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Opinião
13 de Outubro de 2017 às 10:21

A esquina do Rio

O relógio da política, que estava parado há uns tempos, voltou a andar. As autárquicas deram mesmo um abanão ao estado das coisas.

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Back to basics
Uma boa oportunidade é perdida pela maioria das pessoas porque aparece vestida de fato-de-macaco e é confundida com trabalho.
Thomas Edison

Tic-tac
O relógio da política, que estava parado há uns tempos, voltou a andar. As autárquicas deram mesmo um abanão ao estado das coisas. O PSD tem uma oportunidade de voltar a fazer oposição e o PCP já começou a mostrar que reactivou a política de rua - está visto que vamos ter mais greves nos próximos tempos. Cada um destes dois partidos procura recuperar a sua identidade, perdida no caso do PSD por uma incompreensão do que tinha mudado no país e, no do PCP, pelos travões que lhe foram impostos pela geringonça. No PSD, a luta interna vai ser dura entre a ala de Rio, apoiado pela previsível velha guarda do partido e Pedro Santana Lopes, que quer uma renovação de pessoas e de ideias. Qualquer dos dois não está no Parlamento nem nos habituais poisos do regime - o que coloca em vantagem Santana Lopes, mais experiente a fazer comunicação fora do círculo institucional. Para além das pessoas, o que está em causa tem a ver com o funcionamento dos partidos e do sistema político: quem quer dar mais voz aos cidadãos? Quem vai conseguir envolver e cativar simpatizantes, apoiantes, independentes, fazendo o partido crescer para além do seu aparelho? No fim do dia, quem quer mesmo afirmar a diferença? Já se percebeu que, de um lado, está um candidato que prefere não aceitar perguntas de jornalistas, como Rio fez na apresentação da sua candidatura e, do outro, alguém que aprecia uma boa polémica e gosta de correr riscos, como Santana Lopes. Entre a pressão do PCP e o reviver do PSD, António Costa vai ter um fim de legislatura mais agitado que esperava. Imaginou, talvez, que poderia ensaiar uns passos de dança com Rui Rio, pode ser que em vez disso lhe reste continuar a dançar o tango com Catarina Martins.

Dixit
Neste momento, os partidos têm todo o poder e os cidadãos nenhum.
Marina Costa Lobo

Semanada
 O investimento público previsto no Orçamento do Estado de 2018 será inferior ao do último ano do governo de Passos Coelho e equivale a menos de 2% do PIB, que é o valor mais baixo da Europa  em 2016, o Estado concedeu cerca de 2500 milhões de euros em benefícios fiscais a entidades sujeitas a IRC  cem mil famílias não vão ter descida no IRS  nos últimos dois meses e meio, verificaram-se 29 assaltos à bomba a caixas multibanco  desde 2015 já ocorreram 215 insolvências de farmácias  a marca Elefante Branco, registada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, está à venda por um valor base de cinco mil euros  em Portugal, realizaram-se 850 transplantes de coração em 30 anos, e o país está no 12º lugar europeu neste tipo de cirurgias  há 1.672 obesos à espera de cirurgia adequada, mais 10% que no ano passado  a Entidade Reguladora da Saúde recebeu 49 mil queixas nos primeiros oito meses do ano  em Portugal, a penetração das redes sociais aumentou quase três vezes e meia entre 2008 e 2017, passando de 17,1% para 59,1%, segundo a Marktest  um milhão e 807 mil os portugueses costumam jogar online, segundo os resultados do estudo Bareme Internet 2017  o número de alunos cresce há quatro anos seguidos nas universidades privadas, que este ano registaram 20.600 novas entradas  temos 140 reclusos por cada 100 mil habitantes e a idade média dos detidos é de 39,7 anos  a nova lei de estrangeiros já legalizou cadastrados violentos em Portugal.

Ouvir
Alfredo Rodrigo Duarte, Alfredo Marceneiro para toda a vida, nasceu em 1891. Marceneiro de profissão, tornou-se fadista por vocação e assim ficou conhecido. Tive a felicidade de o ouvir cantar e até, eu miúdo ainda, de o ouvir a falar à volta de uma mesa. Era um homem fascinante, uma voz impressionante e, sobretudo, um sentir especial que transmitia a cantar o seu fado. Até hoje nunca tinha percebido as semelhanças que existem, de facto, entre Camané e Marceneiro - tão distantes no tempo um do outro. Mas, ao fazer um disco de homenagem a Alfredo Marceneiro, Camané expôs essa semelhança. E o maior ponto dessa semelhança é na alma, no tal sentir do que se canta. Logo na faixa de entrada, "Cabaré", Camané canta ao que vem - não é a um despique, é a uma homenagem feita com a voz que faz ouvir o coração. Sou dos que considera Camané o grande fadista português surgido na segunda metade do século XX - para mim, não há outro como ele na intensidade, na capacidade de interpretação, na comunicação que estabelece - na emoção que transmite - será isto o Fado? Ouvir estas versões de "Olhos Fatais", "Ironia", "Empate Dois a Dois", "Despedida", "Lembro-me de Ti" e, sobretudo, "O Remorso" é uma experiência extraordinária. Simples mas intenso, criativo mas respeitador, inesperado mas tradicional, Camané fez desta homenagem a Marceneiro o grande disco de Fado dos últimos anos. Destaque ainda para a produção exemplar de José Mário Branco, para a guitarra portuguesa de José Manuel Neto, a viola de Carlos Manuel Proença e o extraordinário trabalho de baixo de Carlos Bica. "Camané Canta Marceneiro", CD Warner, disponível numa edição especial com CD e DVD ou apenas CD.

Gosto
Segundo um estudo da ACEPI, mais de 91% da população portuguesa vai estar a utilizar a internet até 2025 e 59% fará compras online.

Não gosto
O consumo de antidepressivos em Portugal duplicou nos últimos quatro anos.

Ver
Lu Nan, fotógrafo chinês e correspondente da agência fotográfica Magnum, mostra no Museu Berardo uma longa marcha, a preto e branco. "Trilogia - Fotografias (1989-2004)" inaugurou esta semana (na imagem) e é uma mostra parcial de um trabalho que Lu Nan realizou ao longo de 15 anos por toda a China. Dividida em três partes, a exposição mostra a realidade dos hospitais psiquiátricos da China, segue depois a estrada da fé católica e termina com o dia-a-dia dos camponeses tibetanos. O curador desta exposição, João Miguel Barros, advogado português apaixonado pela fotografia (e pelos fotógrafos chineses em particular), escreveu que o inferno, o purgatório e o paraíso da "Divina Comédia" de Dante Alighieri não andam muito longe daqui. "Lu Nan, Trilogia - Fotografias (1989-2004)" fica no Museu Coleção Berardo, CCB, em Lisboa, até 14 de Janeiro, onde podem também ser comprados os três livros que compõem esta Trilogia: The Forgotten People: The Condition of China's Psychiatric Patients; On The Road: The Catholic Faith in China e Four Seasons: Everyday Life of Tibetan Peasants. Passando para outra sugestão, ainda na fotografia, até 29 de Dezembro pode ser vista, na Casa da América Latina, uma exposição do trabalho de Daniel Mordzinski, que retratou dezenas de escritores ao longo da sua vida. Para mudar de registo, o MAAT propõe uma exposição sonora - uma instalação áudio de Bill Fontana, "Shadow Surroundings", baseada em gravações feitas no ambiente da ponte 25 de Abril.

Folhear
O futebol não é coisa que me excite, não acho grande graça ao assunto. Mas fico sempre fascinado pelo entusiasmo que suscita, pela paixão que se sente e pelas conversas infindáveis que proporciona. O que se passa nalguns canais de televisão do cabo é sintomático: há uns rapazes que analisam a bola como se estivessem a analisar um tratado filosófico, outros que se insultam como se estivessem ébrios numa taberna e outros ainda que vibram como se estivessem num Indiana Jones. Reconheço que o futebol é bom motivo de conversas, mas há muito que recomendei ao meu barbeiro que não me falasse de futebol e, se um taxista tenta começar num relato sobre o Jesus ou o Vitória, desato a falar da Uber e lá me safo. Mas sei que o futebol é uma paixão, que vem de miúdo quando se joga na rua, numa praceta, em qualquer lugar. "Houve um tempo em que o futebol era um prazer barato que se jogava ao domingo. Não era difícil que alguém se apaixonasse por aquele jogo de regras simples, com artistas que fintavam os adversários e marcavam golos". Esta descrição está em "Futebol, o estádio global", uma nova edição dos Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos, escrita por Fernando Sobral (declaração de interesse: meu amigo e companheiro de muitas páginas). Fernando Sobral fala da evolução do jogo, com o saber de um conhecedor e a distância fleumática de um atento observador que o caracteriza - e que lhe permite falar das relações entre futebol, marcas, economia, mídia, poder e política, sempre com uma frase de fundo: "para os adeptos o futebol é quase tudo". Até eu fiquei mais interessado pelo futebol depois de ler este livro. "O futebol não tem fronteiras, acaba com elas", como diz Fernando Sobral.

Arco da velha
A concessionária dos cacilheiros, Soflusa, reagiu aos protestos dos utentes sobre os enormes atrasos devido à greve que afecta os seus barcos, pedindo paciência aos passageiros que se deslocam para o trabalho e sugerindo que evitem as horas de ponta. 

Provar
Nesta altura do ano, um fim-de-semana alargado no Douro é uma coisa verdadeiramente única. Há o Douro, as vinhas de Outono que estão a mudar de cor, as quintas bem arranjadas, o acolhimento sempre simpático e descontraído em qualquer lugar. O norte, nessa matéria, é outro campeonato. Um pequeno exemplo: em Tonda, uma freguesia de Tondela, íamos à procura de um restaurante que nos tinham aconselhado, mas, por engano tínhamos antes entrado num pequeno café-restaurante a perguntar se era ali o local que procurávamos - que não, mas sorridentes disseram que este, simples, era melhor. Fugindo da recomendação, fomos para o que o acaso nos tinha dado e encontrámos um espaço alegre e familiar onde nos serviram uma vitelinha de Lafões digna de nota - tudo isto se passou n'O Samarras, Rua de Santo Amaro, Tonda. Mas o melhor dos dias estava para vir com a localização, em cima do rio Douro, da Quinta da Ermida, em Baião. Além do alojamento e dos fins de tarde à conversa em torno de um bom verde branco produzido na quinta, os jantares eram de cozinha antiga portuguesa - merece destaque a bôla servida como petisco de entrada, uns belos rissois de carne, além de um frango do campo com batatas e arroz a trazer memórias de infância. Ali perto, também, ficou na memória A Casa do Almocreve, em Portela do Gove, que proporcionou um anho extraordinário de tempero e boa confecção. E mal ficaria se não evocasse aqui a prova de vinhos, tão bem explicada, na Quinta de Covela, em São Tomé de Covelas. Destaque para o Rosé, para o Branco Escolha, e para a descoberta de um branco da casta local avesso, além dos tintos da Quinta das Tecedeiras. Se, a tudo isto, somarmos uma noite de lua cheia reflectida no Douro, ficam com uma boa ideia do que é um belo fim-de-semana.


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