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Manuel Falcão - Jornalista 31 de Julho de 2020 às 10:30

E no futuro?

É esta síndroma do apeadeiro, do satisfazer todas as clientelas, de fazer um favorzinho local, que nos trama.

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"Há reuniões que são indispensáveis quando o objectivo é fazer com que nada avance"  
John Kenneth Galbraith


E no futuro?
O Plano Costa e Silva é-me simpático. Gosto de alguém que tem a coragem de dizer que não lhe interessa se as ligações rápidas de ferrovia devem chamar-se alta velocidade ou velocidade alta, o que é preciso é desenvolver a ferrovia; mas não gosto de quem, numa viagem de 300 quilómetros, quer já começar a criar apeadeiros, como já vi alguns autarcas fazer. É esta síndroma do apeadeiro, do satisfazer todas as clientelas, de fazer um favorzinho local, que nos trama. A coisa complica-se, porque para o ano há eleições autárquicas e a tentação da prebenda e do favor ao putativo candidato vai ser grande. Gostei de ouvir um membro do Governo dizer que, antes de construir um novo aeroporto e derreter lá milhões, vale a pena estudar a utilização de Beja e construir ligações rápidas para lá. Gosto de quem não aceita a fatalidade de promessas ínvias e se dispõe a olhar para a realidade. O que mais desejo ao plano apresentado por Costa e Silva é que consiga fazer alguma coisa do que lá está indicado, que não se caia no facilitismo do turismo efémero, e que se pense numa estratégia consolidada de desenvolvimento, de apoio a empresas que criem valor acrescentado na produção industrial que podem fazer. Espero sinceramente que daqui a uns anos o Estado saiba onde anda o Plano Costa e Silva e o balanço que dele é feito. Recordo que o célebre Relatório Porter, que continha boas pistas, anda desaparecido nas grutas fantasmagóricas dos ministérios, ninguém sabe (li há pouco…) onde anda o original e ninguém se deu ao trabalho de avaliar quais as propostas apresentadas que foram para a frente e com que resultado. O plano Costa e Silva precisa de investimento, já se sabe que vêm aí milhões da Europa - o meu desejo é que estes sirvam para alguma coisa de produtivo, e não para encher uns quantos bolsos ou fazer obras de fachada. Como li esta semana, "aprecie-se o fado, mas abandone-se o queixume". E olhe-se para o futuro, sem complexos nem pagamentos de promessas.

Semanada
 No Parlamento, o Governo só respondeu a 65% das perguntas enviadas pelos partidos durante este ano parlamentar, de Outubro a Julho  a Assembleia da República recebeu nesta sessão 373 sugestões de cidadãos  na sessão legislativa que agora finda, o Parlamento aprovou mais leis propostas pelo PCP do que pelo PS  o Novo Banco vendeu a preço de saldo 13 mil imóveis a um fundo localizado nas ilhas Caimão e foi o próprio banco que fez o empréstimo para se fazer o negócio que gerou perdas de centenas de milhões, cobertas pelo Fundo de Resolução; a economia portuguesa perdeu, entre os meses de Fevereiro e de Maio, cerca de 183 mil empregos   cada computador utilizado para fins pedagógicos nas escolas tem de ser partilhado, em média, por cinco alunos  durante os primeiros seis meses do ano, a receita fiscal caiu 14%   em Maio deste ano, havia um total de 2.722 doentes em casa, um aumento de 396% face ao mesmo período do ano anterior   a Polícia Judiciária estima que a lavagem de dinheiro no País feita por redes internacionais duplicou em apenas meio ano  o Banco de Portugal detectou, até meados de Julho, 21 entidades de crédito a actuar em Portugal, mais do dobro do número registado na totalidade de 2019  em Julho, foram registados mais de 2000 incêndios um estudo recente indica que as minorias étnicas ou religiosas aparecem em apenas 2% das notícias  durante o período do confinamento, registou-se em Portugal menos 30% de ruído e as duas primeiras semanas de Abril foram as mais silenciosas  houve cinco grandes operações de créditos e imóveis que provocaram perdas de 600 milhões de euros no Novo Banco, uma delas envolvendo uma empresa onde anteriormente trabalhava o actual "chairman" do Banco.

Dixit
"Os clubes de futebol em Portugal não ficam rigorosamente nada atrás dos exércitos de Trump, Bolsonaro ou Modi na Índia. Os assessores passaram a ser diretores de propaganda" 
Ricardo Costa, Diretor de Informação da SIC


DOCUMENTOS FOTOGRÁFICOS
Nos últimos anos, a fotografia ganhou novas formas de visualização - não só nas redes sociais, em particular no Instagram, mas também através de edições limitadas de revistas, "fanzines" e livros. João Miguel Barros é um advogado e fotógrafo que divide a sua vida entre Macau e Lisboa, e também entre o Direito, organização de exposições e a edição. ZinePhoto é o seu projecto editorial, de autor, a preto e branco, e cada edição é dedicada a um tema autónomo. O primeiro número de ZinePhoto é dedicado à Wisdom School, no Gana. As imagens deste número integravam a exposição "Wisdom", realizada em Macau no mês de Junho de 2019. Cada número, impresso de forma cuidada em máquina plana, num grande formato (40x28,5cms), com acabamento manual, é um objecto de colecção. O número 1 teve 500 exemplares editados, o número 2 de ZinePhoto teve 300 e é dedicado a Jamestown, um bairro que data do século XVII na cidade de Accra, também no Gana, país a que João Miguel Barros se dedicou, realizando ali vários ensaios fotográficos. Detentor de vários prémios internacionais, o trabalho de Barros é tipicamente focado em temas aos quais se dedica com persistência, como acontece nestes dois primeiros números do Zine Photo, que podem ser encontrados em Lisboa, no Photo Book Corner, e brevemente na Under The Cover (ambas na Marquês Sá da Bandeira) e na Stet (Alvalade).

LISBOA FORA DAS CIDADES DA MONOCLE
A edição de Julho/ Agosto da Monocle é habitualmente um exemplar de referência, que engloba a avaliação "Quality Of Life", um "ranking" de bons sítios onde se pode viver. Muito dedicado às cidades, à vida além do confinamento, ao ressurgir do comércio de rua e à descoberta de bons lugares, este número da revista dá muitas pistas para pensar. Este ano, o quadro de avaliação mudou do padrão habitual e a Monocle foi à procura de novos projectos urbanísticos, que estão a tentar trabalhar para que as suas comunidades tenham uma vida melhor e sejam mais felizes. Lisboa deixou, portanto, de estar no "ranking", já que Medina virou a cidade para os visitantes e ignorou deliberadamente as comunidades locais, os lisboetas, aqueles que vivem na cidade há décadas. Facilitou a sua expulsão e quis brincar aos legos dentro do espaço urbano. O resultado é péssimo para quem cá vive. Adiante na Monocle de Verão. Génova, Zurique, Estocolmo, Hamburgo e Copenhaga são destaques na Europa, Seattle e Vancouver no continente americano, e Kuala Lumpur, Bangkok, Beirute e Nairobi no resto do mundo. Analisando a acção de responsáveis na governação de cidades, a revista elogia Jose Luis Martinez- Almeida, o alcaide de Madrid que, tendo sido eleito à direita, conseguiu ganhar o apoio alargado dos madrilenos pelo trabalho desenvolvido durante o confinamento e o desconfinamento. Ora aqui estão também duas situações em que Medina não funcionou. Para o ano, há autárquicas - espero que se lembrem disso se por acaso surgirem candidatos que se vejam.

Arco da Velha
O Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra está há 11 anos a decidir se é legal uma urbanização em Carnaxide, em grande parte construída e onde já mora gente.


SALADA FRIA
É Verão, está calor, o que fazer para um almoço de amigos? Conselho: comprar umas postas de garoupa (podem ser do rabo da dita), juntar uns camarões descascados (podem ser congelados) de bom tamanho, cozer a garoupa de forma a ficar consistente, reservar no frio. Em relação à alface, o meu conselho é cortá-la fina, misturá-la com tomate cherry maduro cortado em oitavos, pepino aos cubos pequenos, alcaparras. Quando tudo estiver pronto e misturado, envolver o peixe os camarões já preparados e depois adicionar uma maionese - ultimamente, gosto de temperar a maionese da Hellmann’s com sumo e raspas de casca de lima e também pimentão doce fumado, sal e pimenta, tudo bem misturado, e em seguida envolvê-la na salada com todos os ingredientes. Aconselho a ter de lado pão torrado ou tostas para ir acompanhando. Na parte mais líquida, digamos assim, tenho a proposta de um vinho fresco, recentemente introduzido no mercado, o 100% Alvarinho 2019, de João Portugal Ramos, aromático, cítrico, com um bom final. Óptimo para combinar com uma salada fria de bom peixe. "Enjoy", que o Verão não dura sempre.


SAMBA STREAMING
Uma das vantagens de uma "playlist" de uma das plataformas de "streaming" é pôr a coisa a tocar um par de horas, no estilo de música que escolhemos, e ficar a ouvir. Por estes dias, a etiqueta Verve, uma das referências musicais da indústria discográfica, criou a "playlist" Summer Samba, disponível nomeadamente na Spotify e Apple Music, com 53 temas e mais de quatro horas de música. Aqui estão nomes incontornáveis, como Astrud Gilberto, Stan Getz, João Gilberto, Edu Lobo, Sérgio Mendes, Elis Regina, António Carlos Jobim, Bebel Gilberto, mas também Diana Krall, Milt Jackson, Dizzy Gillespie, Joe Henderson, Wes Montgomery, Coleman Hawkins, Quincy Jones ou Herbie Hancock. Esta é a época em que a bossa nova se cruzou com o jazz, em que os músicos americanos descobriram os brasileiros e vice-versa. Canções como "Garota de Ipanema" em várias versões, "Corcovado", "Água de Beber", "Samba De Uma Nota Só", "Águas de Março", "O Pato" ou "Berimbau", entre muitas outras. E no YouTube podem ver alguns dos vídeos, na "videoplaylist" Summer Samba. Em qualquer das versões, áudio ou vídeo, é grande companhia para um fim de tarde.

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