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08 de Janeiro de 2016 às 10:20

A esquina do Rio

Em Portugal, o regime entrou na época do Zig Zag. Isto aplica-se, nomeadamente, à acção do Governo, que em apenas um mês já modificou várias medidas do anterior Executivo

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Numa disputa sem sentido, não há qualquer espécie de valor.
William Shakespeare

Zig Zag
Em Portugal, o regime entrou na época do Zig Zag. Isto aplica-se, nomeadamente, à acção do Governo, que em apenas um mês já modificou várias medidas do anterior Executivo, desde os feriados nacionais até às privatizações na área dos transportes, passando por revogações e alterações na saúde, educação e justiça. O país entrou oficialmente na fase em que se desfaz o que se fez e em que se aumentam os gastos. A seu tempo virá o aumento das receitas pelo expediente do costume - o aumento da cobrança de impostos. Estou com alguma curiosidade de ver como isto evolui, do ponto de vista da despesa pública, da competitividade da economia, do PIB e, sobretudo, da melhoria efectiva das condições de vida, que é o grande argumento para tudo o que o Governo está a fazer. Mas isto só se perceberá daqui a uns anos. Para já, uma coisa é certa: mesmo que subjectivamente, há muita gente que se sente mais à vontade para fazer gastos, para contrair créditos. Há, como se viu nos números deste Natal, uma espécie de nova euforia consumista. Resta saber se foi uma atitude pontual ou se esta euforia vai virar epidémica. Mas o efeito Zig Zag não se passa só na acção do Governo. Aos poucos vai descendo pelo edifício do sistema partidário. O primeiro sinal veio de Paulo Portas, que decretou o fim, pelo menos temporário, da sua época - o que vai atirar o CDS/PP necessariamente para outros rumos. Resta ver como o PSD evoluirá e como se reposicionará face às alterações à sua direita. Tudo se conjuga para uma tempestade perfeita para que o resultado seja uma tranquila governação de Costa ao longo de uma legislatura. Constata-se agora ainda mais que o anterior Governo não fez reformas de fundo - apenas usou maquilhagem estrategicamente aplicada. Ao usar desmaquilhador em quantidades apreciáveis, António Costa mostra também a superficialidade de muito do que foi feito. Vamos a ver como fica o rosto do país no fim destes tratamentos de beleza.

Semanada
• Começaram os debates presidenciais, com três características: fraca audiência, falta de brilho e enorme previsibilidade e monotonia  começa a desenhar-se o espectro de uma abstenção assinalável  um inquérito recente mostrava que os novos votantes, entre os 18 e 25 anos, na maioria dos casos, não ligam sequer à campanha que está a decorrer  segundo o Instituto Nacional de Estatística, cerca de 35% da população portuguesa, e nestes a maioria com mais de 65 anos, não tem acesso à Internet; em 2015, foram registados mais de cinco mil nomes diferentes para recém-nascidos  as receitas brutas de bilheteira de cinema a nível global ultrapassaram em 2015 os 34,8 mil milhões de euros, o maior valor de sempre  a venda de carros registou, no ano passado, um aumento de 24% e obteve o melhor resultado desde 2010  o investimento em imobiliário em 2015 atingiu o maior valor de sempre, 1,9 mil milhões de euros, com os centros comerciais e lojas de rua a captarem a maior fatia do investimento estrangeiro na área  a banca portuguesa detecta por dia 15 operações suspeitas de lavagem de dinheiro  o Governo decidiu que quatro feriados civis e religiosos vão ser repostos já este ano, criando três "pontes" em 2016;  as compras com multibanco subiram 270 milhões de euros no período do Natal  o Fisco reteve 486 milhões de euros em reembolsos de IVA a empresas em 2015  a dívida pública portuguesa subiu dois mil milhões de euros num mês  especialistas de planeamento urbano de vias circulares às cidades afirmam que a decisão de ajardinar e arborizar a segunda circular, tomada pela Câmara Municipal de Lisboa, coloca questões de segurança e poderá ter um impacto considerável no aumento do trânsito (e da poluição) dentro da cidade  21 dias é o tempo médio que o Ministério da Educação demora a substituir um professor, por doença ou outros motivos, o que na prática significa um mês inteiro sem aulas  no fim-de-semana passado, a espera em urgências hospitalares chegou a atingir as 12 horas; o Governo fez 154 nomeações em 41 dias.

Ver
Esta semana, recomendo três exposições de fotografias. Começo por Lisboa, onde "A Pequena Galeria" (Av. 24 de Julho 4C, junto à Praça D. Luís), reabre com uma nova montagem da exposição "Sete Fotógrafas & Inéditos", que apresenta trabalhos de Clara Azevedo, Cristina H. Melo, Diana Laires, Inês Cruz, Letícia Zica, Luísa Ferreira e Maria Simão. Em Cascais, na Fundação D. Luís I - Centro Cultural de Cascais, até 17 de Abril, está a exposição "Nicolas Müller. Obras-Primas", que integra a programação da MOSTRA ESPANHA 2015 e que fez parte do PhotoEspaña de 2015. Müller foi um fotógrafo húngaro que se fixou em Espanha, depois de ter passado por França - onde conheceu Brassaï e Robert Capa - e ainda por Portugal, onde permaneceu apenas uns meses e realizou um trabalho sobre a zona ribeirinha do Porto, que é parte integrante da exposição em Cascais (na imagem). Finalmente, em Braga, no Theatro Circo, está uma exposição de fotografias de António Variações, parte de uma colecção de 300 imagens que, ao longo dos anos, foram recolhidas por Teresa Couto Pinho, desde ensaios a concertos, passando pelas sessões para as capas de discos. Dentro em breve será editado um livro que reúne a colecção.

Gosto
Das reflexões e opiniões que podem ser vistas no novo site www.clubedeimprensa.pt.

Não gosto
Num debate televisivo, o candidato do PCP, Edgar Silva, evitou responder frontalmente quando interrogado sobre se considerava a Coreia do Norte uma democracia.

Folhear
Neste Natal, houve uma prenda que me tocou especialmente: a nova edição de "Lisboa - cidade triste e alegre", de Victor Palla e Costa Martins, que foi publicada no último trimestre de 2015 pela Pierre Von Kleist, uma editora consagrada a livros de fotografia. Originalmente, o livro foi editado em 1959, na sequência de uma exposição na Galeria Diário de Notícias. A edição original foi feita em fascículos, publicados entre Novembro de 1958 e Fevereiro de 1959. Mais tarde, em 1982, António Sena fez uma exposição chamada "Lisboa e Tejo e Tudo", na sua galeria Ether, e recuperou e encadernou algumas das colecções integrais de fascículos - e vários exemplares tiveram circulação internacional. O livro agora reeditado reproduz exactamente o original e reúne cerca de 200 fotografias, em que os autores incluíram excertos de poesia Fernando Pessoa, António Botto, Almada Negreiros, Camilo Pessanha, Mário de Sá-Carneiro, Alberto de Serpa, Cesário Verde, Gil Vicente, e inéditos de Eugénio de Andrade, David Mourão-Ferreira, Alexandre O'Neill, Jorge de Sena, entre outros, com destaque também para o texto de abertura de José Rodrigues Miguéis. A reputação internacional do livro surgiria depois, associada à sua inclusão em "The Photobook: A History, Vol. 1", de Gerry Badger e Martin Parr, que o descrevem assim: "Lisboa, Cidade Triste e Alegre é particularmente notável pelo uso de ideias gráficas desenvolvidas por fotógrafos como William Klein ou Ed van der Elsken, criando um livro vibrante, com uma sequência cinemática". Em 2009, para assinalar o cinquentenário da edição original, a Pierre Von Kleist fez uma reedição reproduzindo exactamente a original, edição que rapidamente esgotou. E, no final do ano passado, fez nova reedição, igualmente com uma impecável impressão, desta vez feita na Alemanha. E é esta que folheio regularmente com gosto, deliciando-me com os textos que, no índice, os autores escreveram sobre a forma como cada imagem foi feita.

Arco da Velha
Há um ano, a eurodeputada Ana Gomes propôs ao PS que apoiasse a candidatura presidencial de Maria de Belém, sublinhando que era tempo de ter uma mulher na Presidência; agora decidiu aceitar ser a mandatária de Sampaio da Nóvoa. 

Ouvir
Frank Zappa foi um dos génios da música norte-americana da segunda metade do século passado. Percorreu vários géneros musicais, sozinho ou com os Mothers Of Invention, fez canções, encenou provocações, e escreveu peças de música contemporânea, muitas sob a influência de Edgard Varèse, algumas interpretadas por nomes como Pierre Boulez, desaparecido esta semana. Uma delas, a mais célebre, é a ópera "200 Motels", inicialmente editada em 1971 numa versão rock, e que agora foi gravada pela orquestra Filarmónica e Coro de Los Angeles, dirigidos por Esa-Pekka Salonen. Vinte e dois anos depois da sua morte, Zappa continua a surpreender, quando nos reencontramos com o seu talento musical nesta reinterpretação de uma das suas peças mais emblemáticas, escrita ao longo de cinco anos e que relata a passagem de uma banda rock por uma cidade imaginária, Centerville, pretexto para um retrato irónico sobre o quotidiano da América de então, desde os habitantes da cidade aos membros da banda, passando pelo próprio Zappa ou os jornalistas que escrevem sobre a digressão. A versão de Salonen fez algumas alterações na ordem de apresentação das diversas cenas e privilegiou a abordagem orquestral. Menos enérgica que a versão original, ela é, no entanto, mais coerente do ponto de vista da narrativa e, sobretudo, permite divulgar e dar nova vida a uma das maiores obras de Zappa, mostrando toda a sua genialidade, quer na escrita musical quer na ironia do libretto. A gravação foi efectuada em 2013, editada no final do ano passado e produzida por Frank Filipetti e Gail Zappa, a filha do compositor.("200 Motels - The Suites", duplo CD Zappa Records, Edição Universal Music, na FNAC e El Corte Ingles).

Dixit
Não estou a concorrer a líder partidário.
Marcelo Rebelo de Sousa

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