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Opinião
17 de Agosto de 2018 às 10:45

A esquina do Rio

Temos um aeroporto em Lisboa que rebenta pelas costuras, uma rede ferroviária indigna de um país desenvolvido, transportes públicos claramente abaixo dos mínimos para poderem ser alternativa.

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O bom gosto é o maior inimigo da comédia.
Mel Brooks

Vox Populi
Temos um aeroporto em Lisboa que rebenta pelas costuras, uma rede ferroviária indigna de um país desenvolvido, transportes públicos claramente abaixo dos mínimos para poderem ser alternativa. Em suma, em matéria de equipamento e de infra-estruturas, o Governo navega ao improviso, sem saber bem para onde vai, sem mostrar qualquer estratégia. Da mesma maneira que há uns anos se pensava numa linha ferroviária de alta velocidade cheia de apeadeiros, aparece agora a ideia de fazer mais aeroportos (caso de Coimbra), como se isso fosse a solução e como se o exemplo da colossal asneira de Beja não fosse suficiente: construiu-se ali um aeroporto que só é usado para manobras de relações públicas e como estacionamento de aviões, ao mesmo tempo que se acabava com a ligação ferroviária à cidade e se desistia de melhorar o acesso rodoviário. Como se faz a destruição de um país? Destruindo o seu sistema circulatório, de que as infra-estruturas de transporte são peça fundamental. A desistência da opção pelo comboio em Portugal vai pagar-se cara. A CP é um caso raro de asneiras repetidas: se tivesse sido privatizada, não havia de faltar protesto, assim quedam-se caladas as consciências dos suspeitos do costume. No Governo, a incompetência nesta área tem um nome: Pedro Marques, um ambicioso político do PS que é ministro do Equipamento, cometeu o grave erro de, por mero sectarismo partidário, ter deitado fora o dossiê do Aeroporto de Lisboa Sul (Montijo) deixado pelo governo anterior. Se tivesse dado ok para arrancar com o projecto, estaria agora, passados três anos, a inaugurar uma importante infra-estrutura - vital para o turismo de Lisboa e para a economia e o emprego em Portugal. Assim, para parafrasear um amigo meu, sem qualquer obra feita, Marques irá acabar o mandato como sendo o coveiro da CP.

Semanada
 Em Julho, o aeroporto Humberto Delgado ocupou a 10.ª pior posição no "ranking" de pontualidade da Official Airline Guide (OAG), entre 1.194 aeroportos mundiais  as dormidas de turistas estrangeiros em Portugal diminuíram 5,1% em Junho  nos últimos 12 meses, um em cada quatro residentes no continente com 15 e mais anos viajou de avião, indica um estudo da Marktest  em Portugal, três em cada quatro utilizadores de telemóveis usam smartphones  nos últimos 26 anos, Portugal perdeu mais de meio milhão de jovens entre os 15 e os 24 anos  em 2070, Portugal só terá 4,2 milhões de pessoas em idade activa  no incêndio de Monchique foram destruídas 74 casas, das quais 33 são de primeira habitação  o Presidente da República afirmou que não é a ausência de vítimas em Monchique que traz consolo à população afectada e recusou triunfalismo  nos seis primeiros meses do ano, a banca já concedeu empréstimos para a compra de casa no valor de 4.774 milhões de euros  a idade média dos agentes da PSP aumentou, é agora de 45 anos e há comandos, como Castelo Branco, Bragança e Coimbra, em que a média de idade já ultrapassa os 50 anos  o Governo angolano criou a Agência de Petróleos e Gás para acabar com o monopólio da Sonangol a Nova Zelândia aprovou uma lei que proíbe a venda de casas a estrangeiros, como medida para travar o aumento de preços das habitações verificado nos últimos anos e tornar o mercado imobiliário acessível à sua população nacional.

Dixit
"O Simplex não pode ser a maneira mais rápida de chegar à burocracia."
Basílio Horta

Ler clássicos em tempo de férias
Nada como os clássicos para ler nas férias. Por estes dias, lancei-me à nova edição de "As Rimas", de Francesco Petrarca, traduzidas por Vasco Graça Moura. Francesco Petrarca nasceu na Toscânia em 1304, ganhou fama como filósofo e poeta, viveu 70 anos, é considerado o pai do humanismo italiano e é-lhe atribuída a "invenção" do soneto. O amor é o tema principal destas "Rimas" , inspiradas na devoção do poeta por Laura, num crescendo de dimensão erótica e lírica, em que as metáforas desempenham um papel essencial. Antes das "Rimas" já Vasco Graça Moura se havia envolvido com a obra de Petrarca, traduzindo o seu "Cancioneiro" e "Triunfos". Vasco Graça Moura tinha tanto prazer em traduzir, nomeadamente os grandes clássicos, como em escrever ele próprio. Traduzir era, para ele, um acto criativo, baseado na recriação da obra original para português, sem perder o fulgor nem a intenção original. Traduzir não é uma tarefa fácil, traduzir textos clássicos ainda menos, traduzir poesia é um desafio. Na introdução que escreveu para esta edição das "Rimas" de Francesco Petrarca, Vasco Graça Moura sublinha: "Traduzir poesia é como tentar tirar uma 'fotografia verbal' a um objecto também verbal, com a preocupação de registar o que se viu através da objectiva com o mínimo de deformações. Entre estas encontra-se uma série de gradações que podem ir do preto-e-branco à cor e do respeito da morfologia originária a uma diferente configuração do objecto registado." E, mais adiante: "Tudo está na maneira de equilibrar as relações entre os vários ingredientes ou tonalidades…" Vasco Graça Moura conseguiu fazer-nos chegar o fulgor da poesia de Petrarca, como esta edição da Quetzal bem demonstra.

Gosto
Pedro Rebelo de Sousa disse que "ter uma percentagem excessiva de bancos espanhóis é mau para a economia portuguesa". 

Não gosto
A Universidade de Coimbra saiu do "ranking" das 500 melhores universidades mundiais. 

O encanto do lápis
Proponho uma experiência diferente: visitar um dos locais em Portugal onde se produz um dos instrumentos fundamentais para qualquer artista - um lápis. Trata-se da Viarco, a sucessora da Fábrica de Lápis Portugália, fundada em 1907 e que continua a ser a única fábrica de lápis em Portugal. Hoje em dia ganhou nova vida em São João da Madeira e, além dos lápis tradicionais, desenvolveu uma linha focada nas artes plásticas, a ArtGraf. Promove workshops com os seus produtos, acolhe residências artísticas em colaboração com a Oliva Creative Factory e a Câmara Municipal de São João da Madeira - é o caso da que decorreu com o Colectivo Laboratório, onde participaram, entre outros, Graça Pereira Coutinho, Beatriz Horta Correia e Ana Fonseca, a autora da obra que aqui se reproduz. Promove exposições como a que tem na Bienal de Cerveira deste ano, "Ar/Rendar A Terra" de Xana Sousa, ou, nas suas próprias instalações, como "Debaixo da pele O Desenho", de Agostinho Santos. Além disso, inova na criação de novos produtos - como a mesa de desenho Risko (que tem sido distinguida internacionalmente) e abre as suas portas a visitas de urban sketchers de todo o mundo. É um exemplo de uma empresa que está a criar uma rara e interessante ligação entre o seu negócio industrial e a arte e o design, reinventando-se ao mesmo tempo. Descubram-na em www.viarco.pt ou agendem uma visita e vão até lá.

Arco da velha
O tempo a voltar para trás: o aumento das comissões cobradas pelos bancos fez com que usar cheques seja compensador, em termos de custos, em muitas transferências.  

Ouvir improvisações 
Em tempo de férias, há duas coisas que me salvam nas minhas andanças fora de casa: o Spotify e uma pequena coluna portátil JBL Go, que se liga por bluetooth a qualquer smartphone e permite ouvirmos o que queremos. Devo dizer que tenho lido as "Rimas", de Petrarca, de que falo noutro ponto destas páginas, ao som do mais recente disco de Dave Holland, "Uncharted Territories". Trata-se de um duplo CD, praticamente duas horas de excelente jazz, em 23 temas nos quais o baixo de Dave Holland é acompanhado pelo pianista Craig Taborn e o percussionista Ches Smith, com a presença histórica do saxofonista Evan Parker, que com ele explorou o desbravar do free jazz na década de 60, em Londres. Mais tarde, Holland foi um dos cúmplices de Miles Davis na gravação de "Bitches Brew". Desta vez, Holland desafiou os músicos que o acompanham a juntarem-se em estúdio e a fazerem improvisações, construindo um território muito próprio, feito da forte ligação e entendimento entre eles ao longo de dois dias de intenso trabalho. Entraram em estúdio com apenas quatro temas compostos, todo o resto do material foi fruto da improvisação e da descoberta. Trata-se de uma gravação refrescante, inesperadamente provocatória, rara no panorama actual.

Provar
Nada como o Verão para experimentar umas conservas. Eu confesso-me um fã de enguias e as que são feitas na Murtosa são verdadeiramente excepcionais. Os nossos vizinhos espanhóis não hesitam, em muitos bares de tapas, em apresentar nas mesas e no balcão produtos saídos das latas de conservas das suas várias regiões - mas em Portugal isso é mais raro e é tempo de se pegar nessa ideia. As enguias em escabeche da Murtosa são um petisco ideal para uma entrada de um almoço de Verão. Gosto delas em cima de uma boa fatia de pão fresco ou acompanhadas por uma salada. Mas, mesmo sem mais nada, são uma delícia. Estas enguias de conserva em molho de escabeche são um dos produtos tradicionais da Ria de Aveiro, enraizado na tradição gastronómica local e nacional. A Comur - Fábrica de Conservas da Murtosa - produz esta iguaria desde 1942, assente em métodos artesanais, mantendo a qualidade que lhe deu fama no mundo inteiro. Aliás, estas enguias em conserva são um produto único. Com a fábrica modernizada e a embalagem remodelada, manteve-se a tradição e o molho de escabeche, conservante natural das enguias que a Comur apresenta, mantém as mesmas características de sabor que tornam este produto um petisco único. E se por acaso forem à Murtosa, bem perto de Aveiro, não deixem de visitar o Museu Municipal, nas antigas instalações da Comur, uma bela homenagem à indústria conserveira.


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