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Manuel Falcão - Jornalista 25 de Janeiro de 2013 às 09:45

A esquina do Rio

Por estes dias, li um comentário que me ficou no ouvido: se as eleições pudessem mudar alguma coisa, há muito que teriam sido ilegalizadas.

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Misses

Por estes dias, li um comentário que me ficou no ouvido: se as eleições pudessem mudar alguma coisa, há muito que teriam sido ilegalizadas. Quanto mais olho para o que se passa à volta, mais me convenço que este comentário está cheio de razão. Já tenho dito isto várias vezes, mas um sistema político que se baseia na votação de promessas, que sistematicamente não são cumpridas pelos eleitos, e em que não existe nenhuma punição além dos votos, é um sistema que facilita a desonestidade cívica. As eleições foram substituídas por uma espécie de concurso de popularidade, ou, se quiserem, uma disputa de misses. Só que em vez de misses desfilam políticos e, em vez de medidas tentadoras, há promessas enganadoras: "sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia" - nunca o desabafo escrito por Eça de Queiroz em "A Relíquia" se aplicou de forma tão certeira aos partidos que temos e às políticas que fazem.

 


TPC
Portugal anda a ficar parecido com a China de há uns anos atrás - um país, dois regimes. Por cá, o regime que Vítor Gaspar enaltece é diferente daquele que Álvaro Santos Pereira procura, e isso dá cada vez mais nas vistas. Esta semana, desdizendo tudo o que havia proclamado há poucas semanas, lá foi Gaspar ao reino de Bruxelas renegociar a dívida, montado, com abuso e fulgor, no regresso do País aos mercados - que pode vir a ser boa notícia. Se alguém tem de levar parabéns pelo tal regresso aos mercados, são todos os que recebem menos, que deixaram de ter trabalho ou pagam mais impostos para um Estado que, na essência, graças ao facilitismo gasparista, continua igual. Do trabalho de casa, o Governo só soube, até agora, conjugar bem o verbo tirar, ainda não conseguiu chegar à letra P, de poupar.

 


TV
A RTP anda num grande movimento de mudanças internas, fundindo ou extinguindo direcções, fazendo novas nomeações, mudando programas do norte para o sul e vice-versa, mesmo que por enquanto algumas mudanças sejam mais no papel que na realidade. Mas não vi ainda um movimento que seria o fundamental para um serviço público de televisão, com um papel estratégico no desenvolvimento da produção audiovisual: descontinuar a produção interna, passá-la para os produtores independentes. Continua sem existir uma reflexão orientadora e clara sobre a missão que a RTP deve desempenhar -, mas lá se vão fazendo mudanças, exonerações e nomeações, mesmo sem saber exactamente o objectivo e o propósito.

 


Ouvir
Numa época em que se tornou hábito as estrelas pop revisitarem repertórios alheios, o mais recente disco de Bryan Ferry é baseado num conceito surpreendente: em vez de revistar obra de terceiros, Ferry propõe temas de várias épocas da sua carreira, com os Roxy Music ou a solo, mas baseado na sonoridade do jazz dos anos 20 e 30 e com influências claras do tipo de arranjo que era praticado por Duke Ellington ou preferido por Louis Armstrong. No disco, Bryan Ferry não canta - os 13 temas, de "Do The Strand" a "Virginia Plain", passando por "Avalon", " Slave To Love", "The Bogus Man" ou "Don't Stop The Dance", são apenas instrumentais, muito transfigurados em relação aos originais, e ganham aqui uma nova dimensão - surpreendente e que dá que pensar sobre a forma como Ferry incorporou, desde o início dos Roxy Music, o que se sabia serem as suas referências e influências. A direcção musical é de Colin Good, que já tinha sido, com Ferry, o responsável pelos arranjos no disco de interpretações de standards "As Time Goes By". É muito estimulante que, ao fim de todos estes anos, Bryan Ferry continue a ser capaz de surpreender, como faz com este "The Jazz Age". (CD BMG na Amazon).

 


Semanada
2,6 mil milhões de euros foi o total pago em 2012 com o subsídio de desemprego; o número de casas entregues aos bancos baixou 21% em 2012; o mau tempo fez cair quatro árvores por minuto no sábado passado; PSP e GNR detêm uma média de 200 pessoas em cada mês por desobediência; António José Seguro diz que só com maioria absoluta será capaz de aplicar o seu programa; António Pires de Lima diz que António Costa está a provocar que António José Seguro tome "posições cada vez mais demagógicas e populistas"; António Capucho diz que "a confusão no Governo é total"; Passos Coelho diz que "ninguém aconselhou os portugueses a emigrar"; o número de portugueses que emigrou em 2011 aumentou 85% em relação a 2010 e a faixa etária mais numerosa é a dos 25 aos 29 anos; as remessas dos emigrantes em 2012, efectuadas até Novembro, ultrapassaram os valores totais de 2009, 2010 e 2011; 55% dos reformados do Estado em 2012 têm menos de 60 anos; no ano passado, quase 28 mil negócios fecharam as portas e a criação de sociedades abrandou 11,6%.

 


Arco da Velha
António José Seguro diz que "grande parte dos políticos portugueses está concentrada na trica e na intriga".

 


Provar
As cafetarias são uma espécie de pastelarias modernas, um pouco mais básicas, mas com os seus encantos. Perto do Saldanha, a um escasso quarteirão da Versailles, nasceu a Choupana Caffe, um conceito engraçado que junta uma cafetaria, padaria, pastelaria de fabrico próprio, um balcão de iogurtes e aquilo a que, com imaginação, chamam mercearia. Entre as sete da manhã e as oito da noite, todos os dias da semana, podemos ali petiscar - e aos fins-de-semana, os seus brunch estão a ganhar boa reputação. Durante a semana, ao almoço, é vulgar ver-se gente à espera de uma mesa. Um dia destes provei lá um honestíssimo bagel com queijo philadelphia, alcaparras e rúcula, precedido de uma boa sopa de espinafres - acompanhado por água e finalizado por um café e um pastel de nata - a coisa andou pelos dez euros. Os scones, os croissants, as panquecas com nutella ou os iogurtes biológicos com cereais, frutos secos e mel são já êxitos da casa. Espero que, com o tempo, o serviço melhore - não é por falta de empregados, andam é todos a correr de um lado para o outro e a fazer as mesmas coisas. No espaço, logo à entrada, existe uma zona
de venda de produtos, desde vinhos a azeites, passando por compotas (há uma de figo que ainda hei-de provar...) e biscoitos a peso - a tal mercearia. A Choupana fica na Avenida da República 25 A e o telefone é o 213 570 140.

 

 

Ver
"Chama Dupla" é o título da exposição de Paulo Brighenti que inaugurou esta semana na Galeria Baginski (Rua Capitão Leitão 51-53, ao Beato). Brighenti, um lisboeta que expõe regularmente desde meados da década de 90, ocupa as duas grandes salas da galeria com trabalhos onde explora a natureza da cor e a maneira como as suas variações podem afectar a evocação das paisagens que retrata. A técnica que utiliza privilegia a referência à memória, em detrimento da reprodução da realidade e, como se vê nas pequenas aguarelas que são o estudo das pinturas, o método é seguido desde o início da concepção de cada obra. O resultado é emocionante, e esta capacidade de transmitir sentimentos é o ponto marcante desta nova exposição na Baginski.

 


Folhear
A edição de Fevereiro da revista "Wallpaper", já disponível, é dedicada aos prémios de design que a publicação atribui anualmente. Apesar de ser indiscutivelmente interessante ver os premiados nas diversas categorias (livrarias, objectos, rebranding, lojas, utensílios e ideias diversas), o ponto alto da revista é um especial de duas dezenas de páginas dedicado à obra de Oscar Niemeyer - uma presença repetida nas páginas da "Wallpaper" ao longo dos anos. Não se trata de uma homenagem vulgar - é um portefólio de fotografias da obra do arquitecto, feitas por Todd Eberle, um fotógrafo de arquitectura que seguiu com persistência e sensibilidade a obra de Niemeyer. Além de uma conversa com Eberle, a revista publica dezenas de fotografias, a maioria das quais inéditas, que são um documento precioso. Só por isso vale a pena dar os nove euros que custa a "Wallpaper".

 


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mfalcao@gmail.com
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