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Manuel Falcão - Jornalista 06 de Janeiro de 2017 às 10:25

A esquina do Rio

A edição de fim de ano da revista Time publicou um muito interessante artigo de Michael Bloomberg, ex-mayor de Nova Iorque (onde deixou uma obra notável), sobre a importância das cidades.

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Não removas a mosca da testa do teu amigo com um machado.
Provérbio chinês

Cidades
A edição de fim de ano da revista Time publicou um muito interessante artigo de Michael Bloomberg, ex-mayor de Nova Iorque (onde deixou uma obra notável), sobre a importância das cidades. Ressalvando que existem diferenças óbvias entre os Estados Unidos e este nosso burgo, aqui deixo algumas ideias, tiradas do artigo, que me parecem boas pistas. Para Bloomberg, a guerra entre partidos no poder central mata e polui as boas ideias e um debate honesto que possa criar confiança entre representantes de várias organizações políticas - coisa que se consegue alcançar com frequência a nível local. Segundo Bloomberg, em muitas cidades, autarcas empenhados em resolver problemas estão a ensaiar novas políticas, muitas vezes em parceria com empresas e com os cidadãos, em áreas como a educação, transportes e saúde, adiantando-se ao Estado central. "Quando as boas ideias funcionam numa cidade, elas espalham-se a nível regional", sublinha. A nível do governo das cidades, há mais preocupação com questões ambientais ou com questões como a atracção de novos negócios, a dinamização da economia ou a construção de infra-estruturas modernas. Sobretudo as cidades que progridem estão empenhadas na criação de comunidades que consigam captar habitantes, negócios e que sejam bons sítios para viver e trabalhar. "Para saber para onde vai o país, não se guiem pela política nacional, envolvam-se a nível local, onde a acção verdadeiramente está", diz Bloomberg. Lembrei-me disto e percebi como são tão grandes as diferenças entre os países: aqui, nas próximas autárquicas, o campeonato é para ver qual será o partido com maior número de Câmaras. A qualidade de vida das pessoas nem faz parte das preocupações, com raras excepções, entre as quais destaco Rui Moreira, no Porto, não por acaso um independente.

Dixit
O sistema de justiça continua lento e, por isso, pouco justo, a começar na garantia da transparência da política.
Marcelo Rebelo de Sousa

Semanada
 António Domingues enviou uma SMS a Mário Centeno lamentando o comportamento do Ministério das Finanças sobre o caso da CGD  Francisco Louçã pediu a nacionalização do Novo Banco; numa entrevista, o ministro das Finanças não excluiu a possibilidade de nacionalizar o Novo Banco  o PCP inicia campanha pela saída do Euro em Março  em 2016, as falências atingiram 30 pessoas por dia; na mensagem de Ano Novo, o Presidente da República pediu ao primeiro-ministro mais estratégia e menos táctica  esta intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa foi a terceira mensagem presidencial menos vista desde 2006, com apenas 637,9 mil espectadores  em 2016, morreram 68 pessoas em acidentes envolvendo tractores  em 2016, mais de 500 militares da GNR percorreram 43.300 km para entregar 285 órgãos utilizados em transplantes nos hospitais portugueses  Portugal é o quarto país com a mais elevada taxa de doação de órgãos para transplante  em Portugal, no ano passado, nasceram mais sete bebés por dia do que no ano anterior  doze universidades privadas encerraram nos últimos três anos; os resultados do estudo Bareme Internet indicam que quase dois milhões de portugueses preferem pesquisar online produtos que acabaram por comprar numa loja física  na votação promovida pela Porto Editora para palavra do ano, a vencedora foi "geringonça".

Ver
George Eastman fundou a Kodak em 1888. A primeira fotografia havia sido feita em 1826 em França por Niépce e, depois, Daguerre evoluiu o processo até apresentar o daguerreótipo em 1839. Em 1888, nos Estados Unidos, em Rochester, George Eastman apresentava a Kodak, uma câmara fotográfica que incluía uma película que podia registar até 100 imagens e que, depois, era enviada para os laboratórios da firma para serem reveladas e impressas e devolvida carregada com novo rolo. Foi aí que a fotografia deixou de ser uma coisa quase de alquimista e passou a ser algo ao alcance de qualquer pessoa. Durante um século, o nome Kodak foi sinónimo de fotografia, mas acabou por perder significado na era digital. Fabricou película, câmaras fotográficas e máquinas de filmar. As imagens mais icónicas do século XX foram, na maioria, registadas em  película fabricada pela Kodak e, ao longo da sua vida, George Eastman coleccionou centenas de milhares de fotografias, incluindo o arquivo de nomes como Daguerre, Lewis Hine, Edward Steichen ou Muybridge, entre muitos outros. Além de imagens, o Eastman Museum, em Rochester, incorpora milhares de publicações e aparelhos. Há poucos dias, a Kodak anunciou que uma enorme parte deste espólio estava disponível online, prometendo que, progressivamente, serão adicionadas novas peças a este museu digital, que pode ser visitado em www.eastman.org/collections-online. Para já, pode ver fotografias, máquinas e tecnologia e o legado pessoal de George Eastman e, brevemente, será possível também aceder a filmes da colecção. 

Gosto
Da nova série "Sim, Chef", uma bem conseguida adaptação de "The Kitchen", com humor e um notável trabalho de actores. Destaque para Miguel Guilherme. Às quartas, na RTP1. 

Não gosto
Da nova série "Ministério do Tempo". Com fraca direcção de actores, diálogos forçados que acompanham mal uma viagem à História de Portugal. Às segundas, na RTP1. 

Folhear
De há uns tempos a esta parte, a National Geographic faz umas edições especiais, temáticas, que permitem obter uma série de informação, bem organizada, sobre temas às vezes inesperados. É o caso de uma das mais recentes, que tem por título "Matemáticos, Espiões e Piratas Informáticos" - um "cocktail" verdadeiramente explosivo. Com o rigor que é marca da National Geographic, ao longo de 144 páginas, desvendam-se histórias e segredos deste mundo fascinante. Destaque para os capítulos "A criptografia desde a Antiguidade até ao século XX", "Máquinas de codificação" e "Um Futuro Quântico". Vale a pena destacar o cuidado na edição de imagens - que recupera as tábuas de terracota da Baixa Mesopotâmia, tidas como o primeiro vestígio de expressão escrita e do uso de criptografia, ou ainda uma máquina de cifrar mensagens da altura da segunda grande guerra. E depois há curiosidades: o código de barras, tão vulgarizado, não é mais do que um sistema de encriptação composto de 13 dígitos e 30 barras negras. Esta edição especial da revista conta histórias tão divertidas como o código para senhoras do Kama Sutra ou a cifra de César, usada pelo grande imperador romano. E, claro, mostra e explica a surpreendente máquina Enigma, criada em 1923 por um alemão e que foi utilizada durante a segunda grande guerra para todas as comunicações militares. Fascinante.

Arco da velha
Maria Leal foi a figura mais pesquisada no Google em Portugal e o seu teledisco "Dialetos de Ternura" foi um dos mais vistos do ano no YouTube. Tino de Rans foi o segundo político mais pesquisado, logo atrás de Marcelo Rebelo de Sousa. 

Ouvir
"A Íntima Fracção" foi originalmente um programa de rádio, criado em 1984 por Francisco Amaral na Antena 1. Depois esteve na TSF, com emissões diárias e semanais até 2003. A partir daí, a sua vida tem sido essencialmente digital - em 2008, foi pioneiro dos podcasts portugueses, através do site do semanário Expresso. Teve várias vidas, muitos prémios e continua a ser um dos "podcasts" mais procurados - é fácil encontrar por pesquisa no Google. Pensado como um programa de autor, é um marco na história da rádio, graças a uma selecção musical cuidada, coerente e dinâmica. Agora, sempre pelas mãos do seu autor, Francisco Amaral, está no Spotify uma "playlist" da Íntima Fracção, com 44 canções e três horas de música de uma escolha absolutamente irrepreensível. Ali estão nomes como Brian Eno, Harold Budd, Holger Czukay, David Sylvian, Laurie Anderson, Cocteau Twins, Ryuichi Sakamoto, Durutti Column, Nick Cave. Mazzy Star, Eels, The Passions, mas também Nancy Sinatra, Charles Trenet, Elvis Presley ou Stacey Kent, entre outros. Além do Spotify, pode encontrar mais listas em http://intima.blogspot.pt/, onde Francisco Amaral vai continuando o seu trabalho de paixão pela música e onde a Íntima Fracção continua a viver 32 anos depois de esta aventura ter começado.

Provar
Estas linhas só serão úteis a quem gostar de comida indiana. Comecemos pela geografia: a costa do Malabar fica no litoral do Sudoeste da Índia e é considerada a região mais húmida do sul do país. Aqui em Portugal, em Lisboa, Costa do Malabar é o nome de um restaurante junto à Alameda Afonso Henriques, do lado da Fonte Luminosa. Aquela zona - nomeadamente as transversais que vão dar à praça onde fica o Mercado de Arroios, as ruas Carlos Mardel e Rosa Damasceno - é hoje em dia uma espécie de sociedade das nações em termos gastronómicos. Ali se encontram exemplos da cozinha do Nepal, da Mongólia, de diversas regiões da China e da Índia e ainda bares de algumas geografias de leste. O Costa do Malabar fica na Rua Rosa Damasceno e é um bom exemplo do novo mundo que se pode descobrir em Lisboa. Numa recente incursão, vieram para a mesa biriyani de borrego, biriyani de vegetais, madrasi de galinha e caril de camarão. O biriyani é o prato mais representativo da gastronomia da costa do Malabar, rico em especiarias e frutos secos, sem ser muito picante - e quer o de borrego quer o de vegetais revelaram-se boas surpresas e foram a melhor escolha da mesa. O serviço é simpático, a sala é agradável e bem colorida a evocar as cores da Índia. As doses são grandes, dois biriyani chegam bem para quatro pessoas - juntem-lhes bahjis de cebola (muito bons) e chamuças (de carne ou vegetais) e de certeza que ficam bem servidos. Na mesa ao lado era elogiado um caril de lentilhas e espinafre vermelho. Vinhos portugueses regulares a bom preço, classificação 3,9 em 5 no Zomato. Rua Rosa Damasceno 6A, telefone 210 932 433 ou 914 358 835.


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