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11 de Março de 2016 às 09:50

A esquina do Rio

Escrevo quarta-feira à noite e reparo agora que esta coluna será publicada no dia 11 de Março, 41 anos depois dos acontecimentos que marcaram definitivamente Portugal

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Back to basics
Nos Estados Unidos, qualquer pessoa pode vir a ser Presidente - é um dos riscos com que temos de viver.
Adlai Stevenson Jr.

Símbolos
Escrevo quarta-feira à noite e reparo agora que esta coluna será publicada no dia 11 de Março, 41 anos depois dos acontecimentos que marcaram definitivamente Portugal - a série de nacionalizações, o extremar de posições, um clima tenso na elaboração da Constituição. É impossível não recordar esse espírito do tempo nesta semana em que o novo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, iniciou funções - até porque a esquerda parlamentar, como se viu na cerimónia, preferiu manter o clima de divisão de há 41 anos. No encontro ecuménico no dia da sua posse, o Presidente da República apelou "à aceitação do outro, ao diálogo, ao entendimento, à compreensão recíproca, sem negar as diferenças de princípios ou de vivências.". Este encontro entre várias religiões foi mais um momento simbólico dos vários que tem criado: na véspera de ser empossado, dormiu na casa dos pais e foi a pé até à Assembleia da República, numa clara evocação da sua infância e do seu percurso, mas sobretudo uma homenagem aos seus próprios pais. Na véspera, despediu-se da vida de simples cidadão almoçando sozinho numa esplanada, de boné na cabeça. Os seus convites ao Rei de Espanha, ao Presidente da Comissão Europeia e ao Presidente de Moçambique, são outros símbolos - assim como o é a escolha anunciada de Paris para palco das comemorações do Dia de Portugal.
Marcelo Rebelo de Sousa, antes de ser Presidente, é um homem da comunicação - foi jornalista, director de jornais, editor, colunista, comentador. Sabe a importância da comunicação, sabe a importância dos símbolos na construção de uma imagem - como a escolha de citações de Mouzinho de Albuquerque, Miguel Torga e Lobo Antunes no seu discurso de posse bem revela. Ou, ainda, como a cirúrgica citação de Adam Smith sobre a mão invisível, evocando a obra "A Riqueza das Nações". É um tempo novo que se parece abrir. Bem precisamos dele.

Semanada
• O cavaquismo despediu-se do país em Cascais  Marcelo Rebelo de Sousa escolheu Paris para o próximo Dia de Portugal  António Costa diz que "a Comissão vê riscos onde nós não vemos"  Bruxelas anunciou querer mais austeridade em Portugal  o Estado já gastou cinco milhões de euros em consultores para tratar do caso dos "swaps"  um estudo do Reuters Institute sinaliza que em Portugal as mulheres consomem menos notícias que os homens e revela que a televisão e o computador são actualmente os dispositivos mais usados para o consumo de notícias  os operadores de telecomunicações foram alvo de 429 processos de contra-ordenação pela Anacom em 2015, um aumento de 24% em relação ao ano anterior  o Governo fez mil nomeações nos primeiros cem dias da sua existência  o preço das casas desvalorizou 26% desde 2000  a Câmara Municipal de Lisboa decidiu aplicar uma taxa às lojas que coloquem vasos de plantas à porta  oito mil estrangeiros já solicitaram pedidos de residência em Portugal para usufruírem de vantagens fiscais  a Polícia Judiciária fez buscas na Câmara de Gaia relacionadas com aspectos da gestão de Luís Filipe Menezes naquela autarquia, onde deixou uma dívida de 300 milhões de euros  entre 2012 e 2014, as empresas adquiridas pelo grupo britânico que contratou Maria Luís Albuquerque tiveram benefícios fiscais de 381,7 mil euros  Lisboa vai ter mais 40 novos hotéis até 2017.

Folhear
Como é tradição, um dos primeiros actos do novo Presidente da República foi depositar coroas de flores nos túmulos de Luís Vaz de Camões e Vasco da Gama, no Mosteiro dos Jerónimos. Neste caso, a homenagem a Luís Vaz de Camões assume um significado especial, porque Marcelo Rebelo de Sousa não utiliza o Acordo Ortográfico nos seus escritos pessoais e vários dos elementos da sua equipa tomaram posições contra esse mesmo Acordo. Tudo isto me leva à obra de Camões - "Os Lusíadas", o poema épico que enaltece a capacidade, a coragem e a criatividade dos portugueses. A obra começa com a primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, sempre com a História de Portugal como pano de fundo ao longo dos dez cantos do poema, que terá sido concluído em 1556 e editado em 1572. Tirando as edições escolares, não é muito fácil encontrar edições acessíveis de "Os Lusíadas". Não deixa de ser uma feliz coincidência que a editora Guerra & Paz, na sua colecção de textos clássicos, tenha decidido editar agora "Os Lusíadas", que estarão disponíveis por 13 euros, voltando a oferecer a possibilidade de redescobrir um dos textos mais importantes da cultura portuguesa. Esta edição tem nova fixação de texto feita por Helder Guégués e, felizmente, não segue o Acordo Ortográfico.

Gosto
Enquanto cidadão, Marcelo Rebelo de Sousa não escreve segundo o Acordo Ortográfico.

Não gosto
Da atitude dos partidos que se dizem republicanos e não aplaudiram o novo Presidente da República eleito em sufrágio universal.

Ver
Este é o fim-de-semana da Moda Lisboa - Lisbon Fashion Week. De sexta a Domingo, cerca de duas dezenas de estilistas portugueses vão apresentar o seu trabalho no Pátio da Galé, junto ao Terreiro do Paço. Mas, além disso, nos Paços do Concelho, estarão patentes duas exposições: uma, de fotografia, de João Telmo, sob o título "Gineceu Androceu", que retrata 20 personalidades e 11 designers de moda portugueses; a outra, de uns objectos especiais e muito quotidianos - se nunca viu sapatos em exposição sem ser em fotografias do closet de Imelda Marcos, experimente, no mesmo local, Paços do Concelho, ver as propostas dos designers portugueses para vestir os pés nacionais no Outono/Inverno deste ano. Ainda na Praça do Município, no espaço Wonder Room, veja uma "pop-up store" dedicada a cerca de 30 marcas nacionais emergentes, todas Made in Portugal, mostrando o trabalho de designers em áreas que vão da roupa aos óculos de sol, passando por fatos de banho, equipamentos de surf e acessórios variados. Todo o programa e horários em modalisboa.pt.

Arco da velha
Lula da Silva veio a Portugal para o lançamento do livro de José Sócrates com a viagem paga por uma empresa que tinha ganho o concurso para a construção de um troço do TGV e que era sócia do grupo Lena na empreitada. O responsável da Odebrecht, a empresa brasileira em causa, foi entretanto condenado a 19 anos de prisão no âmbito das investigações de corrupção durante o Governo de Lula e Dilma, conhecidas como Lava Jato.

Provar
Era uma vez um grupo de amigos, apreciadores de sushi, que tinham descoberto os segredos da cozinha japonesa pela mão do Mestre Takashi Yoshitake, nas várias versões que o seu Aya teve ao longo da vida, terminada demasiado cedo. Há cerca de um ano, esses amigos tiveram a ideia de fundar um clube de sushi, semi-privado, e abriram o restaurante Go Juu, nas Avenidas Novas, na Rua Marquês Sá da Bandeira 46 A, frente aos jardins da Gulbenkian.
Ao jantar, o Go Juu está aberto de quarta a sábado, mas as noites de quinta, sexta e sábado são prioritariamente reservadas aos sócios e seus convidados - mas, se sobrarem lugares, dos cerca de quarenta e cinco que existem, eles ficam disponíveis ao público. Às quartas, qualquer pessoa pode reservar e ao almoço, de terça a domingo, o local está igualmente aberto ao público. Existe um menu de almoço com várias sugestões e ao jantar a lista oferece propostas da melhor cozinha tradicional japonesa. Os menus de almoço incluem uma salada, uma sopa miso, pickles japoneses e depois diversas possibilidades de escolha de variedades de sushi e sashimi.
Num restaurante japonês, o arroz é um critério de selecção para se saber se estamos a falar de coisas sérias ou de brincadeiras. O do Go Juu é seríssimo. Os peixes são muito frescos e é um prazer almoçar ao balcão a ver o trabalho dos dois sushiman, a preparar cada prato. Este não é um sítio para se ir comer a correr. É um local para parar, sentir e desfrutar o prazer. O serviço é muito bom, a carta de vinhos é criteriosa mas de preços razoáveis, e existe vinho a copo, bem escolhido.
Nas sobremesas, destaque para os gelados de chá verde, de gengibre e de sésamo e, ainda, para os tradicionais castella e bolo de castanha e chá. Vê-se que a casa é frequentada por clientes habituais e por apreciadores da tradição culinária japonesa. O preço médio ronda os 30 euros por pessoa. Go Juu, Rua Marquês Sá da Bandeira 46, Telefone 218 280 704.

Dixit
Não quero atribuir-lhe outra qualificação a não ser a ausência total de bom senso ao aceitar um cargo desta natureza.
Manuela Ferreira Leite, sobre a contratação de Maria Luís Albuquerque pela Arrow.

Ouvir
Hélène Grimaud é uma pianista francesa que tem uma preocupação assumida por causas ambientais. Nitin Sawhney é um músico, compositor e produtor de origem indiana, residente em Londres, que se caracteriza por combinar influências musicais asiáticas com elementos do jazz e da electrónica. O projecto que junta Grimaud e Sawhney tem por título "Water" e combina obras de compositores clássicos que se dedicaram a este tema, com pequenos temas expressamente desenvolvidos por Sawhney para serem intercalados entre essas peças clássicas interpretadas por Grimaud. Aqui estão obras de oito compositores diferentes - Maurice Ravel, Franz Liszt, Claude Debussy, mas também outros mais inesperados como Luciano Berio, Toru Takemitsu, Gabriel Fauré, Isaac Albéniz e Leos Janácek, todos eles, de alguma forma, ligados ao tema da água.
As interpretações de Hélène Grimaud foram gravadas ao vivo em Nova Iorque, e as sete transições de Sawhney, que introduzem separadores ambientais criados de forma electrónica, gravados posteriormente em Londres e depois intercalados entre as interpretações da pianista, contribuem para sublinhar o lado conceptual de toda a obra. A água, diz Grimaud referindo-se ao título do disco, é uma fonte de vida e de inspiração, e este projecto pretende mostrar as várias formas que a água pode ter nas nossas emoções. CD Deutsche Grammophon.

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