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Opinião
10 de Agosto de 2018 às 09:28

A esquina do Rio

O cinismo na política significa total ausência de escrúpulos e não é a primeira vez que António Costa se faz notado por o usar - nos incêndios do ano passado recorreu ao mesmo expediente e foi chamado à pedra pelo Presidente da República.

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Quando há muita gente que concorda comigo sinto que provavelmente estou errado.
Oscar Wilde

Somos governados por um cínico
O cinismo na política significa total ausência de escrúpulos e não é a primeira vez que António Costa se faz notado por o usar - nos incêndios do ano passado recorreu ao mesmo expediente e foi chamado à pedra pelo Presidente da República. Quando um primeiro-ministro vem dizer que existir apenas um incêndio com efeitos devastadores, o de Monchique, é prova de que as medidas de prevenção que o seu Governo ordenou funcionam, entramos no campo da pior demagogia. Bem sei que este é um terreno onde Costa se move com especial à vontade, mas as suas afirmações são uma ofensa a quem sofre, uma ofensa à inteligência e, em última análise, um iludir de responsabilidades de um ministro da Administração Interna que é uma anedota, que permitiu meios de socorro mal equipados, uma estrutura de comando feita de "boys" da sua confiança numa Protecção Civil que não soube dirigir as operações, tudo amplificado por uma porta-voz promovida - Patrícia Gaspar - que continua a ser uma fábrica de "fake news". Isto para nem falar das burocracias que impediram a prevenção e que agora são ocultadas pelos guardiões do templo ou do facto de a própria Autoridade Nacional de Protecção Civil não ter cumprido as novas regras que ela própria elaborou e que definem como se devem organizar as operações de socorro no terreno. Infelizmente, aqui o cinismo, a incompetência e o laxismo mostram que Monchique não é uma excepção: é apenas, infelizmente, a confirmação do que funciona mal, muito mal. O cinismo num político é uma ofensa pública, sobretudo quando se manifesta depois de andar a fazer figuras parvas de imitador de Trump no Twitter.

Semanada
 Em 2017, Portugal foi o terceiro país com os preços da electricidade e do gás natural mais caros da União Europeia, segundo dados do Eurostat  segundo a Marktest nos últimos 12 meses apenas cerca de um milhão de pessoas pagaram para ir ver futebol ao vivo, o que significa 12% dos portugueses com mais de 15 anos  dois contratos de PPP rodoviárias celebrados entre o executivo de Sócrates e o grupo Ascendi, que era da Mota Engil, já custaram 836 milhões de euros ao Estado, quando até 2009 não traziam nenhum encargo  segundo o INE, a precariedade laboral voltou a subir no segundo trimestre e é agora mais elevada do que no auge da crise, em 2011  quase 10% das vagas para recrutar médicos para o SNS ficaram vazias • nos primeiros sete dias de Agosto morreram mais 512 pessoas com idade igual ou superior a 75 anos, por comparação com o valor registado no ano passado  devido à falta de pessoal, no fim-de-semana passado o atendimento do 112 registou esperas de três a 20 minutos e no domingo 173 chamadas ficaram por atender  ainda não abriu o concurso para 200 novos guardas-florestais que o Governo tinha prometido realizar antes do Verão  no ano passado 25% dos incêndios não foram investigados por falta de pessoal  os helicópteros da  Protecção Civil para combate aos incêndios foram alugados sem sistema de espuma retardante antifogo.

Dixit
Se a CP fosse privada, o BE e o PCP já andavam a distribuir panfletos nas estações e a exigir a nacionalização.
Adolfo Mesquita Nunes

Uma aventura em Marrocos
Paul Bowles passou grande parte da sua vida, mais de 50 anos, em Marrocos, na cidade de Tânger. Foi para lá viver no pós-guerra, em 1947, e por lá ficou até morrer, em 1999. A sua casa tornou-se local de peregrinação de nomes como Allen Ginsberg, William S. Burroughs, Truman Capote ou Gore Vidal,  entre outros. As obras mais conhecidas de Bowles têm Marrocos como pano de fundo - nomeadamente "O Céu Que Nos Protege". Outra obra dedicada a Tânger, originalmente editada em 1952, é "Deixa A Chuva Cair", que agora volta a estar disponível no mercado português através de uma edição da Quetzal. "O Céu Que Nos Protege" passa-se no deserto do Saara, mas este "Deixa A Chuva Cair" tem toda a acção centrada na Zona Internacional de Tânger, com uma multiplicidade de personagens, de prostitutas a contrabandistas, passando por espiões e negociantes diversos - todos eles gravitando em torno de Nelson Dyar, um jovem americano que chega à cidade para começar uma nova vida - Bowles dizia que Dyar era a única personagem totalmente inventada. Curiosidade final : o título, "Deixa A Chuva Cair", foi roubado de uma frase de Macbeth.  

Gosto
A Toca da Raposa, em Lisboa, já aqui louvaminhada, foi incluída na lista dos melhores novos bares da Europa, onde ocupa o segundo lugar.

Não gosto
Num relatório sobre o estado da circulação de comboios na Europa, apenas a Roménia e a Bulgária têm pior classificação do que Portugal.

Arte regressa a Almancil
Mário Sequeira, um importante galerista de Braga (mais precisamente de Tibães), está a dar nova vida ao Centro Cultural de Almancil, no Algarve - o antigo Centro Cultural de São Lourenço que foi fundado, em 1981, pelo casal Marie e Volker Huber e que ao longo dos anos divulgou artistas plásticos, promoveu conferências com escritores (como Günter Grass, amigo dos fundadores), concertos e recitais de música e de poesia. Situado a uma centena de metros da Igreja de Almancil, o espaço do Centro Cultural de São Lourenço foi o resultado de um minucioso trabalho de recuperação de cinco casas rurais com mais de 200 anos feito pelos fundadores e encerrou a primeira fase da sua existência em 2012. Mário Sequeira renovou todo o espaço e apresenta até 31 de Agosto a exposição colectiva "Island In The Sun", comissariada por Duarte Sequeira e André Butzer - que escolheu o título a partir de uma canção de 2001 da banda californiana Weezer. A exposição apresenta trabalhos de, entre outros, Rui Algarvio, José Bechara, Sarah Bogner, André Butzer, Pedro Calapez, Gary Webb, Pedro Cabrita Reis, Luís Coquenão, Aneta Corovic, Cris Kirkwood, Maja Körner, Isaque Pinheiro, Christian Rosa, Fabian Schubert, Baltazar Torres, Thomas Winkler e Josef Zekoff. Na imagem estão obras de Pedro Calapez e Gary Webb. A norte, o destaque vai para a XX Bienal Internacional de Cerveira, que decorre de 10 de Agosto a 23 de Setembro. Em Lisboa, na activa Galeria Passevite, Rua Maria da Fonte 54 (perto da Graça), pode ver até 13 de Setembro "O Inimigo Exposto", a partir dos desenhos e ilustrações que Nuno Saraiva tem feito para "O Inimigo Público".

Uma rádio nova
No Mixcloud há muito mais do que música, mas é a música que me faz usar muitas vezes esta plataforma de streaming britânica que difunde programas de rádio, playlists de DJ e podcasts de entidades como a revista Wired ou a Harvard Business Review. Existem aplicações para iOS e Android, o que a torna numa forma barata, eficaz e rápida de ouvir selecções musicais de diversas proveniências. Cruzei-me com ela de forma mais regular quando percebi que David Byrne coloca lá as playlists da sua rádio virtual - e que vão de música do Norte de África a selecções de temas de Verão, passando por música brasileira ou jazz do século XXI. Vários DJ colocam lá as suas playlists, como os portugueses João Vaz ("Dance Sessions") e a radialista Mónica Mendes. O jazz tem lugar de destaque com o show semanal do clube londrino Ronnie Scott's ou também The Jazz Pit. Outro português que aparece, focado na música africana, é Francisco Abadia, com a sua "A Hora da Kianda". A navegação, por géneros ou autor,  é muito simples e intuitiva e abrange praticamente todos os géneros musicais. Na área dos talk shows pode encontrar podcasts sobre economia, política, tecnologia. É um mundo a descobrir - uma fascinante forma de ir seguindo o que se passa no mundo - na música e na palavra. E cada um pode fazer upload dos seus próprios programas ou das suas playlists. Toda a gente pode ter um programa de rádio!

Arco da velha
O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas está há mais de sete meses para aprovar um projecto de intervenção na zona de Perna da Negra, precisamente o local onde deflagrou o incêndio da passada sexta-feira, na serra de Monchique. 

Diferenças de degustação
Setúbal é uma bela terra para comer bom peixe. Basta ir ao histórico Mercado do Livramento e percorrer as bancas do pescado para se perceber que ali a frescura não é um conceito abstracto. Nos últimos anos têm-se multiplicado os restaurantes, nomeadamente na zona da Avenida José Mourinho, em frente à doca, onde se sucedem casas de pasto umas atrás das outras. No entanto, este não é, na minha opinião, o melhor local para se ir. Um dos restaurantes mais afamados dessa zona é O Miguel - mas, à semelhança de outros vizinhos seus, é infelizmente irregular. O serviço oscila entre o distraído e o apressado e embora o peixe seja fresco (era o que mais faltava se ali não fosse) a confecção deixa a desejar e nalguns petiscos - como os percebes - nem sempre a coisa corre da melhor forma. Por isso, ultimamente a minha preferência vai para a marisqueira e restaurante Zagaia Mar. O chef João Soares abastece-se na lota e no já citado Mercado do Livramento e os clientes podem ver o que está disponível num balcão perto da sala interior. O serviço é atento, a lista de vinhos é simpática e tem bom senso nos preços. Há uma aposta em vinhos verdes pouco conhecidos como o Alvarinho Quintas de Melgaço. Recentemente provou-se com agrado um robalo com puré de aipo, bivalves e ovo a baixa temperatura, assim como um belíssimo polvo assado e uma dourada grelhada acompanhada de legumes salteados. Para começar vieram umas amêijoas à Bulhão Pato a respeitar a tradição e umas ostras que estavam superiores. Se Agosto é a prova dos nove de como corre a vida num restaurante, e se um fim-de-semana de Agosto é prova ainda maior, o Zagaia Mar passou com distinção. Avenida Luísa Todi, 510, Setúbal. Tel. 937 172 255, encerra à terça-feira. 


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