill, Ary dos Santos e Luís de Camões - cujo "Com Que Voz" dá aliás título ao álbum. A capa foi concebida pelo atelier Conceição e Silva e as fotografias eram de Nuno Calvet. O LP original tinha 12 temas, incluindo "Havemos de Ir A Viana", "Gaivota", "Formiga Bossa Nova" ou "Naufrágio", entre outros. Neste disco estão incluídos mais nove registos, gravados na época, alguns deles inéditos. O disco foi gravado em pouco tempo, com Fontes Rocha e Carlos Gonçalves na guitarra e Pedro Leal e Fernando Alvim na viola. O trabalho de Fontes Rocha com Alain Oulman foi discreto, mas marcante, nas introduções e finais dos temas, como refere Nuno Vieira de Almeida no texto que escreveu para esta edição. E Nuno Vieira de Almeida finda o texto descrevendo "Com Que Voz" como um "disco perfeito", cujos doze números musicais são "verdadeiras preciosidades" que evidenciam "uma unidade vocal e de tratamento poético invejáveis para qualquer músico". CD Valentim de Carvalho.
Como partilhar um molho?
Fui cheio de esperança ao restaurante Attla, sobre o qual li e ouvi numerosos elogios. Saí um bocado desiludido. Não comi mal e reconheço que a maior parte do que comi tinha uma preparação cuidada. O problema é que o próprio restaurante incentiva a que os pratos sejam partilhados e, na maioria dos casos, a partilha é difícil e frustrante. As doses são pequenas, o que até se pode compreender, e partilhá-las é uma tarefa complicada na maior parte dos casos, até porque os molhos são parte essencial da maioria das propostas da carta e os pratos, sem esses molhos, perdem muito da sua personalidade e interesse. E partilhar molhos é coisa complicada… Por outro lado, o próprio empratamento dos pratos a partilhar torna a tarefa ainda mais difícil. Talvez se forem só duas pessoas, a coisa se torne mais simples, mas numa mesa de meia-dúzia de pessoas, a partilha é impossível. Teria ficado bem mais satisfeito se me dessem a possibilidade de me atirar a doses inteiras, e um pouco mais generosas, de algumas das coisas boas como o camarão de ova azul, com leite de amêndoa, bisque e noodle de batata ou a massa de azeite glaceada com cacau, sapateira, sour cream e flor de chagas ou, ainda, os cogumelos cantharellus com barigoulle de carapau, trigo sarraceno, nori e espuma de batata. Já a couve flor glaceada com vinagre de sabugueiro, satay de espinafres e azedas foi uma desilusão. Desigual esteve a sobremesa, chocolate do Equador, bolacha de alfarroba e avelã, acompanhado de gelado de eucalipto. A bolacha de alfarroba era insípida e o gelado dominava os outros sabores. A lista de vinhos é curta, mas esse não é o maior problema deste restaurante - que terá de decidir se quer privilegiar as provas difíceis ou uma refeição com os sabores e experiências que propõe, mas mais tradicional no serviço. O Attla fica em Alcântara, na rua Gilberto Rola 65, está aberto de terça a sábado ao jantar e com reservas através das aplicações habituais ou do telefone 211 510 555.
"Em última análise, ou queremos ser recordados pelo que nos aconteceu ou queremos ser recordados pelo que fizemos."
Randy K. Milholland
Promessas & disfarces
Ainda a campanha eleitoral mal começou e já se percebe que estes políticos que se servem de nós através do voto transformaram a política numa actividade pouco recomendável. Na semana passada, surgiram muitos anúncios de obras, uma ideia recorrente dos anos eleitorais. Num balanço rápido e não exaustivo, recordo-me de nos últimos dias ter ouvido prometer uma nova ponte sobre o Tejo, uma milionária linha circular de metro, uma nova "Expo" na zona ocidental da cidade e mais algumas coisas avulsas que, contas por alto, se atiram para centenas de milhões de euros em obras. Face a esta fartura de recursos, só posso ficar espantado que não se encontre algum dinheiro para investir numa política de médio-prazo de gestão florestal, que os meios aéreos continuam a faltar, que o ordenamento das zonas do interior, mais vulneráveis aos fogos, continue eternamente adiado. O que se passa nesta matéria é um retrato da política tal como ela é praticada - todos os anos se garante que se aprende com os erros cometidos e no ano seguinte lá estão os mesmos erros, as mesmas incúrias, as mesmas faltas. Há quem se preocupe muito - e com razão - com as "fake-news" das redes sociais. Mas vejo muita pouca gente, em todo o espectro político, a preocupar-se com o mais recorrente problema da sociedade portuguesa: a realidade escondida, o disfarce usado para evitar que se vejam as coisas como elas de facto são. Nestes quatro anos de tirocínio, a geringonça tirou um mestrado em camuflar a realidade. O pior aldrabão não é o que mente, é o que esconde, deturpa e disfarça.
Os gastos do Estado em assessoria jurídica quase duplicaram no primeiro semestre • no início da semana, em apenas dois dias, duplicou a área ardida desde o início do ano • o primeiro-ministro tentou passar as culpas dos problemas no combate aos incêndios para os presidentes das Câmaras • quando estes incêndios começaram havia helicópteros de combate aos incêndios parados por falta de autorização da Agência Nacional da Aviação Civil • o transporte de um bombeiro ferido em estado grave para Lisboa demorou mais de quatro horas por uma série de falhas do INEM e de articulação com a Protecção Civil • durante a actual legislatura, apenas dois deputados não tiveram faltas registadas no Parlamento • em contrapartida, os deputados no seu conjunto faltaram, em média 24, vezes ao plenário da Assembleia ao longo dos quatro anos da legislatura • a Protecção Civil deve meio milhão de euros aos bombeiros relativos ao combustível utilizado nas deslocações para o combate a fogos • segundo o Ministério Público, no caso das armas roubadas em Tancos, o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, exerceu o poder de "forma perversa, bem sabendo que estava a beneficiar e proteger criminosos".
Dixit
"O nacionalismo e o populismo extremista - que dantes eram fenómenos marginais na política europeia - tornaram-se agora problemas centrais. Parece-me que a Europa está num estado de espírito semelhante ao dos anos 30."
Graydon Carter, na apresentação da nova publicação online Air Mail.
Uma investigação
Um facto curioso sobre Martin Amis, um dos mais afamados escritores britânicos contemporâneos, é que até meio da adolescência apenas lia banda desenhada. O seu pai, Kingsley Amis, trabalhou com os serviços secretos ingleses e, nessa qualidade, esteve em Portugal no tempo da guerra - daí resultando o romance "I Like It Here". Martin estudou literatura inglesa em Oxford e começou a escrever bem cedo - o seu primeiro romance, "The Rachel Papers", foi publicado em 1973, tinha ele 24 anos. Mas foi mais tarde que ganhou notoriedade e fama com "Money" (1984) e "London Fields" (1989), ambos centrados na emergente forma de vida de jovens profissionais com êxito na sociedade britânica daquela época. "The Night Train" é bem diferente - foi publicado em 1997, já tinha sido editado há uns anos em Portugal e a Quetzal reeditou-o agora numa nova e boa tradução de Telma Costa. "O Comboio da Noite" é um "thriller" que tem como protagonista Mike Hoolihan, uma mulher polícia de uma cidade americana, que investiga a morte de Jennifer Rockwell, filha do seu antigo chefe, Tom Rockwell. Tudo aponta para um suicídio. Jennifer Rockwell, uma astrofísica bem-sucedida e respeitada, não tinha aparentemente razão para tirar a sua própria vida. A detective Hoollihan, uma alcoólica em recuperação, envolve-se no caso e descobre uma série de factos que a levam a mudar de opinião, ou pelo menos a ter muitas dúvidas. Perturbada com o que descobriu sobre os últimos dias da vida de Jennifer, a detective entra num bar onde volta a beber… Aqui está um belo policial para este verão.
Arco da velha
"Com tantas sondagens, pergunto se ainda vale a pena fazer eleições" - a pergunta foi feita por Rui Rio e é esclarecedora sobre o seu entendimento do funcionamento da comunicação na sociedade.
Navalha & nervos
Na Rua da Esperança há uma livraria/galeria chamada Tinta Nos Nervos. A exposição que lá está até 30 de Agosto chama-se "Fio da Navalha" e inclui vídeos de William Kentridge, desenhos de Pedro Proença, desenhos e pequenas instalações de Ema Gaspar e fotografia manipulada digitalmente de José Cardoso. A representação de William Kentridge é assegurada por uma selecção dos seus flipbook films, pela projecção de "Second Hand Reading", uma obra de 2013 com música de Neo Muyanga, e de "Tango For The Page Turning", com música de Philip Miller. Pedro Proença exibe uma série de 14 desenhos a que chamou "O Exílio dos Contos" (na imagem), que funcionam como pedaços isolados de uma banda desenhada do quotidiano. São desenhos cáusticos, onde o humor faz parte do sentido de observação e com o traço inconfundível de Proença. Cada um vale bem os 900 euros, o preço pelo qual estão à venda. Por ocasião desta exposição, a Tinta Nos Nervos editou também um livro com desenhos de 2010 de Pedro Proença, "Tomai E Comei", que tem por subtítulo "Os Teólogos Compra Carne no Talho Errado", uma espécie de banda desenhada num registo fantástico que o autor fez para o seu filho e que é uma pequena delícia. Se, além da exposição, derem uma vista de olhos nas prateleiras da livraria, verão o muito que na área do desenho e da banda desenhada a Tinta Nos Nervos tem para oferecer. E ao fundo existe ainda uma pequena cafetaria com esplanada. Tinta Nos Nervos - Rua da Esperança 39, a Santos.
O disco
"Com Que Voz", de Amália Rodrigues, por muitos considerado como o melhor disco português de sempre, conjugando coerência artística, elevação poética e requinte musical - como faz notar Frederico Santiago, que se tem dedicado a recuperar o arquivo de gravações de Amália. Acabado de gravar em Janeiro de 1969, "Com Que Voz" só foi editado em Março de 1970. Trata-se do primeiro disco de Amália em que todos os fados foram compostos por Alain Oulman, para acompanhar poetas como, entre outros, David Mourão-Ferreira, Cecília Meireles, Alexandre O’Neill, Ary dos Santos e Luís de Camões - cujo "Com Que Voz" dá aliás título ao álbum. A capa foi concebida pelo atelier Conceição e Silva e as fotografias eram de Nuno Calvet. O LP original tinha 12 temas, incluindo "Havemos de Ir A Viana", "Gaivota", "Formiga Bossa Nova" ou "Naufrágio", entre outros. Neste disco estão incluídos mais nove registos, gravados na época, alguns deles inéditos. O disco foi gravado em pouco tempo, com Fontes Rocha e Carlos Gonçalves na guitarra e Pedro Leal e Fernando Alvim na viola. O trabalho de Fontes Rocha com Alain Oulman foi discreto, mas marcante, nas introduções e finais dos temas, como refere Nuno Vieira de Almeida no texto que escreveu para esta edição. E Nuno Vieira de Almeida finda o texto descrevendo "Com Que Voz" como um "disco perfeito", cujos doze números musicais são "verdadeiras preciosidades" que evidenciam "uma unidade vocal e de tratamento poético invejáveis para qualquer músico". CD Valentim de Carvalho.
Como partilhar um molho?
Fui cheio de esperança ao restaurante Attla, sobre o qual li e ouvi numerosos elogios. Saí um bocado desiludido. Não comi mal e reconheço que a maior parte do que comi tinha uma preparação cuidada. O problema é que o próprio restaurante incentiva a que os pratos sejam partilhados e, na maioria dos casos, a partilha é difícil e frustrante. As doses são pequenas, o que até se pode compreender, e partilhá-las é uma tarefa complicada na maior parte dos casos, até porque os molhos são parte essencial da maioria das propostas da carta e os pratos, sem esses molhos, perdem muito da sua personalidade e interesse. E partilhar molhos é coisa complicada… Por outro lado, o próprio empratamento dos pratos a partilhar torna a tarefa ainda mais difícil. Talvez se forem só duas pessoas, a coisa se torne mais simples, mas numa mesa de meia-dúzia de pessoas, a partilha é impossível. Teria ficado bem mais satisfeito se me dessem a possibilidade de me atirar a doses inteiras, e um pouco mais generosas, de algumas das coisas boas como o camarão de ova azul, com leite de amêndoa, bisque e noodle de batata ou a massa de azeite glaceada com cacau, sapateira, sour cream e flor de chagas ou, ainda, os cogumelos cantharellus com barigoulle de carapau, trigo sarraceno, nori e espuma de batata. Já a couve flor glaceada com vinagre de sabugueiro, satay de espinafres e azedas foi uma desilusão. Desigual esteve a sobremesa, chocolate do Equador, bolacha de alfarroba e avelã, acompanhado de gelado de eucalipto. A bolacha de alfarroba era insípida e o gelado dominava os outros sabores. A lista de vinhos é curta, mas esse não é o maior problema deste restaurante - que terá de decidir se quer privilegiar as provas difíceis ou uma refeição com os sabores e experiências que propõe, mas mais tradicional no serviço. O Attla fica em Alcântara, na rua Gilberto Rola 65, está aberto de terça a sábado ao jantar e com reservas através das aplicações habituais ou do telefone 211 510 555.
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