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21 de Agosto de 2015 às 10:17

A esquina do Rio

Há um espectro que assola as eleições de 4 de Outubro e dá pelo nome de presidenciais. A proximidade das duas eleições - as presidenciais serão em Janeiro próximo - e o termo do derradeiro mandato do actual Presidente da República constituem uma mistura explosiva.

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Mantém os teus amigos por perto e os teus inimigos mais perto ainda.
Sun Tzu

Mixórdias
Há um espectro que assola as eleições de 4 de Outubro e dá pelo nome de presidenciais. A proximidade das duas eleições - as presidenciais serão em Janeiro próximo - e o termo do derradeiro mandato do actual Presidente da República constituem uma mistura explosiva.
Esta semana, António Costa, imagino que involuntariamente e sem pensar muito, como é sua característica - veja-se o patético caso dos cartazes - , chamou a função presidencial à baila no que ao resultado das eleições legislativas diz respeito. Num cenário de separação das duas eleições, já de si complicado, veio colocar a questão presidencial em primeiríssimo plano.
Este tema vai durar até ao final da campanha eleitoral e não ajuda ninguém. Até ao momento, as sondagens indicam um empate técnico entre o PS e a coligação PSD-PP. Por muitas evoluções que se verifiquem, o cenário de uma maioria absoluta, de qualquer destes intervenientes, parece muito improvável. Ambos já recusaram entendimentos um com o outro - apesar de a aliança contranatura ser o "pão nosso de cada dia" na Europa Central. Esta semana, um alto funcionário português da Comunidade Europeia chamou-me a atenção para isso mesmo, adiantando, aliás, que essa capacidade de entendimento seria um bom exemplo das melhores práticas políticas que dão consistência à Europa.
Muito modestamente, acho que essa é a raiz dos males dessa nebulosa de interesses, dessa estranha amálgama de contrários, dessa mixórdia a que alguns chamam União. Não sei qual vai ser o resultado no dia 4 de Outubro, mas tenho a certeza que, seja quem for que ganhe, vai ter de se submeter às imposições de quem nunca foi a votos em Portugal. Esse é o triste legado de quem nos conduziu a este barco avariado. Para o próximo "round" deste combate, as presidenciais, provavelmente disputadas em clima de crise institucional, perfilam-se três contendores no canto direito e outros três no canto esquerdo. Talvez seja a altura de revermos como todo o sistema político funciona. 41 anos já chegam para tirar lições. E conclusões.


Semanada
• A Polícia Judiciária já identificou, desde 2013, 27 menores suspeitos de atear fogos florestais  foram marcadas manifestações de polícias para 31 de Agosto  os únicos partidos que ainda não se pronunciaram sobre as presidenciais são o PCP e o Bloco de Esquerda  até 15 de Agosto, morreram nas estradas portuguesas mais 31 pessoas que em idêntico período do ano passado  no primeiro semestre de 2015, foram constituídas arguidas 44 pessoas, a maioria homens, por suspeita de pornografia envolvendo menores  as contas na Saúde são negativas, mas melhoraram 337 milhões de euros desde 2011  mais de 3.000 médicos saíram do Serviço Nacional de Saúde desde 2011  até final de Julho, nasceram em Portugal mais 1.500 bebés do que em idêntico período do ano passado, o que significa um aumento da natalidade, pela primeira vez desde há cinco anos  o negócio de venda de comida na rua movimenta já 2,5 milhões de euros e tem cerca de 130 tipos de oferta diferentes  os bancos concederam 409 milhões de euros de empréstimos em Junho, um aumento de 21,5%, com o crédito automóvel a registar o maior aumento  durante 2014 foram abandonados 600 cães e gatos por semana  o custo dos manuais escolares para o sétimo ano de escolaridade ultrapassa os 250 euros  o passadiço da Ribeira das Naus, obra emblemática de António Costa, teve que ser fechado um ano depois de ter sido inaugurado, devido a problemas de construção e deficiente previsão de intensidade de utilização  António Costa prevê criar 207 mil empregos, se for eleito.

Dixit
Voltar a casa é a maior viagem de todas.
Miguel Esteves Cardoso Público


Folhear
Ficar a ler um livro noite fora é quase sempre um exercício que abre o apetite. Quando se trata de um policial escrito pelo italiano Andrea Camilleri, contando as aventuras do seu inspector Montalbano, a coisa piora um pouco. Game of Mirrors, originalmente publicado em 2011, traduzido este ano para inglês, é o 18.º livro das histórias do inspector Montalbano, como sempre com a Sicília em pano de fundo. À volta do inspector existe sempre uma teia de conspirações que envolvem a máfia, alguma magistratura tolerante, políticos complacentes, jornalistas exibicionistas e um "cocktail" de mulheres bonitas e boas comidas.
Este novo livro consegue colocar Montalbano a descrever uma mulher, sua vizinha, e personagem central da intriga, com tanta minúcia e apetite como um dos belos pratos que a sua empregada, Adelina, lhe prepara: sartu di riso alla calabresa, pasta alla carrettiera, arancini, pasta 'ncasciata, melanzane alla parmigiana. É terrível ter que ler um livro enquanto se "googla" pelas receitas dos pratos lá descritos - os que ele petisca em casa e aqueles que todos os dias experimenta no Enzo, a sua "trattoria" quotidiana. Edição disponível para Kindle, Amazon, a partir da edição original da Penguin.


Gosto
Da iniciativa de dois estudantes dos Açores, que estão a angariar fundos para participar no School At Sea, uma escola que funciona durante meio ano num veleiro e que lhes permitirá alargarem horizontes. 


Não gosto
Da sucessão de acidentes rodoviários graves na Estrada Nacional 125, no Algarve.


Ouvir
Quando uma banda recente é convidada pelos AC/DC e pelos Who para servir de primeira parte nas respectivas digressões, é sinal de que a coisa cheira a rock. Na realidade, os Vintage Trouble são uma mistura de rock com música soul e tanto vão buscar inspiração aos Led Zeppelin, às vezes aos Creedence Clearwater Revival, assim como a Al Green, a James Brown ou a Otis Redding. Esta aproximação ao soul deve-se muito ao vocalista Ty Taylor, enquanto o guitarrista Nalle Colt é responsável pelas canções mais enérgicas, como o tema de abertura "Run Like The River".
Mais do que um exercício de revisitação de memórias musicais, o CD "1 Hopeful Rd", revela uma banda despretensiosa e multifacetada. Editado numa etiqueta clássica do jazz, a Blue Note, este disco é mais uma demonstração dos novos terrenos que Don Was, que agora dirige a editora e produziu ele próprio este trabalho, pretende trilhar no futuro e como vê o cruzamento de diversas tendências musicais. O disco é revivalista? - Sim. É divertido? - Sim. Isso constitui um problema? Não.


Arco da velha
Enquanto Rui Rio intensifica contactos a norte, surgiram notícias de movimentações internas no PSD para travar a sua candidatura e, a sul, Marcelo Rebelo de Sousa avisou os sociais-democratas que não podem abrir brechas.  


Ver
No dia 19, quarta-feira passada, celebrou-se o Dia Mundial da Fotografia. É uma curiosa coincidência que a revista Time desta semana tenha chamado a capa um dos melhores ensaios fotográficos publicados nos últimos anos na imprensa - "What It's Like To Be A Cop in America - one year after Ferguson". A reportagem escrita é de Karl Vick mas o que mais impressiona é a qualidade e autenticidade das fotografias, de Natalie Keyssar. Nas páginas da edição internacional da Time surgem sete imagens poderosas - oito com a que está na capa que aqui se reproduz. No "site" da Time podem ver uma galeria digital deste e de outros trabalhos, que mostram a força da fotografia na imprensa - imagens para além do banal e que ajudam a compreender a realidade. É isto o fotojornalismo e a Time desta edição é um bom exemplo, infelizmente cada vez menos seguido em Portugal. Ainda em celebração da fotografia aconselho uma visita à cadeia da Relação, no Porto, onde está instalado o Centro Português de Fotografia, que acolhe, entre outras exposições, a mostra "Presente", projecto vencedor da Bolsa 2014 da Estação Imagem Mora, realizado por Hermínio Noronha e que documenta as memórias da Guerra colonial no Concelho de Mora.


Provar
Passear ao longo de um rio é das melhores experiências que se pode ter. Bem perto de Lisboa há uma localidade onde, felizmente, a zona marginal se manteve sem grandes estragos e de onde se pode ver a margem norte do Tejo e o casario das colinas lisboetas - estou a falar de Alcochete. A terra tem tradição de bons restaurantes e, além do Alfoz, clássico e um pouco parado no tempo, há o Palmeiro para quem procure peixe de qualidade garantida. Mas no meio das pequenas ruas que desembocam na marginal há boas surpresas.
Tenho por hábito, em terras assim, passear pelas ruas mais pequenas e ver um local onde me pareça que as gentes locais abancam com prazer, sem cara de azia. É um método de diagnóstico que raramente falha. No caso de Alcochete, este sistema levou-me até à Tasca do Victor. É um restaurante mais de panela, forno e fritadeira do que de grelha e sai-se muito bem dessa sua opção. Da lista fazem parte clássicos como o choco frito, enguias fritas ou carne de porco à alentejana.
No dia em que lá fui um dos pratos do dia era ovas fritas - pequenas, de fritura impecável, vinham acompanhadas por boa açorda. A esplanada é ampla. O serviço é atento e simpático, o vinho branco da casa é da região de Pegões, um honesto Adega das Passarinhas. Muito boa relação qualidade/preço. Fica na Rua da Quebrada 10, em Alcochete, telefone 212340912.

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