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28 de Fevereiro de 2020 às 11:12

A grande contradição

Nas últimas semanas, assistimos ao anúncio, por Fernando Medina, de uma série de medidas de limitação do trânsito em zonas centrais de Lisboa.

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"O poder não garante inteligência."
Vasco Pulido Valente

A grande contradição
Nas últimas semanas, assistimos ao anúncio, por Fernando Medina, de uma série de medidas de limitação do trânsito em zonas centrais de Lisboa. As medidas anunciadas vêm na linha das sucessivas barreiras levantadas ao trânsito automóvel com o estreitamento das vias, como na Avenida Defensores de Chaves, onde foram colocados até obstáculos que, além de dificultarem a circulação, põem em causa a segurança, sobretudo em caso de transportes de urgência. A contradição é também evidente quando se observam obras como as que agora se desenvolvem na Rua de Campolide, onde se projecta alargar as faixas de uma via de entrada em Lisboa. O resultado será maior desconforto para os moradores locais, mais trânsito, ainda mais engarrafamentos no local - em suma, mais poluição daquela que se anuncia querer combater. Os maiores problemas do trânsito em Lisboa vêm do enorme número de carros que entram na cidade, porque os transportes não funcionam, não são essencialmente provocados pelos carros dos moradores locais. Com esta equipa autárquica, Lisboa está a transformar-se numa cidade que é estranha aos seus: uma cidade para visitantes, que prefere não ter os habitantes que lhe deram a aura que os turistas procuram. Ao retirar a população tradicional da cidade, substituindo-a por convidados eventuais, está a derrubar-se um dos pilares de uma cidade viva: ter gente de todas as idades e classes que a habite, no seu centro, e não na periferia. O que a dupla Salgado-Medina fez, aproveitando-se da conivência do simplório e triste Zé, foi fomentar a especulação imobiliária e destruir a diversidade. Agora vivemos numa cidade-montra onde se faz tudo menos tornar a vida mais fácil aos seus habitantes tradicionais. Parece que a cidade foi esvaziada e transformada num cenário. E quem paga os seus impostos na cidade, deixou de fazer parte do mapa.

Semanada

Há cinco meses que, por falta de condições, está suspensa a admissão de doentes para transplante de fígado no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra entre Janeiro e Novembro do ano passado, foram comprados nas farmácias 670 milhões de euros de medicamentos, mais 18,5 milhões que em período idêntico do ano anterior as burlas via SMS custam aos consumidores um milhão de euros por ano as famílias portuguesas gastaram, no ano passado, 9,7 mil milhões de euros nas compras para casa, incluindo produtos alimentares, um aumento de 4,8% face ao ano anterior os portugueses gastaram 890 milhões de euros em novos telemóveis durante o ano passado as pensões mínimas sobem 54 cêntimos por dia foi anunciado que o Novo Banco vai pedir mais de mil milhões de euros ao Fundo de Resolução, por causa dos prejuízos que registou de novo em 2019 a Comissão de acompanhamento dos ativos tóxicos do Novo Banco está incompleta há um ano e os seus responsáveis não conseguem encontrar quem se disponibilize a ir para lá um grupo de generais enviou uma carta ao Presidente da República alertando para "o processo de desconstrução e pré-falência com que as forças armadas se defrontam" as mortes por enfarte, AVC ou cancro estão nos níveis mais elevados desde 2008 o Ministério da Educação tem recusado dar a listagem das escolas das quais ainda não foi removido amianto.

Dixit
"Não deite nada fora! Mais que um arquivo, a Ephemera é um movimento pela memória, logo, pela democracia."
José Pacheco Pereira
no décimo aniversário da Ephemera.

A transformação dos móveis
Neste fim-de-semana, um bom número de galeristas e alguns artistas portugueses estão na ARCO Madrid. Mas, por cá, pode continuar a ver algumas das exposições que abriram durante o mês de Fevereiro. Comecemos por "Mais do Mesmo", de Patrícia Garrido, na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão, 18). Garrido usou móveis de proveniências diversas que a artista depois cortou em pedaços, criando a partir deles novas peças de várias formas, quase como a construção de um puzzle cuja imagem nada tem que ver com a do móvel original. É um campo de trabalho que Patrícia Garrido abriu há cerca de cinco anos e que já a levou a comprar recheios inteiros de casas para transformar em pedaços que criam novas peças. Há um ano, na Fundação EDP do Porto, apresentou uma dessas peças, de grande dimensão, que agora mostra pela primeira vez em Lisboa. A ideia é dar nova vida e nova forma a móveis que fizeram parte de outras vidas e a artista encara este seu trabalho como um olhar para o espaço interior que os móveis habitaram e propor, através da sua manipulação, um novo habitat. Além da peça de chão, na imagem, Patrícia Garrido expõe igualmente na Miguel Nabinho três pinturas. Outras sugestões: no Centro de Artes Visuais (Pátio da Inquisição 10, Coimbra), estão até 14 de Abril "Invalid Passwords" de Noé Sendas e "Unfinished Past" de Henrique Pavão. Em Lisboa, também até 14 de Abril, Hugo Brazão expõe "Out Of Sight, Out Of Mind"na Balcony, Rua Coronel Bento Roma 12. "Uma lufada de fumo na cara" é uma exposição sobre o acto de camuflar, com obras de Nicky Coutts, Theodore Ereira-Guyer, Mariana Gomes, Jorge Santos, Pedro Valdez-Cardoso e Carmela Garcia, trabalhos de desenho, gravura, xilogravura, fotografia e colagem - na Galeria Diferença, Rua S. Filipe Neri 42. Fora de portas, Cecília Costa expôs na Detour, em Beverly Hills, durante a Frieze Los Angeles. A Detour assume-se como uma plataforma sem local fixo que pretende conectar artistas, instituições e galerias para mostrar novas tendências da criação artística e que acolheu peças de Cecília Costa.

Crime histórico
Não existem muitos romances históricos em Portugal e os poucos que têm sido publicados são essencialmente à volta de figuras de primeiro plano da História. Construir um romance, com base em factos reais, à volta do relato do julgamento e condenação de uma mulher acusada de matar crianças, é a base de "A Assassina da Roda", de Rute de Carvalho Serra, uma jurista que se tem dedicado a estudar a criminalidade em Portugal ao longo dos tempos. Desta vez dedicou-se a contar o que sucedeu em 1772, quando Luísa de Jesus foi acusada de ter assassinado 33 crianças abandonadas e expostas na roda da Misericórdia de Coimbra. O intendente Pina Manique foi o seu julgador e a decisão do tribunal foi a pena de morte - Luísa de Jesus foi a última mulher executada em Portugal. O romance detalha os meandros da investigação e do julgamento, com os pormenores do interrogatório, violento, com as torturas permitidas à época. Toda a escrita está cheia de detalhe, mostrando como na instrução do processo pesaram os equilíbrios e ajustes do sistema judicial de então. Do romance não sai a certeza da culpa da condenada - cria-se uma dúvida que fica até ao relato da sua execução pública.

Método electrónico
A carreira de Rodrigo Leão tem sido uma sucessão de evoluções de projectos, desde os Sétima Legião em 1982, passando pelos Madredeus em 1985, até ao início da sua carreira a solo em 1993 com o disco "Ave Mundi Luminar". Há quase quatro décadas que o trabalho de Rodrigo Leão, nas várias etapas da sua carreira, marca a música portuguesa, quase sempre inovando. Após uma ausência discográfica de cerca de três anos, depois de "A Vida Secreta das Máquinas", "O Retiro" e "Life Is Long", eis que surge novo trabalho, "O Método". Não é nenhuma mudança drástica, mas é uma evolução assinalável, ao lado dos seus companheiros de sempre, Pedro Oliveira e João Eleutério. Desta vez chamou também um músico italiano, Federico Albanese, que trabalhou sobretudo nos arranjos e na utilização da electrónica, e participa em alguns temas (como o que dá o título ao disco). Além disso, Albanese foi o responsável pela presença de Casper Clausen, um dinamarquês que integra os Efterlang, e que empresta a voz a uma das composições. Aliás, a par do próprio Albanese. A russa Viviena Tupikova, a violinista que há uns anos trabalha com Rodrigo Leão, desta vez surge também a cantar num dos temas, "O Cigarro". Por fim, Rodrigo Leão utiliza a técnica de andar para trás na gravação (reverse), para distorcer a voz da própria filha no tema "Bailarina". De um modo geral, a electrónica é mais presente que em registos anteriores, incorporando as influências de compositores como Nils Frahm, Ólafur Arnalds ou Max Richter, como o próprio Rodrigo Leão aponta. Segundo ele, o trabalho que fez de ilustração musical para a exposição "Cérebro, Mais Vasto Que o Céu", na Fundação Gulbenkian foi um novo ponto de partida que acabou por resultar neste "O Método", mais minimalista, mais depurado, com maior recurso à electrónica e com uma energia renovada a que não é alheia a simplicidade de toda a sonoridade. Edição BMG, disponível no Spotify.

Arco da velha
A Polónia já ultrapassou Portugal em PIB por habitante, uma evolução de duas décadas, em contraste com quase 20 anos de estagnação em Portugal.

O sável
Esta época do ano é a boa altura para tomar o pulso a duas iguarias: sável e lampreia. De lampreia, ainda não lhe vi o rasto e tenho algumas dúvidas sobre o que se passa com o ciclópode face à proliferação de letreiros que dizem "há lampreia" num ano em que, segundo os entendidos, as condições climáticas não foram as melhores para a espécie. Um dia destes tentarei encontrar uma das boas e raras, que não venha congelada de paragens distantes do outro lado do oceano - e depois falaremos. Já do sável só tenho a dizer bem, os vários que provei já este ano estavam todos em boas condições. Permito-me destacar o mais recente, desta semana, no clássico Alfoz, de Alcochete. O sável veio cortado em fatias finíssimas, invulgarmente bem cortado, com uma fritura impecável, estaladiça e seca. Estava verdadeiramente fora de série, acompanhado por uma açorda de ovas que não desmereceu. Outra possibilidade teriam sido ovas de pescada grelhadas, acompanhadas de legumes salteados. Provadas as ovas, revelaram-se bem no ponto e saborosas, grelhadas sem terem ficado secas. Massada de garoupa, caldeirada de línguas de bacalhau com ovo escalfado e garoupa à Bulhão Pato são outras opções. O Alfoz continua a servir bem, a ter produtos frescos e a saber prepará-los, oferecendo uma soberba vista sobre o Tejo e Lisboa. Em meia hora, está-se lá e a relação qualidade-preço é muito boa. O Alfoz fica na Avenida D. Manuel I, em Alcochete, telefone 212 340 668.

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