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10 de Maio de 2019 às 11:09

Matraquilhos na Assembleia

A política portuguesa começa a assemelhar-se a uma partida de matraquilhos jogada ao fim da tarde, em que os vários partidos vão sendo eliminados ao longo de um torneio fictício com batotas avulsas pelo meio.

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Corrijam-me se estiver enganado, mas creio que a delicada linha entre a sanidade e a loucura está a ficar cada vez mais ténue.
George Price

Matraquilhos na Assembleia

A política portuguesa começa a assemelhar-se a uma partida de matraquilhos jogada ao fim da tarde, em que os vários partidos vão sendo eliminados ao longo de um torneio fictício com batotas avulsas pelo meio. O que se passou na Assembleia da República sobre a recuperação do tempo de serviço dos professores assemelha-se, na sua displicência, a uma disputa entre adolescentes em torno de uma mesa de matraquilhos, cada um a ignorar regras. Se a Assembleia da República já é considerada um local pouco recomendável por muitos eleitores, a degradante cena agora exposta ao olhar público mais incita o eleitorado a descrer não só dos deputados, mas também dos dirigentes dos seus partidos. Segundo as regras estabelecidas pela Federação Portuguesa de Matraquilhos, no jogo de matraquilhos uma bola é considerada morta quando pára completamente o seu movimento e não está ao alcance de qualquer boneco de nenhum jogador. Depois dos movimentos iniciais, isto foi o que sucedeu. A bola ficou parada e agora ninguém a quer. Lamentável todo o processo - um "case study" de oportunismo político e insensatez que mostra como a falta de uma estratégia bem pensada produz desvarios tácticos. Um resultado lamentável, poluído de declarações ainda mais lamentáveis vindas de todos os intervenientes.

Semanada
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, 1,78 milhões de portugueses vivem com menos de 467 euros por mês, o que significa 17,3% dos portugueses segundo o Banco de Portugal, o país está mais pobre face à Europa do que antes da adesão à moeda única e a falta de produtividade compromete a melhoria de bem-estar sustentável dos portugueses no futuro constrangimentos financeiros fizeram o IPO recusar análises a doentes com cancro e vários acabaram por morrer  um relatório da Deloitte, relativo à Primavera de 2019, indica que em relação ao semestre anterior a percentagem dos que arriscam uma evolução positiva para o PIB nacional afunda de 70% para 45% segundo o mesmo relatório, três em cada quatro responsáveis financeiros de empresas assumem que este não é um bom momento para assumir riscos maiores no balanço mais de 150 autarquias em todo o país estão a ter atrasos significativos no pagamento a fornecedores Portugal só usou 25% das verbas europeias para integrar refugiados e imigrantes l as queixas por atrasos nos pedidos de reforma, que nalguns casos podem chegar aos três anos, dispararam 88% nos últimos seis meses Rui Rio afirmou que o PSD não recuou na questão dos professores e que foi tudo uma enorme confusão provocada por jornalistas Mário Nogueira anunciou estar a considerar se continua no PCP depois do que se passou com a questão da contagem do tempo de serviço dos professores.

Dixit
"O nosso homem continua a confundir a família do Rato com o país."
Vasco Pulido Valente sobre António Costa

Renascer no meio de ruínas
Um homem parte da sua terra para um país distante que está a sair de uma guerra devastadora. O ponto de partida é a Islândia, o destino é um dos países dos Balcãs onde vizinhos lutaram contra vizinhos. O homem tem como objectivo suicidar-se e para isso escolheu um hotel outrora famoso e agora decadente no meio de destroços da guerra. Envolvido pela população local, que descobre as suas habilidades como reparador de pequenas coisas, o homem reconstrói casas e a sua própria vida. Na Islândia, não tinha vida social nem sexual, trabalhava numa loja herdada do pai. Decide vendê-la e partir sem avisar ninguém. Tinha decidido suicidar-se quando soube que não era o pai biológico da sua filha, decidiu afinal viver depois de fazer reviver uma aldeia e da atracção consumada por uma ex-estrela de cinema à procura de novo rumo. Esta é a história de "Hotel Silêncio" (originalmente "Ör", que significa cicatriz) A autora é Auður Ava Ólafsdóttir, a mais premiada escritora islandesa. Este livro agora editado em Portugal ganhou o Prémio de Melhor Romance Islandês, Prémio dos Livreiros Islandeses e Prémio de Literatura do Nordic Council. A autora já escreveu cinco romances, é dramaturga, contista e professora universitária. E tem um humor fino e incisivo.

No princípio é o desenho
Depois de ter estado em Guimarães, a exposição antológica de desenhos de Rui Chafes está, até 19 de Maio, na Casa da Cerca, em Almada. Com o título "Desenho Sem Fim", a exposição apresenta trabalhos que vão de 1980 a 2017 e mostra uma faceta menos conhecida do trabalho de Rui Chafes, conhecido sobretudo como escultor. A sequência da exposição não respeita a cronologia dos trabalhos, reunindo-os em núcleos nos quais, como sublinha o texto que acompanha a exposição, "existem alguns aspectos que são recorrentes e que extravasam os núcleos independentes para se repetirem, por vezes com grandes hiatos temporais: o uso repetido de materiais que não pertencem ao domínio dos materiais "de arte", como remédios, tinturas, chá, flores esmagadas e que convocam uma inescapável ligação ao corpo e à sua permanente queda". A curadoria é de Nuno Faria e Delfim Sardo. Em simultâneo, decorre no Convento dos Capuchos uma exposição de esculturas de Rui Chafes. Entretanto, assinalem nas agendas que no dia 18, sábado da próxima semana, Vera Mantero e Rui Chafes apresentam na Casa da Cerca a sua "performance" "Comer o coração nas árvores", uma colaboração entre os dois artistas, na qual a coreógrafa e bailarina se cruza com as esculturas de Rui Chafes. Inicialmente concebida para a Bienal de São Paulo 2004 e com o título de "Comer o coração", a "performance" teve nova versão em 2015 e 2016 e a sua evolução passou pela criação de uma nova escultura de Rui Chafes, pensada para suspensão em árvores de grande porte. De apresentação muito esporádica, esta possibilidade de descobrir o trabalho conjunto de Vera Mantero e Rui Chafes no próximo dia 18 é uma ocasião a não perder.

Arco da velha
Em Abril, a ASAE ficou sem 30 viaturas utilizadas nas acções de fiscalização e perdeu as únicas cinco carrinhas frigoríficas que asseguravam o transporte de alimentos apreendidos.

Instantes decisivos em Cascais
Robert Doisneau, o retratado nesta imagem com uma Rolleiflex nas mãos, dizia, sobre a fotografia que "as maravilhas da vida quotidiana são tão entusiasmantes que nenhum realizador consegue encontrar o inesperado que se encontra nas ruas." Doisneau é um dos grandes fotógrafos presentes na exposição "Instantes Decisivos", que está patente até 14 de Julho no Centro Cultural de Cascais. A exposição inclui algumas das fotografias mais célebres de Man Ray, Robert Doisneau, Alfred Stieglitz, Carlos Saura, Elliott Erwitt, Alberto Korda e Henri Cartier-Bresson, entre outros, tudo obras pertencentes à "Colleción Himalaya", do colecionador espanhol Julián Castilla.

18 novos hinos
Depois de uma pausa de seis anos sem novos discos, os Vampire Weekend regressam com "Father Of The Bride". A produção é de Ariel Rechtshaid e do líder da banda, Ezra Koenig, e entre os convidados estão Dave Longstreth (Dirty Projectors), Steve Lacy (The Internet), Danielle Haim e Jenny Lewis. O novo álbum, o quarto da banda, é um cruzamento entre a angústia e o optimismo, como o The Guardian o classificou, e evidencia um olhar pop atento sobre os tempos que vivemos. Tem 18 canções, quase todas surpreendentes e exemplares, a começar por "Sunflower". Irresistível.

Provar
O Kook In foi ideia de Pedro Batista, que tem restaurantes Kook em Luanda, e que se associou a Rui Oliveira e Francisco Bessone, os fundadores do Nómada. O Kook In está aliás no local onde o Nómada se encontrava inicialmente, Avenida Visconde de Valmor 40A. Propõe um menu de almoço a 18 euros, mas não inclui "couvert", bebida ou café - apenas entrada, prato do dia e sobremesa. Na verdade, o menu de almoço com "couvert", um copo de vinho e café não ficará abaixo dos 27 euros, o que está fora dos preços usuais para este tipo de oferta. O preço desajustado é aliás o principal problema deste restaurante, onde o serviço tem alguma tendência a impingir mais uma coisinha, sempre com a maior simpatia. A ideia é entrar no campo da comida portuguesa contemporânea, em que o empratamento compensa o que falta no resto, como se estivesse num concurso de Instagrams. A cozinha é chefiada por Lázaro Glória, 28 anos, que com esta idade, antes de entrar neste projecto, já estagiou no Ritz, cozinhou no Penha Longa, no Mandarin Oriental de Londres e passou uma temporada na Austrália. De entre as propostas do "Chef", provei o bacalhau assado com ovas grelhadas e migas de feijão frade com chouriço e couve cortada para caldo verde (18€) - o bacalhau era bom e estava bem, as ovas eram insípidas e as migas estavam secas demais. No "couvert", destaco a qualidade das azeitonas e do pão da casa, que evoca uma "focaccia", além de um broa honesta. A lista de vinhos é bem escolhida, mas com preços altos. Uma refeição completa ("couvert", entrada, prato, sobremesa) para duas pessoas, com vinho, dificilmente ficará abaixo dos 70 euros. É demais para o sítio e a qualidade.



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