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29 de Abril de 2016 às 10:21

A esquina do Rio

Terminei a semana passada a pensar que a frase "O Estranho Caso da Oposição Desaparecida" seria um bom ponto de partida para um policial de matiz política

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Back to basics
Um pessimista, confrontado com duas escolhas igualmente más, escolhe ambas.
Provérbio judeu

Mistério
Terminei a semana passada a pensar que a frase "O Estranho Caso da Oposição Desaparecida" seria um bom ponto de partida para um policial de matiz política, passado no centro de Lisboa, ao redor de S. Bento. A verdade é que aquele que era suposto ser o partido líder da oposição, o PSD, está, sobre o PS e o Governo, mais calado do que Francisco Assis ou José Sócrates. A realidade é que o PSD só age quando é forçado a reagir - quando lá dentro alguém se sente incomodado pelo seu próprio silêncio, comparado com o ruído da oposição interna do PS ou o tacticismo eficaz do PP -, e que esta semana fez uma jogada de mestre ao obrigar o Programa de Estabilidade a ir a votos. Recordo que, do lado do Governo e seus apoiantes, tal votação era indesejada - e o PCP foi particularmente duro a dizer que não via necessidade em ir a votos, na mesma altura em que cinicamente formulava opinião negativa sobre esse mesmo Programa de Estabilidade. O Bloco, mais hábil nestas coisas do que o PCP, deu a entender que não concordava, mas foi-se esgueirando nos intervalos da chuva - até ser forçado a declarar o seu voto. Aquilo que a bancada do PP na Assembleia da República fez foi dar uma lição sobre os princípios básicos da actuação parlamentar da oposição - colocando os aliados do Governo a não ter outra alternativa senão votar a favor daquilo que não gostam e remetendo para toda a esquerda o ónus de um programa que é o reconhecimento de que as promessas eleitorais e as reivindicações de política económica da esquerda se revelaram um acto falhado. No fim de tudo isto, vê-se que o Bloco, apesar dos esforços da deputada Mortágua, tem mais jeito a fazer propostas sobre a não discriminação de géneros do que a traçar rumos para o desenvolvimento do país.

Dixit
Era, talvez, preferível reduzir o IVA na electricidade do que reduzir o IVA
nos restaurantes. A redução do IVA na electricidade beneficia todas as famílias portuguesas. A redução do IVA na restauração beneficia, essencialmente,
os donos dos restaurantes, em certos segmentos.
Eduardo Catroga

Semanada
• A presidente do Conselho das Finanças Públicas, Teodora Cardoso, declarou mais uma vez que as previsões do Governo são demasiado optimistas  o défice sobe a um ritmo de 1,2 milhões de euros por dia e atingiu 824 milhões no fim de Março  o Plano de Estabilidade assenta em mais 5,5 milhões cobrados em impostos  mais de dez mil milhões de euros saíram de Portugal para "offshores" nos últimos cinco anos  a poupança das famílias portuguesas está no nível mais baixo das últimas décadas  Lisboa, Porto, Sintra, Vila Nova de Gaia e Cascais são os cinco concelhos onde se concentra um quinto do poder de compra do continente, segundo os dados do Sales Index da Marktest  no sector das obras públicas, as adjudicações ficam, em média, em 21% do valor base e os construtores queixam-se de preços fictícios nos concursos  um terço das mais de sete mil queixas feitas em 2015 ao Provedor de Justiça foram contra o Instituto da Segurança Social e o Ministério das Finanças
 o Governo falhou o prazo de fim de Abril para fechar o acordo com a TAP  nos últimos anos, 400 padres deixaram o sacerdócio para casar  o Exército anunciou previamente as datas em que vai fazer inspecção ao Colégio Militar para averiguar se há discriminação sobre a orientação sexual dos alunos  a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária esteve seis meses sem processar as multas de trânsito  o PAN anunciou pretender que cães e gatos possam entrar em restaurantes e supermercados.

Ouvir
Samuel Úria edita desde 2003 e integrou o catálogo da editora FlorCaveira, que também gravou Tiago Guillul (o fundador da editora), Manuel Fúria, B Fachada e Diabo na Cruz, entre outros. Nos últimos anos, Samuel Úria começou uma carreira a solo na editora Norte Sul, da Valentim de Carvalho. O seu trabalho de 2013, "Grande Medo do Pequeno Mundo", foi considerado um dos discos do ano e agora surge com "Carga de Ombro", mais maduro na escrita das canções, mais certeiro na interpretação, mais apurado nos arranjos. E mais forte no conteúdo. Samuel Úria percorre um estreito caminho entre a música popular portuguesa e assumidas influências dos blues e de nomes como Tom Waits, tão marcante na maneira como escreve. Um disco que começa a primeira canção por contar "eu tinha a corda na garganta afinada em dó", e que depois proclama "eu tenho o futuro num post-it que é para ser lembrete", é sem dúvida um caso invulgar. Eu, por mim, gosto ainda mais deste "Carga de Ombro" do que do disco anterior - e ele estabelece declaradamente Samuel Úria como um dos grandes autores portugueses contemporâneos de canções, com um domínio invulgar do idioma na composição musical. Acresce que a produção e os arranjos de Miguel Ferreira merecem ser destacados, porque ele faz um duo perfeito com Úria. "Carga de Ombro" inclui 11 novas canções e tem uma edição especial, exclusivo FNAC, que inclui um vídeo gravado ao vivo nos Estúdios Valentim de Carvalho, com sete temas de anteriores trabalhos de Úria. A edição digital tem um tema extra.

Gosto
Da campanha criada pelo Museu Nacional de Arte Antiga e que em seis meses conseguiu recolher 600 mil euros para comprar "A Adoração dos Magos", de Domingos Sequeira, garantido assim a permanência da obra em Portugal.

Não gosto
Da arrogância de Vítor Constâncio face à Assembleia da República.

Provar
Tinha saudades de ver o mar entre as Azenhas do Mar e a Praia Grande, de andar por ali, fora da época estival. Gosto sobretudo da estrada que sai da Praia das Maçãs e que atravessa as Azenhas do Mar - que para mim continua a ser um local mágico. Há qualquer coisa naquele mar que exerce atracção - o sentido de oceano, a cor, as falésias. Num outro pedaço de estrada, a descer para a Praia Grande, fica o Restaurante Nortada, um clássico da região, garantia de boa cozinha e de respeito pelos produtos do mar. Situado no alto da praia, tem uma vista única. No meio desta volta, tive lá um belíssimo almoço que começou por uns percebes das Berlengas, que estavam superiores. A seguir vieram filetes de pescada com arroz de berbigão (perfeitos) e uma empada de robalo com legumes salteados e redução balsâmica que foi surpreendente pela novidade e pelo cuidado do preparo. O serviço é atento e simpático e, ao fim de muitos anos sobre a anterior visita, resta dizer que todas as qualidades que fizeram desta casa um dos mais apreciados restaurantes da região de Colares se mantêm. Telefone: 21 929 1516, Avenida Alfredo Coelho 8, Praia Grande.

Ver
Chegou aquela altura do ano em que os trabalhos fotográficos seleccionados pela World Press Photo ficam expostos em Lisboa, no Museu da Electricidade. Até 22 de Maio, pode ser vista uma selecção de 150 fotografias, entre elas o primeiro prémio, de Warren Richardson, uma imagem que mostra dois refugiados a fazerem passar um bebé através de uma vedação de arame farpado na fronteira entre a Sérvia e a Hungria. Destaque também para o trabalho do fotógrafo português Mário Cruz, da agência Lusa, vencedor na categoria "Assuntos Contemporâneos". O jornalista concorreu com um ensaio fotográfico sobre a escravatura de crianças no Senegal e na Guiné-Bissau, intitulado "Talibes, Modern Day Slaves", de onde é extraída a foto que acompanha esta nota. Outra exposição de fotografia que merece visita é a do fotógrafo moçambicano Filipe Branquinho, "Paisagens Interiores", que mostra 24 imagens de Maputo, centradas no interior de edifícios públicos, espaços onde se adivinha, sem se ver, a presença humana. Na Galeria Avenida da Índia até 5 de Junho (Avenida da Índia 170, depois do CCB).

Arco da velha
Metade dos médicos de família reforma-se nos próximos dez anos e, entretanto, os centros de saúde querem contratar 700 médicos reformados para suprir as suas deficiências. 

Folhear
Após alguns meses de edições insípidas, a revista mensal Monocle voltou à sua melhor forma na edição do mês de Maio. O tema é aliciante, sobretudo vindo da revista que nos últimos anos mais se dedicou a analisar a vida nas cidades e a apresentar propostas para a melhorar. Agora, a Monocle olha à volta das grandes cidades e dedica-se a escolher exemplos de pequenas localidades onde viver é mais agradável, onde podem existir oportunidades de negócio e onde se pode trabalhar com menos stress e maior produtividade. "Aquilo que as pequenas vilas não têm em dimensão é compensado pelas oportunidades, as boas ideias e os bons planos para quem as escolhe" - escreve a revista. As melhores dessas vilas, prossegue a Monocle, têm um comboio perto que assegura uma viagem rápida e confortável até à cidade, criam emprego, quer em start-ups tecnológicas em busca de baixo custo de instalação, quer através de indústrias e actividades tradicionais resultado da iniciativa própria de jovens empreendedores, têm uma vida animada todo o ano sem a pressão sazonal de turistas, dispõem de infra-estruturas para a prática desportiva e espaços verdes abundantes, e têm uma proximidade efectiva aos eleitos que decidem sobre esses locais. Lá dentro, há artigos sobre imprensa local, exemplos escolhidos de vilas bem sucedidas e muitas ideias.

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