Opinião
Esquina do Rio
Já há 23 sindicatos de professores e o mais recente é dirigido por um bloquista cuja primeira proposta foi fazer greve aos exames.
Back to basics
Seduzir é a forma de ouvir um sim, sem sequer formular uma pergunta.
Albert Camus
Gosto
A venda de sacos de plástico caíu 94% em três anos de taxa.
Não gosto
A espera média por uma primeira consulta da especialidade é superior a um ano em 20 hospitais públicos.
Arco da velha
O presidente da Entidade de Contas e Financiamentos Políticos alertou para o risco de prescrição de muitos processos sobre contas dos partidos e das campanhas eleitorais porque o Estado não dá meios suficientes para desempenhar a sua missão.
Dixit
"Aprende-se muito sobre uma pessoa quando se partilha uma refeição com ela"
Anthony Bourdain
SEMANADA
• A maioria dos financiamentos bancários às empresas tem valor abaixo dos 25 mil euros • o preço dos combustíveis está a subir desde 2004, apesar das variações de preço da matéria-prima • o CDS vai apresentar no Parlamento uma proposta para eliminar a sobretaxa sobre os combustíveis criada em 2016 pelo actual Governo • o imposto sobre gasóleo subiu 56% desde a liberalização • segundo dados da Comissão Europeia, na primeira semana de junho o litro do gasóleo custava em média 1,38 euros nos postos portugueses e 1,24 euros/litro nos espanhóis • 28% é a quebra estimada de empregados nas regiões de fronteira portuguesas entre 2015 e 2050, contra 13% nas suas vizinhas espanholas • em 2017 o investimento imobiliário em Portugal atingiu os 22 mil milhões de euros • nos cinco primeiros meses deste ano, o número de espectadores de cinema diminuiu 17,5% • já há 23 sindicatos de professores e o mais recente é dirigido por um bloquista cuja primeira proposta foi fazer greve aos exames • segundo a OCDE, Portugal está fora dos melhores exemplos de formação e avaliação de professores • os portugueses gastaram 24,4 milhões de euros no ano passado em produtos destinados a fazer emagrecer • o sector público português demora 86 dias a pagar e é o segundo pior entre 29 países europeus • Portugal não utilizou 75% dos apoios comunitários destinados a fornecer fruta e vegetais às crianças nas refeições escolares • 32% dos portugueses já fizeram pelo menos uma vez compras online e 25% fizeram-no nos últimos 12 meses • só 133 das 1.125 casas destruídas pelos incêndios do ano passado já foram reconstruídas • Marcelo Rebelo de Sousa afirmou preferir a "paciência dos acordos à volúpia das rupturas, mesmo que tentadoras".
FOLHEAR
"A Rosa do Adro" é um dos romances portugueses mais populares no final do século XIX e início do século XX. A primeira edição data de 1870. Teve dezenas de edições, várias adaptações para teatro e duas versões em filme - uma de 1919, ainda no tempo do cinema mudo, realizada por Georges Pallu e outra, de 1938, com realização de Chianca de Garcia e com Maria Lalande, Costinha e Tomás de Macedo no elenco. A história é a de uma costureira, pobre, de seu nome Rosa, que vive com a avó numa aldeia minhota e se enamora por Fernando, um filho de ricos lavradores e finalista de Medicina, a estudar no Porto, mas muito ligado à sua aldeia. António, um jovem camponês, modesto, ama Rosa, que não corresponde e que está cada vez mais envolvida com Fernando, um amor contrariado pelos pais do rapaz e criticado na aldeia. Depois de muitas peripécias Fernando e Rosa casam mas a felicidade dura pouco e ambos morrem - ela de tuberculose, ele na sequência de maleitas contraídas numa emboscada armada por António. A história não acaba aqui - mas o melhor é descobrirem o livro, agora reeditado pela Guerra & Paz. O autor de "A Rosa do Adro" é Manuel Maria Rodrigues, que começou como tipógrafo no Comércio do Porto, onde depois trabalhou como jornalista na segunda metade do século XIX. Foi um dos fundadores da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto e escreveu vários outros romances. Ignorado pela crítica. que menosprezava a sua obra, ele retratou a sociedade da sua época, dos amores e desamores entre gente modesta e outra mais abastada. Vergílio Ferreira considerava intrigante como um livro ignorado por todas as histórias da literatura portuguesa "perdure para o interesse de sucessivas gerações".
OUVIR
Começo por avisar que "Live In Europe", de Melody Gardot, apesar da sua capa, que aqui se reproduz, e da fama (e proveito) de algum jazz vocal, não é nenhum enfado delico-doce morninho e sem rasgo. Antes pelo contrário, é o fruto do trabalho de uma grande vocalista, especialmente talentosa e versátil, e dos músicos que escolheu para a acompanhar. Melody Gardot navega nas águas do jazz, dos blues, do gospel e da soul e entre as suas confessadas influências estão nomes como Janis Joplin, Miles Davis ou Caetano Veloso. Melody Gardot Live In Europe recolhe num duplo CD 17 canções gravadas entre 2012 e 2016 numa série de concertos. Na realidade o álbum é o resultado da selecção de cerca de 300 gravações efectuadas em diversas ocasiões numa dezena de cidades europeias, entre as quais Lisboa. A selecção foi feita pela própria Melody Gardot e o único tema que não é da sua autoria é o clássico "Over The Rainbow", aqui alvo de uma completa transformação para uma versão inspirada no samba, Os arranjos são bem diferentes das versões de estúdio, na maioria musicalmente inesperados e dignos de nota, sobretudo em temas como "The Rain", "March For Mingus", "Baby I'm A Fool" e "My One And Only Thrill". Duplo CD Decca, distribuído por Universal Music.
VER
Como pode uma fotografia de casamento surpreender? Encontra a resposta na quase clandestina e mal divulgada Galeria de Exposições da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior (Rua dos Fanqueiros 170 ou Rua da Madalena 149) onde está uma exposição de fotografias de António Leitão Marques intitulada "Jardim de Namorados - A Arte de Casar em Moçambique". Como a galeria sublinha, "os casamentos populares em Moçambique são um ritual surpreendente e para poderem realizar esta cerimónia, muitos casais esperam anos até conseguir juntar os meios necessários para tal. Por vezes, o casamento ocorre numa fase tardia da vida fazendo-se os noivos acompanhar dos filhos ou mesmo dos netos. Mas, seja qual for a idade, a cerimónia realiza-se sempre com grande solenidade, sendo um acontecimento de grande importância para a família e para os convidados em que a fotografia, em jardins públicos ou na praia continua a ser um testemunho fundamental do evento. Outra sugestão a propósito de casamentos - na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (Jardim das Amoreiras) "O Outro Casal", uma exposição baseada no trabalho de Helena Almeida e Artur Rosa que segue uma metodologia especial - "o processo quase sempre se inicia pelo desenho: Helena Almeida desenha primeiro as posições, os movimentos em que o seu corpo será registado e depois, em sessões a dois, faz-se fotografar pelo seu marido Artur Rosa. Mas por vezes Artur Rosa também entra na imagem. Esta exposição centra-se precisamente nesses registos em que os dois aparecem, tanto em fotografia como em vídeo."
O MÁGICO
Talvez na sequência de ter chamado o ilusionista Luís de Matos para ajudar na propaganda governamental, António Costa parece querer passar de hábil negociador a mágico ilusionista. É que Costa sabe que vai precisar de muitos golpes de magia para conseguir passar a prova do próximo Orçamento de Estado. A vantagem é que agora tem dois palcos. Num deles pode dançar com o Bloco perante o olhar crítico do PCP; e no outro palco pode ensaiar uma rábula com Rui Rio, que já se ofereceu várias vezes para o papel, sempre pronto a dar uma ajuda. A grande questão é saber o que lhe será mais interessante a médio prazo: manter o motor da geringonça a funcionar, embora com solavancos, ou dar uma facadinha na relação e provocar uma crise de ciúmes, passeando de braço dado pelo Rio. Resta um cenário ainda mais surrealista - acordos com o Bloco de um lado e com o PSD de outro, deixando de lado o PCP e o PP. Já houve casos assim noutros países europeus e Costa gosta de levar as suas experiências ao limite. A negociação e a conspiração são o oxigénio que o alimenta. No recente congresso do PS todos assistimos à forma como permitiu aos jovens turcos avançar, deixando-os tornarem-se alvos fáceis. António Costa tem prazer em imaginar cenários difíceis, estômago para alianças complicadas e habilidade para sair de becos sem saída. Vamos ver o que conseguirá agora com a ajuda da magia.
PROVAR
O Bella Ciao é uma cantina familiar, que oferece comida caseira italiana, tradicional, com massas Cecco de boa qualidade e no ponto certo de cozedura. Até há poucos meses estava na Rua do Crucifixo e tinha uma sala bem mais pequena que nas novas instalações, ali perto, na Rua de S. Julião. O novo local é amplo, bem iluminado, mas mantém o aspecto tradicional e despretensioso que era a boa imagem de marca da casa. O vinho da casa, nomeadamente o tinto, é de boa estirpe, os preços são acessíveis. Nas entradas destaque para uma tábua de queijo pecorino de ovelha, pão e salame. O chefe Marcello manda frequentemente para a mesa um pratinho com atum temperado e uns farrapos de salada. Outra entrada apreciada é a tradicional vitella tonato - fatias finas, com um molho à base de maionese, alcaparras, atum, anchovas e salsa. Acompanhado por uma salada pode resolver uma refeição. Nas massas destaque para os penne primavera, para o linguine com salmão fumado ou os bucatini alla matriciana, tudo receitas tradicionais bem executadas. O meu prato favorito é orechetti com brócolos, anchovas, alho e queijo grana padrano. Muito apreciados também são o risotto de cogumelos e os papardelle com funghi porcini frescos e autênticos. Nas sobremesas o tiramisú é afamado e para os viciados avisa-se que mousse é de Nutella. O serviço , a cargo do incansável Pina, é muito simpático. Restaurante Bella Ciao, Rua de S. Julião 24-26, telefone 308 803 844.