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20 de Janeiro de 2017 às 10:08

A esquina do Rio

Como se influencia um político? Como se força um político? Como se manobra a opinião pública? Até onde se pode ir?

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Back to basics
O homem é por natureza um animal político e a natureza não faz nada sem sentido.
Aristóteles

Influenciar
Como se influencia um político? Como se força um político? Como se manobra a opinião pública? Até onde se pode ir? A resposta a estas questões pode ser vista em "Miss Sloane", um "thriller" político, passado em Washington, estreado em Portugal na semana passada, realizado por John Madden e que tem Jessica Chastain, fabulosa, no papel principal - o de Elisabeth Sloane, uma lobista habituada a casos difíceis. Usando as palavras de Miss Sloane, fazer lóbi é prever o que pode acontecer, antecipar o movimento dos adversários e tomar medidas para os contrariar, é conseguir ficar à frente de quem se quer derrotar, é conseguir surpreender os inimigos sem nunca se deixar surpreender por eles. Isto é a bíblia de Elisabeth Sloane e é seguindo-a que ela vence, custe o que custar. Contra as mentiras dos políticos, ela usa o que pode para provocar o seu descrédito. Se há políticos trapaceiros e que entram em esquemas, não será justo usar todos os recursos contra eles, mesmo os que podem ser ilegais? Como se combate a falta de ética na política? Seguindo a ética ou contornando-a? Estas são as grandes questões que este filme deixa e são estas questões as que, um pouco por todo o lado, se colocam hoje aos eleitores, que cada vez mais perdem a confiança em políticos que deixam os princípios de lado em nome de tácticas. O filme é poderoso e dá um retrato vil da política. Não é ficção, é a realidade, e foram os próprios políticos que o criaram. Há quem diga que este filme é o melhor retrato já feito do que se passa em Washington. E, arrisco dizer, também em outras cidades, de outros continentes e de outros países.

Dixit
Tenho dificuldade em aceitar que o meu partido vote ao lado de quem nunca valorizou a concertação social.
Carta aberta de Silva Peneda a Passos Coelho a propósito da nova posição do PSD

Semanada
 "Vaticanum", de José Rodrigues dos Santos, foi o livro mais vendido em Portugal em 2016, com perto de 90 mil exemplares  outro livro do mesmo autor, "O Pavilhão Púrpura", está entre os dez mais vendidos  José Rodrigues dos Santos já ultrapassou os 2,2 milhões de livros vendidos em Portugal no total da sua obra. No estrangeiro, vendeu cerca de um milhão  "Sentir", a biografia de Cristina Ferreira, vendeu cerca de 85 mil exemplares  o primeiro volume da "Bíblia", na tradução de Frederico Lourenço, vendeu cerca de 20 mil exemplares  medidas do simplex derraparam e mais de 70% estão por concluir  98% dos alunos formados na Escola Náutica vão trabalhar para o estrangeiro já que a marinha mercante portuguesa foi praticamente extinta  Portugal vai ter mais 40 novos hotéis este ano, metade dos quais em Lisboa  as temperaturas extremas, de frio ou calor, matam em Portugal, em média, 1500 pessoas por ano  o MAAT teve 150 mil visitantes desde que abriu, em Outubro passado  foram feitos cortes de 34,5 milhões de euros nos principais hospitais do Serviço Nacional de Saúde; ao mesmo tempo, foi anunciado que o Ministério da Saúde planeia investir este ano 204 milhões em novas infra-estruturas e equipamentos no sul do país  nas últimas semanas, o Governo prometeu abrir linhas de crédito para sectores específicos, cujo valor total é de centenas de milhões de euros - mais um aumento de dívida  o Bareme Internet da Marktest estima em 3,7 milhões o número de portugueses que usam a Internet para ouvir música.

Folhear
"Luanda, de acordo com o que Mary Kingsley escreveu em 1899, não era apenas a cidade mais bela da África Ocidental, era a única cidade da África Ocidental" - assim começa o delicioso capítulo "A Cultura Urbana na Cidade de Luanda" do livro "Breve História da Angola Moderna", de David Birmingham, um historiador britânico, da Universidade de Kent. Birmingham escreveu vários livros sobre a história de Portugal e da presença dos portugueses em África, nomeadamente em Angola, e esta obra incide sobre o período entre 1820 e o início do século XXI. O autor detalha a evolução social, económica e política de Angola, incluindo episódios históricos como a tentativa de ali criar uma nação judaica em finais do século XIX e princípio do século XX - houve até uma proposta nesse sentido apresentada no Parlamento português em 1912. A Guerra Colonial, a Guerra Civil e a posterior evolução do regime até ao final da primeira década deste século, são épocas abordadas, com numerosos episódios e relatos de acontecimentos pouco conhecidos. É uma visão curiosa, distante da visão portuguesa, e que por isso mesmo é um complemento de informação que vale a pena conhecer. Edição Guerra & Paz.

Gosto
Do novo Museu da Casa da Moeda - é virtual, está online e pode ser visto em www.museucasadamoeda.pt

Não gosto
Em Portugal, ainda há quatro mil crianças que não são vacinadas todos os anos por resistência das famílias.

Ver
Confesso-me um fã da obra de Cecília Costa - aprecio o seu traço, a ironia misturada com enigma, provocação e mistério que retrata nos seus desenhos. Tem, além de um estilo, uma atitude - e isso é muito patente em "Longing", a sua nova exposição que inaugurou esta semana na galeria Baginski (Rua Capitão Leitão 51, no Beato, até 25 de Fevereiro). Nesta exposição, surpreendente, Cecília Costa provoca ligações entre as instalações que concebeu e os seus desenhos, intervindo sobre objectos do quotidiano, reformulando-os e redefinindo-lhes as funções - mesmo que sejam tão efémeros como um cubo de gelo que se vai dissolvendo. Voz certeira disse-me na inauguração que Cecília Costa "põe cuidado em coisas simples". É isso que faz a diferença da sua obra. Outras sugestões: mo Museu do Chiado, pode agora ver a recente exposição do Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, que retoma a pintura de Amadeo de Souza-Cardoso, à época surpreendente e polémica, mostrada pela primeira vez em Fevereiro de 1917. Na Escola Superior de Comunicação Social está uma curiosa exposição intitulada "A Propaganda eleitoral nas eleições presidenciais dos EUA - 2016", que reúne espólio da colecção de José Pacheco Pereira e que, além de material das eleições que deram a vitória a Trump, mostra peças de propaganda política desde os anos 30.

Arco da velha
No meio da confusão existente, o acordo de concertação social não foi firmado numa cerimónia, como é usual, mas através da recolha apressada de assinaturas porta a porta junto de cada um dos subscritores, por um motorista do Governo, enquanto no Parlamento o primeiro-ministro já o dava por assinado antes mesmo do périplo dos autógrafos terminar.

Ouvir
O piano, nos vários géneros musicais, é um dos instrumentos de que mais gosto e gravações de piano ocupam lugar de destaque na minha colecção de discos. No jazz contemporâneo, há um pianista que há anos me seduz, Brad Mehldau - seja nas suas formações tradicionais de trio, seja nas suas incursões a solo ou, mais recentemente, em duetos. "Nearness", editado no final de 2016, regista uma selecção de gravações efectuadas durante uma digressão europeia de um duo constituído pelo saxofonista Joshua Redman e Brad Mehldau, ambos amigos e colaboradores de longa data. Aliás, Mehldau começou a sua carreira como pianista do quarteto de Redman, no início dos anos 90, e depois ambos trabalharam juntos em diversas ocasiões -  na realidade, um e outro estão entre os músicos de jazz mais marcantes da sua geração. Neste disco pegam em temas clássicos - como "Ornithology", de Charlie Parker, "In Walker Bud", de Thelonius Monk, ou "The Nearness Of You", de Hoagy Carmichael e Ned Washington - e usam-nos para dar uma lição de improvisação e de cumplicidade. Temas originais como "Old West", de Mehldau, ou "Mehlsancholy Mode", de Redman, mostram também a sua criatividade como compositores. "Nearness", de Joshua Redman e Brad Mehldau, edição Nonesuch, no Spotify.

Provar
O chef argentino Chakall ganhou notoriedade em Portugal, primeiro com a sua cozinha que na altura parecia exótica, e, depois, com os seus programas de televisão e com mais de uma dezena de livros. Construiu uma personagem onde a exuberância, o colorido das roupas e um constante turbante fazem a sua imagem de marca - certamente fruto da experiência ganha como jornalista no início da sua carreira profissional. Felizmente, para além da construção da marca, Chakall tem colocado nos vários restaurantes por onde passou um traço de boa cozinha, bom serviço e um honesto compromisso entre qualidade e preço. Há cerca de um ano mudou-se para Marvila, para um dos antigos armazéns da firma de vinhos Abel Pereira da Fonseca, na Praça David Leandro da Silva, num espaço enorme que pode acolher grandes grupos e eventos, mas onde também pode servir com atenção mesas de duas ou quatro pessoas - o El Bulo Social Club. Há um menu especial de almoço e, ao jantar, há uma carta onde as influências do seu país de origem são notórias. A decoração é exuberante, tão colorida e marcante como o visual do próprio Chef. Há evidentemente evocações bem argentinas como papas rellenas, empanadas argentinas ou um original parafuso - o nome dado a um prego de ojo de bife de 200 gramas servido em bolo do caco e acompanhado por batata frita.
A opção numa recente visita foi por um duo de ceviche (de peixe branco e atum) e depois por cannelloni de osso buco. Ambos estavam muito bons, mas o ceviche merece destaque pela qualidade do tempero e preparação. A refeição terminou com um crumble de maçãs verdes. A lista de vinhos é comedida na variedade, mas a preços razoáveis. Volta e meia, tocam-se e dançam-se tangos. Encerra ao Domingo e segunda-feira (telefone 218619027)



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