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Manuel Falcão - Jornalista 08 de Junho de 2018 às 10:24

A esquina do Rio

Sente-se no ar um ligeiro odor de fim de festa. António Costa, agora escudado na possibilidade de tomar o pequeno-almoço com Rui Rio com maior frequência, começou a dar negas aos seus parceiros da geringonça.

Back to basics
Nunca ensino os meus alunos, apenas procuro que eles tenham condições para aprender.
Albert Einstein

Flechas & arqueiros
Sente-se no ar um ligeiro odor de fim de festa. António Costa, agora escudado na possibilidade de tomar o pequeno-almoço com Rui Rio com maior frequência, começou a dar negas aos seus parceiros da geringonça. O primeiro-ministro guia o Governo como se estivesse numa pista de ensaios de automóveis a testar os travões. Imagino-o a sorrir quando recebeu a notícia de que Rui Rio tinha retirado as setas do logótipo do PSD, pensando, com os seus botões, que já passou o perigo de uma batalha com arco e flecha lançada pelo líder da oposição. Como se viu nesta semana, com o porta-voz do PCP para o ensino a clamar por auxílio de outros sectores profissionais na luta dos professores contra o Governo, a discussão sobre o próximo Orçamento do Estado para 2019 promete episódios picantes. Há uma clara marca partidária no sector escolhido para radicalizar a luta contra o Governo. O PCP decidiu voltar a posicionar-se, farto de estar nas trincheiras atrás do Bloco de Esquerda. O problema é que a pessoa que escolheu para dar cabo da vida aos alunos neste fim de ano escolar é alguém que há muito tempo não dá aulas. Chamar-lhe professor é um problema de expressão. Face à ocorrência, até agora, o Governo tem mostrado vontade de se distanciar do senhor Nogueira. Estamos politicamente na fase da dança e contradança. Com o ministro da Educação a nadar em seco.

Semanada
 Há 541 anestesistas a menos nos hospitais públicos; um terço dos anestesistas formados nos últimos três anos optou por não ficar no Serviço Nacional de Saúde  há regiões, como o Algarve, que oferecem o dobro das remunerações normais para conseguirem atrair médicos  pelo segundo ano consecutivo, 700 médicos não têm vaga para fazer a especialidade  no último ano e meio, a Administração Pública contratou 13.652 pessoas e as autarquias foram responsáveis por cerca de metade do novo emprego público criado  em 2017, cada português foi responsável por criar 1,32 quilogramas de lixo por dia - desde 2011 que não se produzia tanto lixo  segundo a União Europeia, Portugal é dos países onde a população total mais vai encolher e terá a taxa de crescimento potencial mais débil da Europa  um estudo divulgado esta semana indica que quase metade dos alunos do 2.º ano não consegue saltar à corda e 40% deles não conseguem dar uma cambalhota para a frente  as ajudas do Estado aos bancos nos últimos dez anos custaram o equivalente a 23 pontes Vasco da Gama  o preço das casas subiu 20% mais rápido do que o rendimento das famílias  a taxa de empregabilidade dos alunos formados na rede de escolas de hotelaria e turismo subiu para 90%  o Museu da Presidência da República foi assaltado pela segunda vez  o ex-líder da Juventude Leonina foi detido  o estádio da Luz e o Benfica foram alvo de mais uma busca da Polícia Judiciária.

Dixit
"Não há dinheiro."
António Costa
No Parlamento, sobre as reivindicações dos professores

Folhear
Os dicionários definem cruzadismo como o gosto pela actividade de fazer ou construir palavras-cruzadas. É um passatempo que, para muitas pessoas, é a razão para escolherem o seu jornal em papel e comprarem-no regularmente. Fazer palavras-cruzadas é um desafio, um vício que puxa pelos conhecimentos de vocabulário e de raciocínio. Mário Bernardo de Matos é um dos grandes especialistas portugueses nesta área e, entre 1999 e 2005, foi colaborador do Jornal da Região, onde publicou problemas de palavras-cruzadas de autor para todas as regiões onde o jornal foi distribuído. Em 1998, lançou o "Dicionário do Cruzadismo", a primeira obra do género publicada em Portugal. Agora, pela mão da editora Guerra & Paz, lançou o "Dicionário Enciclopédico de Palavras Cruzadas", que reúne mais de 17.500 entradas ao longo de cerca de 400 páginas. Além do seu conteúdo enciclopédico e rico em sinonímia, a edição oferece a possibilidade de uma busca prática: ao contrário dos dicionários tradicionais, esta obra parte de uma definição para chegar a uma palavra, e não de uma palavra para chegar a uma edição.

Ver
É raro ver um filme português que conjugue uma qualidade técnica irrepreensível (na fotografia, no som, na montagem) com um desempenho de actores excepcional, com um elenco internacional, uma história e uma narrativa escorreita. "Cabaret Maxime", o novo filme de Bruno de Almeida, é um exemplo disso mesmo. Bruno de Almeida, que estudou cinema em Nova Iorque, por lá viveu e trabalhou vários anos, trouxe uma forma diferente de pensar um filme, desde o processo de produção à construção do argumento e dos diálogos. O filme é rodado em Lisboa, no Cais do Sodré, integralmente falado em inglês, e a história passa-se em local não especificado. O antigo Cabaret Maxime, na Praça da Alegria, que inspirou o filme, foi gerido no final da sua existência por Manuel João Vieira (músico, artista plástico), e ele próprio é o responsável não só pela banda sonora do filme como pelas numerosas intervenções musicais que surgem ao longo da narrativa. O tema do filme é a transformação que ocorre nas cidades quando a gentrificação começa a deslocar do seu habitat os negócios tradicionais - no caso, é o negócio do entretenimento. O Cabaret Maxime é habitado como um circo, por artistas que vivem como uma família. Michael Imperioli (que fez fama em "Os Sopranos") desempenha o papel principal e é o dono do local. Destaque para as interpretações de Ana Padrão (o seu melhor papel em cinema até agora), John Ventimiglia, Nick Sandow e Drena De Niro. No fim, os bons vencem os maus, coisa que por vezes acontece nos filmes e mais raramente na realidade.

Gosto
O Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Universidade Nova de Lisboa colocou online os arquivos dos 50 anos de carreira de José Mário Branco. 

Não gosto
45% dos alunos do ensino secundário não foram capazes de situar Portugal no mapa da Europa. 

Ouvir
José Mário Branco é conhecido por ser um dos mais importantes nomes da canção de intervenção, antes e depois de 25 de Abril de 1974. Além de autor de canções inesquecíveis e de ser um grande intérprete, José Mário Branco é também um músico excepcional e um dos melhores produtores e arranjadores da música popular portuguesa. Os seus trabalhos com José Afonso e Camané, para citar só os mais conhecidos, são provas disso. Mas a sua actividade inclui bandas sonoras de filmes e a recuperação de temas populares e tradicionais, além de colaborações com grupos de teatro, quer como actor quer como compositor. "Inéditos 1967-1999" é um CD duplo que inclui 26 temas seleccionados pelo próprio José Mário Branco, em vários casos restaurados a partir das bobines originais, incluindo temas que nunca foram editados em disco, singles raros e maquetas nunca antes divulgadas. Entre os temas raros, destacam-se as seis "Cantigas de Amigo" editadas em EP antes ainda do álbum "Mudam-se Os Tempos Mudam-se As Vontades", o notável tema inédito "Quantas sabedes amar, amigo (Mar de Vigo)", que abre a colectânea, o quarteto instrumental em três andamentos "Fantaisie Languedocienne", de 1987, que agora foi gravado pela primeira vez em estúdio, os cinco temas escritos para a banda sonora do filme "Agosto" de Jorge Silva Melo e o arrebatador bolero "Alma Herida", escrito para o filme "A Raiz do Coração", de Paulo Rocha, e que encerra o segundo CD. Este segundo CD tem aliás vários motivos de interesse musical, com José Mário Branco a inspirar-se em temas de Eddy Mitchell, Adriano Celentano, Helmut Zacharias, os Conchas e The Shadows. Outros pontos altos são a colaboração com João Lóio na marcha "São João do Porto", e temas incontornáveis como "Ronda do Soldadinho", "Cantar da Viúva de Emigrante", "Fuga do Mar" (baseado num poema de Alexandre O'Neil), "Remendos e Côdeas" (segundo Bertolt Brecht). Edição Warner, já à venda.

Arco da velha
O programa Simplex apresentou no Porto o primeiro funcionário público que é um robô humanóide, chamado Lola, e contratou o mágico Luís de Matos para fazer vídeos sobre as novas funcionalidades. António Costa, presente na apresentação do mágico, afirmou que não trazia vacas voadoras. 

Provar
Soão é o nome dado a um vento que sopra do Oriente. É também o nome da taberna asiática que, pela mão do chef Luís Cardoso, junta pratos oriundos da Índia, Vietname, Coreia, Taiwan, China, Tailândia e Japão. Fica no edifício do antigo cinema Alvalade, junto à praça de Santo António. No piso de entrada, há meia dúzia de mesas e o balcão onde se pode ver a cozinha em acção; em baixo, há o bar e quatro compartimentos reservados que podem levar entre seis a doze pessoas. A carta proporciona uma escolha ampla, que vai de diversas entradas como chamuças de cabra, algumas sopas orientais, dim sums, sushi e sashimis, além de propostas próprias do chef. A decoração é simples e confortável, o serviço é completamente informal, mas funciona. A lista de vinhos é suficiente, há cervejas orientais, diversos chás, e até cocktails de whisky japonês com chás especiais. Nas comidas, provou-se um dim sum de champanhe, lavagante e gambas, na sopa esteve bem o Tom Yum, uma sopa temperada com erva-príncipe, lima kaffir, chili, cogumelos e camarão (ou frango). A rematar veio um caril de peixe com leite de coco, manjericão, pimentos, lima kaffir e arroz thai, que estava acima da média. A sobremesa foi um refrescante gelado de lemongrass, gengibre e manjericão. O Soão é propriedade do mesmo grupo que nasceu com o Sea Me e depois cresceu para o Prego da Peixaria e Barracuda. A experiência foi boa, é sítio para voltar. Avenida de Roma 100, telefone 210 554 499.


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