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19 de Outubro de 2018 às 10:48

O trauliteirismo remodelativo

Tancos ainda não acabou. Depois do Governo, vem a remodelação militar. O chefe do Estado-Maior do Exército mandou uma mensagem às tropas a dizer que se ia embora porque "as circunstâncias políticas assim o exigiam"

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Deus criou os homens, mas são eles que se escolhem uns aos outros.
Nicolau Maquiavel

O trauliteirismo remodelativo
Tancos ainda não acabou. Depois do Governo, vem a remodelação militar. O chefe do Estado-Maior do Exército mandou uma mensagem às tropas a dizer que se ia embora porque "as circunstâncias políticas assim o exigiam" e o Presidente da República, e Comandante Supremo das Forças Armadas, disse que o pedido de demissão do general Rovisco Duarte se devia a "razões pessoais". Vai uma diferença grande entre uma afirmação e outra. Mas não foi a única peripécia de Marcelo esta semana: depois de há uns meses ter alertado para os perigos de orçamentos eleitoralistas, esta semana veio explicar, sob a sua habitual capa didáctica, que era normal, a um ano de irem a votos, os partidos terem tentações eleitoralistas. Difícil de perceber? Nem por isso. Chama-se a isto querer agradar a gregos e a troianos ou, numa outra versão, querer tapar o sol com a peneira. E esta foi a semana da grande remodelação - sendo que o facto mais relevante foi a ascensão de uma estrela socrática, João Galamba, que se caracteriza por ser um dos mais vivos defensores do trauliteirismo no debate político e que se tornou um perito na manipulação dos factos. O folclore da remodelação foi apenas uma pastilha para a azia em época de Orçamento do Estado. Foi o segundo capítulo da pré-campanha eleitoral. Como Manuel Villaverde Cabral escreveu, a remodelação é sempre um sinal de fraqueza de quem escolheu mal.

Dixit
"É aguinha de rosas servida em taça de prata para lavar as mãozinhas? Quem nos está a falhar na Justiça? Quem nos está a tramar e a proteger bandidagem?"
Ana Gomes
Eurodeputada do PS, sobre as penas suspensas aplicadas pelo Tribunal aos ex-gestores do Banco Privado Português.

Semanada
 Segundo o Eurostat, Portugal é o país europeu com mais pessoas perto da exclusão: 2,4 milhões em risco de pobreza  as famílias portugueses continuam a pagar mais IRS do que antes da crise  em 2019, o Fisco prevê arrecadar a maior receita de sempre, mais de 45,6 mil milhões
de euros na cobrança de impostos directos e indirectos  um relatório da Organização Internacional do Trabalho caracteriza como "precário e desigual" o emprego português no pós-crise  entre Janeiro e Setembro de 2018, chegaram ao Portal da Queixa cerca de 2.034 reclamações dirigidas ao sector da Saúde, verificando-se um aumento na ordem os 72%, comparativamente ao período homólogo  os dois ministérios que tutelam as entidades que previnem e combatem incêndios - Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural e Administração Interna - são os únicos com cortes no Orçamento do Estado  das 88 pessoas que já passaram pelo Governo de António Costa, apenas 22 nunca mudaram de cargo desde o início e o ministério com maior número de mudanças é o da Cultura  78,6% dos utilizadores de internet portugueses dizem aceder às redes sociais entre as 20h e as 22h, em cima do período nobre tradicional dos canais de televisão.

Insultos ilimitados
Há um livro recente que certamente não entra na Biblioteca de Serralves. Chama-se "O Pequeno Livro Dos Grandes Insultos" e a sua substância foi recolhida por M.S. Fonseca. Já havia dicionários de calão, mas não havia um repositório tão completo de insultos. Quando digo insultos, os estimados leitores nem imaginam o que lá podem encontrar. Aconselho que o procurem nas livrarias e o espreitem. Dificilmente resistirão a levá-lo, uma vez constatada a enorme utilidade que pode ter no dia-a-dia. Por exemplo, depois de ouvir as audições sobre Serralves na Comissão de Cultura do Parlamento, apeteceu-me despejar em cima daquela gente o conteúdo total do livro. Este é também o livro ideal para animar debates com o novo governante Galamba ou para qualquer programa de análise de ocorrências futebolísticas e, em geral, todas as outras de grau zero de bom senso. Também deve ser bom para uma conversa com pessoas como Ana Avoila ou Mário Nogueira, quando nos querem fazer passar por parvos. "A matéria deste livro é o palavrão, matéria com que se desfazem sonhos, reputações ou egos", escreve o seu autor no texto de introdução, no qual classifica o insulto como "a última fronteira da linguagem" ou, de forma mais explícita, "o palavrão é a linguagem em cuecas".


Bolsa de valores
Na Galeria João Esteves de Oliveira (Rua Ivens 38, em Lisboa), a quarta exposição individual do arquitecto Álvaro Siza Vieira, sob o título "À Mão Livre", até 24 de Novembro. São 20 desenhos figurativos, inéditos, de 29,7x21 cm, e o preço de venda de cada obra é 2.700 euros. 

Pergunta ociosa
O atraso de mais de meio ano no início de pagamentos das reformas pela Segurança Social e Centro Nacional de Pensões é uma forma de cativação da despesa do Estado? O Governo e os seus aliados prevêem estabelecer um prazo máximo de resposta para o início do pagamento após o pedido ser efectuado? 


O riso dos outros
Évora está cada vez mais no roteiro das artes. Depois da programação africana do Verão do Palácio Cadaval, a Fundação Eugénio de Almeida põe de pé uma das exposições que vale a pena visitar. Trata-se de "O Riso dos Outros", de Pedro Proença, um exercício de construção de uma história, através de imagens, baseada em personagens ficcionadas. Na exposição, desdobram-se as criações de Pedro Proença e das personagens que ele criou, John Rindpest, Sandralexandra, Sóniantónia, Rosa Davida, Pierre Delalande, Bernardete Bettencourt, que exibem palavras e objectos, biografias e bibliografias, desenhos e colagens, variações sobre a criação. Ao mesmo tempo, Pedro Proença criou um livro, com o mesmo título da exposição, já editado pela sistema solar. É um livro-catálogo pensado ao pormenor por Pedro Proença, que gosta do trabalho gráfico, como gosta de desenhar em grandes superfícies uma espécie de bandas desenhadas gigantes - que na exposição coexistem com pequenos desenhos e grafismos. Até 31 de Março, a exposição está no Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida. Contemporâneo e correligionário de Pedro Proença no grupo dos homeostéticos Manuel João Vieira, tem na Casa Atelier Vieira da Silva (ao Jardim das Amoreiras, próximo do bar Procópio), até 13 de Janeiro, a exposição "Theatro Natural". Outras duas exposições que vale a pena visitar são "A Vocação dos "Ácaros", de José Loureiro, na Fundação Carmona e Costa, e "How Do They Feel", do artista norte-americano Matt Mulican, na Galeria Cristina Guerra - até 23 de Novembro.

A rainha da soul music
Foi em 1967, tinha ela 25 anos, que Aretha Franklin teve o seu primeiro Top One na lista dos singles mais vendidos nos Estados Unidos com a canção I Never Loved A Man (The Way I Love You). Nos três anos seguintes, ela passou do anonimato à fama, de uma cantora quase desconhecida de Memphis a uma voz reconhecida mundialmente. Uma nova colectânea, The Atlantic Singles Collection 1967-1970, inclui 34 canções que são o retrato desse tempo em que ela cantou o amor, a felicidade, mas também a perda e a amargura, tudo com uma voz e um estilo inconfundíveis. Trata-se de um duplo CD em que as canções surgem por ordem cronológica. A sua edição original foi em seis álbuns: I Never Loved A Man The Way I Love You (1967), Aretha Arrives (1967), Lady Soul (1968), Aretha Now (1968), Soul '69 (1969), This Girl's In Love With You (1970), e Spirits In The Dark (1970). A única excepção é a versão que Aretha gravou para Border Song, de Elton John, que primeiro foi editada como single em 1970 e só depois surgiu num álbum, Young, Gifted And Black, em 1972. A colectânea inclui originais da própria Aretha, como Prove It e Think, mas também uma versão pouco conhecida que ela gravou em 1968 de Respect, um original de Otis Redding, ou o grande êxito que foi a sua interpretação de I Say A Little Prayer. Uma das coisas interessantes é notar a capacidade de Aretha Franklin em interpretar canções alheias, como as já referidas, mas também as suas versões de You Send Me, de Sam Cooke, The Weight que foi originalmente gravada por The Band, Eleanor Rigby ou Let It be dos Beatles, The House That Jack Built ou Son Of A Preacher Man.

Ousar sanduichar!
A sanduíche aberta é comum nos países nórdicos, os espanhóis têm uma adaptação nas tapas e o torricado ribatejano pode ainda ser considerado primo afastado do conceito. De uma forma geral, um pedaço de pão com alguma coisa suculenta em cima entra nessa família. Por cá, estamos mais habituados a sanduíches fechadas, em que o recheio, normalmente modesto, fica entre duas fatias ou metades de uma carcaça. Para mim, o ideal é usar um bom pão de centeio (o da serra da Estrela feito pelo Museu do Pão é o que prefiro), levemente tostado. A partir daí é adicionar o que se quiser - mas comecemos por barrar o pão - e aí tudo depende daquilo que vamos usar. As minhas matérias-primas preferidas são a de paiola de porco preto cortada muito fina ou lombo fumado, truta ou arenque fumado, ventresca ou muxama de atum e queijo da ilha. Como preparar o pão? Se a sandes for de paiola (ou bom lombo fumado) barro com mostarda de Dijon; se usar a truta ou arenque, prefiro requeijão espalhado, temperado com endro e pimenta; para o atum prefiro uma boa maionese que tempero com ervas finas; e para o queijo nada melhor que um chutney. Em todos estes casos gosto de colocar por cima da matéria-prima principal pickles de pepino e/ou cebola, tomate-baby cortado em metades, basílico, frequentemente folhas de espinafre-baby, agrião ou rúcula. Umas azeitonas ao lado também ficam bem. Com um ligeiro aquecimento, o pão fica mais estaladiço e suporta melhor o que lhe pusermos em cima. Depois é escolher o que se quer beber e comer uma refeição fácil de fazer e cheia de sabores.


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