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28 de Dezembro de 2018 às 10:40

O ano de todos os perigos

Quando a geringonça chegou ao poder, proclamou alto e bom som que vinha acabar com a degradação da coisa pública.

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Somos aquilo que decidirmos ser.
Ralph Waldo Emerson

O ano de todos os perigos
Quando a geringonça chegou ao poder, proclamou alto e bom som que vinha acabar com a degradação da coisa pública. Mas este Governo, erguido em nome da defesa do Estado "contra os malefícios do liberalismo", foi o que acabou por esvaziar o Estado de capacidade para dar resposta às necessidades dos cidadãos. É terrível vermos como, passados três anos, se constata que a lógica implacável da combinação da incompetência com a nova austeridade encapotada - a das cativações - atirou para o lixo a defesa dos serviços públicos: a educação, a saúde, a justiça, a segurança, os transportes e os equipamentos públicos degradaram-se continuamente; a coordenação entre serviços do Estado piorou, o desprestígio dos deputados e do Parlamento cresceu; o número de paralisações e greves com incidência na economia e no funcionamento de serviços essenciais aumentou; afinal, a geringonça fez o contrário do que prometia. Esta última semana do ano ficou marcada pela mensagem de Natal de António Costa - um autêntico manifesto eleitoral, repleto de promessas em todas as áreas, garantindo um futuro radioso se nele votarem, escamoteando qualquer referência a problemas recentes. António Costa joga na maioria absoluta -, e na mesma semana, o líder da CGTP anuncia que em 2019 "vamos ter um ano quentinho" de conflitos laborais. É engraçado como surgem ao mesmo tempo promessas desencontradas: António Costa promete novas auroras radiosas e o arauto do seu principal parceiro de geringonça promete um amanhã cheio de greves. E, para finalizar 2018, o Presidente da República deu um sinal vermelho ao Governo no caso dos professores. Este novo ano eleitoral promete ser o ano de todos os perigos.

Semanada
Uma operação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras identificou 255 cidadãos estrangeiros em situação de exploração laboral, dos quais 26 eram vítimas de tráfico de seres humanos segundo a Segurança Social, o emprego cresceu à custa do trabalho precário a greve na CP levou a que fossem suprimidos mais de 420 comboios no Natal em 2017, o número de pensões da Segurança Social voltou a cair ligeiramente, mantendo-se abaixo dos 3 milhões, um número que já não é superado desde 2013 nos últimos dois anos, ocorreram mais de 700 acidentes devido à presença de animais soltos nas estradas o número de alunos portugueses do secundário a escolher aprender o mandarim como língua estrangeira desce há dois anos consecutivos o total de alunos no ensino superior privado subiu nos últimos quatro anos em Portugal, o número de pessoas que faz compras online cresceu 10% em 2018, totalizando agora 3,9 milhões o novo recorde do Multibanco foi atingido às 12h00 de dia 24, tendo sido registados 281 movimentos por segundo nas caixas automáticas e nos terminais de pagamento Lisboa esteve três dias sem recolha de lixo no período de Natal, caso único nas capitais europeias.

Dixit
"O último trimestre de 2018 fez avultar a sensação de corrida contra o tempo, em busca de metas antes ainda do período eleitoral, que se prolongará praticamente por todo o ano de 2019."
Marcelo Rebelo de Sousa,Presidente da República

O laboratório da fotografia
Entre 1982 e 1994, funcionou na Rua Rodrigo da Fonseca a mais importante galeria dedicada à fotografia que existiu em Lisboa - chamava-se "Ether, Vale Tudo Menos Tirar Olhos" e foi criada por iniciativa de António Sena da Silva, figura controversa mas incontornável quando se fala de fotografia em Portugal. Começou por recuperar a memória do histórico livro "Lisboa, Cidade Triste e Alegre", de Costa Martins e Victor Palla, inaugurando a exposição "Lisboa e Tejo e Tudo" a 15 de Abril de 1982, com algumas imagens inéditas. Ao longo da sua existência, a Ether mostrou no seu espaço ou em exposições que promoveu noutros locais, como Serralves e Europália 91, nomes como Gérard Castello-Lopes, Paulo Nozolino, Daniel Blaufuks, António Pedro Ferreira, Carlos Calvet, Helena Almeida, José Loureiro, Augusto Alves da Silva, Carlos Afonso Dias ou Mariano Piçarra, entre outros. A Ether era formalmente uma associação sem fins lucrativos e nela participaram, com António Sena da Silva, Alfredo Pinto, António Júlio Aroeira, Leonor Colaço, Luís Afonso, Madalena Lello e José Soudo, na altura quase todos estudantes. Um novo livro "Ether: Um Laboratório de Fotografia e História", de Susana Lourenço Marques, recorda e enquadra a época e recupera a história da galeria. É uma obra fundamental para perceber como nesses anos muito se modificou na forma de ver a fotografia em Portugal. E nisso, como este livro bem recorda, a Ether teve um papel fundamental.

Bolsa de valores
"100 Years, 100 Artworks : A History Of Modern And Contemporary Art", de Ágnes Berecz, pré-encomenda na Amazon UK por 28 Libras mais portes. O livro mostra um obra de arte por ano ao longo dos últimos 100 anos, desde 1919.

Pensamentos ociosos
Se há limites temporais para uma série de cargos, porque não há limite para o número de mandatos nos sindicatos de professores e Função Pública e estão lá os mesmos há anos sem fim?

Embaixada Japonesa
Neste tempo de omnipresença da China na nossa paisagem económica, cultural e mediática, sabe bem ver e retomar a relação com o país com quem, a Oriente, primeiro criámos laços - o Japão. Até final de Março do próximo ano, está no Palácio da Ajuda, na Galeria do Rei D. Luís, a evocação dessa relação na exposição "Uma História de Assombro. Portugal - Japão Séculos XVI-XX", comissariada por Alexandra Curvelo e Ana Fernandes Pinto. Entre biombos, lacas, cartografia, manuscritos originais e armaduras, peças de coleccionadores particulares, de instituições públicas e privadas, portuguesas e japonesas, várias expostas pela primeira vez ao público, é narrada a história do encontro e reencontro entre Portugal e o Japão ao longo de cinco séculos. Uma história de aproximações, contendas, tratados, arte e diplomacia; de influências na arte, língua, culinária, religião e na história militar. É a segunda vez que o Japão tem honras no Palácio da Ajuda: há pouco mais de 150 anos, o rei D. Luís, recebeu na Sala do Trono os representantes do governo do Japão, que faziam um périplo pela Europa, passando pelos países com quem tinha reatado relações diplomáticas, no caso de Portugal interrompidas então há mais de 200 anos. Os portugueses, recorde-se, foram os primeiros europeus a chegar ao Japão. 

O almanaque do Jazz
O nome de Norman Granz é capaz de não dizer grande coisa à maior parte dos apreciadores de jazz. No entanto, ele teve uma influência decisiva no desenvolvimento deste género musical e na carreira de muitos músicos e cantores. Entre meados da década de 40 do século passado e o início dos anos 60, esteve ligado a editoras como a Verve, a Clef ou a Pablo. Nascido em Los Angeles, fez a tropa durante a II Grande Guerra no departamento do exército americano responsável por organizar espectáculos para os militares. Quando a guerra terminou, aproveitou os contactos e a experiência ganhas para organizar noites de jazz em clubes e, sobretudo, para arriscar um grande concerto no auditório da Los Angeles Philharmonic, dando início à série Jazz At The Philharmonic com um grupo de músicos que foi variando ao longo dos tempos e que tocaram um pouco por todos os Estados Unidos. Foi com Granz que começou a carreira de nomes como Louis Armstrong, Nat "King" Cole, Ella Fitzgerald, Count Basie, Stan Getz, Dizzy Gillespie, Billie Holiday, Anita O'Day, Charlie Parker, Oscar Peterson, Bud Powell, Buddy Rich, Ben Webster e Lester Young, entre outros. A Verve decidiu agora homenagear Granz e editou uma colectânea de quatro CD's, que se foca no período entre 1942 e 1960. São 44 temas, três horas e meia de música. O primeiro CD, de 1942 a 48, consiste sobretudo em gravações ao vivo; o segundo recolhe registos de 1949 a 1954, com destaque para o nascimento do trio de Oscar Peterson; o terceiro disco (1954 a 1957) põe em confronto as vozes de Billie Holiday com a de Ella Fitzgerald e o quarto disco, de 1957 a 1960, explora o melhor do catálogo Verve desses anos. Este é um almanaque de uma idade de ouro do jazz.


Restaurantes habituais
Bem feitas as contas, não deve haver mais de uma dezena de restaurantes onde vou com frequência e prazer - e incluo todos os géneros e todas as gamas de preços. A uns vou porque sei que quero determinado prato que ali é garantidamente bom, a outros vou porque gosto de ser surpreendido com alguma novidade. Em todos gosto de escolher e não me agrada que escolham por mim - por isso, abomino a mania dos menus de degustação. Há dias em que me apetece só umas entradas bem servidas, que as boas casas aceitam fazer como prato principal - por exemplo, os ovos mexidos com túberas do Salsa & Coentros (onde também me delicio com as empadas e o arroz de lebre). No domínio do petisco tradicional, poucas coisas batem os pastéis de bacalhau, pequenos, ricos de peixe, fritos no ponto, acompanhados por arroz de pimentos do Apuradinho. Nos dias mais carnívoros, o meio bife do lombo grelhado no carvão, mal passado, só com batatas bem fritas, da Cervejaria Valbom, é um paliativo revigorante. E, se quero bons filetes de peixe-galo, o Polícia é o sítio a ir, assim como para uma posta de garoupa bem grelhada o Manuel Caçador, ao Areeiro, é recomendável. Em matéria de croquetes, ninguém bate o balcão do Gambrinus, o mesmo se podendo dizer da sanduíche de carne assada em pão de centeio. Já se quero um bacalhau fresco escalfado, lá vou à Bica do Sapato. Em matéria de pastas italianas, a recomendação vai para o Bella Ciao, na Rua de S. Julião, e noutro registo italiano, para o clássico Casanostra. Em todos estes sítios claro que há outros pratos de que gosto - desde as iscas de leitão ao cozido ou à lampreia. Falta-me na lista um sítio com uma sanduíche variada e verdadeiramente espectacular - que continua a ser das coisas mais difíceis de encontrar em Lisboa.

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