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Manuel Falcão - Jornalista 20 de Abril de 2018 às 10:16

A esquina do Rio

Costuma dizer-se que resultados passados não garantem rendimentos futuros. Esta semana percebemos que na Assembleia da República, expoente máximo da política à portuguesa, não é assim.

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Ninguém sabe ao certo quanto tempo tem a raça humana, mas é certo que existe há tempo suficiente para não fazer tantas asneiras.
anónimo

Triste sina
Costuma dizer-se que resultados passados não garantem rendimentos futuros. Esta semana percebemos que na Assembleia da República, expoente máximo da política à portuguesa, não é assim. Carlos César refugiou-se no que tem sido feito aos longo dos anos em erros, omissões ou complacências passadas, para justificar as prebendas actuais e o Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, veio garantir que a duplicação de apoios aos deputados das ilhas era legal e eticamente irrepreensível. Sendo certo que o principal nome na berlinda é o do Presidente e líder parlamentar do PS, Carlos César, fica-se na dúvida se Ferro Rodrigues obedeceu ao seu dever ou ao presidente do partido que o levou ao posto onde está. Esta história sórdida é mais um prego no caixão que recolhe os despojos do Parlamento. Na política portuguesa, como se viu das declarações de Ferro Rodrigues e Carlos César, a ética não passa de uma estranha abstracção. Para completar a semana, o país assistiu à transmissão das imagens de um interrogatório a Sócrates feito em tribunal à porta fechada, tal "reality show". Se a ideia era transformá-lo em mártir e alvo de manobras insidiosas, a coisa não podia ter corrido melhor. Dito isto, o que é que nos deve preocupar mais? O facto de o Estado e o fisco terem tanta informação não escrutinada sobre nós, ou os dados que existem no Facebook? O não funcionamento da justiça ou os abusos do Estado? As habilidades dos políticos para ganharem mais uns cobres ou as cativações arbitrárias na despesa pública?

Dixit
"A única coisa de importante que mudou desde que este Governo tomou posse foi o tipo dos cortes realizados. Em vez de cortar nas despesas com pessoal, cortou nas despesas de funcionamento, como a Saúde."
Manuel Villaverde Cabral

Semanada
 As novas operações de crédito ao consumo aumentaram mais de 18% nos primeiros dois meses do ano e já superam os mil milhões de euros, o valor mais elevado concedido neste período desde 2012 - a maior parte foi canalizado para o crédito pessoal sem finalidade específica  segundo o FMI, Portugal tem a terceira dívida pública mais elevada do mundo   somos o sétimo país da UE com mais nascimentos fora do casamento, 52,8% do total  a procura internacional por casas em Portugal, no primeiro trimestre deste ano, quintuplicou em comparação com o período homólogo de 2017, nomeadamente por parte de cidadãos do Brasil, Estados Unidos, França, Reino Unido e Suíça • o número de autorizações de residência a estrangeiros em Portugal aumentou 19% no ano passado e brasileiros e asiáticos são os mais numerosos  o Serviço de Estrangeiros não responde em tempo útil aos pedidos de reunificação de famílias de refugiados; o ministro da Economia disse que existem actualmente em Portugal cem novos hotéis em construção  Santana Lopes distanciou-se de Rui Rio; Rui Rio aproximou-se de António Costa  segundo a Marktest, a utilização da Internet através do telemóvel quadruplicou desde 2012 e actualmente é a forma usada por 6.163 milhões de pessoas, o que corresponde a 64.5% dos portugueses com mais de 10 anos. 

Folhear
Victor Cunha Rego foi um dos maiores nomes do jornalismo português do século XX, e um dos poucos com assinalável carreira fora de portas: exilado no Brasil, foi editor de O Estado de São Paulo e chefiou a redacção da Folha de São Paulo; em ambos escreveu opinião, analisando a situação no mundo, e em especial em Portugal, com uma prosa muitas vezes visionária, caracterizada pelo estilo polémico e contundente que manteve até ao fim da vida. Participou no núcleo fundador do PS e, no regresso a Portugal, dirigiu o Diário de Notícias, foi presidente da RTP, dirigiu o diário A Tarde e fundou e dirigiu o inovador jornal Semanário, em 1983, ao lado de, entre outros, Marcelo Rebelo de Sousa, Daniel Proença de Carvalho, João Amaral ou José Miguel Júdice. Nos últimos anos da sua vida - morreu em Janeiro de 2000 com 66 anos -, escreveu uma crónica regular no Diário de Notícias. Vasco Rosa, um dos mais conscienciosos e rigorosos editores no mundo livreiro nacional, atirou-se, há uns anos, à tarefa de organizar os escritos dispersos de Victor  Cunha Rego, com a ajuda do seu filho André Cunha Rego. O resultado é "Na Prática A Teoria É Outra" - 856 páginas de textos originalmente escritos entre 1957 e 1999 em jornais brasileiros e portugueses. É uma obra única, que marca uma época, um olhar aguçado sobre Portugal, sobre a política portuguesa e sobre os seus protagonistas. Edição Dom Quixote.

Gosto
A iniciativa de fotografia Estação Imagem realiza-se este ano em Coimbra até ao final de Maio, depois de ter nascido em Mora e ter decorrido nos últimos anos em Viana do Castelo. 

Não gosto
A dívida global mundial é agora mais do que o dobro do valor dos produtos e serviços produzidos anualmente. Atinge 225% do PIB global, 12 pontos acima do pico ocorrido na crise, em 2009.

Ver
A Galeria Belo-Galsterer (Rua Castilho 71 r/c esq) apresenta, até 31 de Maio, um conjunto de obras do artista austríaco Wolfgang Wirth sob o título "Fortified Infinity". As plantas das fortificações militares de Elvas e de Olivença são o ponto de partida para estes trabalhos que exploram a noção dos limites espaciais no díptico Black Hole, evocam as muralhas dessas fortificações em Wall (que funciona como uma quase instalação), nas duas esculturas e  nas nove serigrafias da série Shapes (na imagem). Wolfgang Wirth vive e trabalha em Viena, integra o grupo artístico Alpine Gothic e tem uma extensa carreira internacional. Na mesma galeria é apresentada a instalação de Rita Gaspar Vieira, "Avessa". Outras sugestões: a artista espanhola Lita Cabellut chega a Portugal com uma mostra de pintura, instalação e escultura no Centro Cultural de Cascais, que apresenta três dezenas das suas obras até 17 de Junho; no Atelier Museu Júlio Pomar, até 29 de Abril, a exposição "Chama" apresenta trabalhos de Júlio Pomar, Rita Ferreira e Sara Bichão, dando seguimento ao programa que procura cruzar a obra de Pomar com a de outros artistas. Até 1 de Maio, no Espaço Exibicionista (Rua Dona Estefânia 157), Jorge Humberto (Joh), apresenta novos trabalhos na série "Firmamento".

Arco da velha
O Palácio da Justiça de Portalegre está encerrado há mais de quatro anos e as obras previstas para começarem em 2014 nem começaram porque no projecto inicial existia um erro que só foi detectado depois de aprovado.

Ouvir
Rodrigo Leão começou a sua carreira a solo há 25 anos, quando ainda estava nos Madredeus. "Ave Mundi Luminar", editado em 1983, foi um sucesso inesperado, primeiro no estrangeiro (sem bem me lembro, a começar por Espanha) e depois em Portugal. Ao longo destes anos, foi editado em etiquetas como a Deutsche Grammophon ou a Sony Classical, escreveu bandas sonoras para filmes e documentários e colaborou com nomes como Beth Gibbons (dos Portishead), Ryuichi Sakamoto, Adriana Calcanhoto, Neil Hannon (Divine Comedy), Scott Matthew, Rui Reininho, Joan as Police Woman, Stuart Staples (Tindersticks) ou Lula Pena. Conseguiu sempre combinar o popular e o erudito, o electrónico e o orquestral, e foi esta capacidade de ligar universos musicais que esteve na origem do seu sucesso. Para assinalar os 25 anos de carreira a solo, a Universal Music lançou "O Aniversário", um duplo CD em que o primeiro disco inclui as colaborações com vocalistas e o segundo tem os temas instrumentais como os que compôs para a exposição "Florestas Submersas" ou excertos da sua gravação "O Retiro", com o coro e orquestra Gulbenkian. Aqui estão excertos de 15 discos e de cinco bandas sonoras, 30 temas que marcam um percurso único na música portuguesa na qual Rodrigo Leão tem sido um dos mais rigorosos, criativos e supreendentes músicos.

Provar
O chá é hoje em dia a segunda bebida mais consumida no mundo, logo a seguir à água e reza a lenda que, em 2737 a.C., o Imperador Chinês Shen Nong terá descoberto o chá ao viajar pelos territórios da província de Yunnan. Ao parar à sombra dum chazeiro para beber água morna, umas folhas terão caído acidentalmente dentro da sua taça, alterando a cor e o sabor da bebida. O imperador gostou tanto do resultado que passou a beber o chá com regularidade. Com a chegada dos Portugueses ao Oriente, o chá foi sendo comercializado e introduzido nas várias cortes europeias - o caso mais notório desta expansão cultural foi quando Dona Catarina de Bragança fez transportar as plantas aromáticas para Inglaterra em 1662, depois do seu casamento com Carlos II, da dinastia Stuart. Num salto para a actualidade, os chás Andorinha, que existem desde 2015,  são importados do Japão, embalados em bonitas caixas de lata, e destaco o Aires, um delicioso chá preto japonês, fumado com madeira de cerejeira e barris de whiskey do Japão. Os chás Andorinha têm várias outras variedades, desde o clássico Matcha, chá verde em pó, até ao Umegashima, que vem da mais alta plantação do Japão ou ainda chás provenientes do monte Fuji e de Quioto. Ainda no chá verde, mas em folhas de tamanho médio, está também disponível o Sencha, que é talvez o mais popular chá do Japão. Eu fiquei preso ao Aires, comprado na loja online de chasandorinha.pt - um site cheio de boas informações sobre a história de chá e a forma de o degustar.


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