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07 de Agosto de 2015 às 10:21

A esquina do Rio

A campanha eleitoral oficial ainda nem começou e já duas coisas me deixam perplexo. A primeira é a obrigação que o PSD pretende estabelecer de obrigar os seus deputados a votarem obedientemente o que o partido mandar em quaisquer circunstâncias.

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Back to basics
O nosso destino nunca é um determinado lugar, mas sim uma nova maneira de ver as coisas.
Henry Miller

Perplexidades
A campanha eleitoral oficial ainda nem começou e já duas coisas me deixam perplexo. A primeira é a obrigação que o PSD pretende estabelecer de obrigar os seus deputados a votarem obedientemente o que o partido mandar em quaisquer circunstâncias. Esta imposição é o assumir formal do papel a que progressivamente os parlamentares têm sido reduzidos - a maioria dos deputados, de quaisquer partidos, diga-se, são apenas verbos de encher, ou eventualmente de votar. Se as coisas se passassem assim nos Estados Unidos, Lincoln não teria conseguido abolir a escravatura, e as cenas de desvio de votos da lógica partidária, bem mostradas em séries como "House of Cards", não existiriam.
A situação de obediência passiva a que pretendem que os deputados se submetam é depreciativa, em primeiro lugar, para quem neles vota - porque assim o eleitor fica reduzido a eleger seres que aceitam deixar de ter opiniões e convicções próprias. O caso é um exemplo do estado de podridão do regime e dos partidos e do seu desprezo pelos eleitores, de quem se afastam cada vez mais. O segundo tema, tão grave como este, é a forma como o PS - suspeito que perante a alegria de alguns dirigentes do PSD - pretende impedir Paulo Portas de participar nos debates eleitorais na televisão. O argumento é extraordinário, o objectivo é revoltante e a manobra é um exemplo de oportunismo político na sua expressão mais selvagem. Será que é Portas quem Costa mais teme?

Dixit
"A vida está mais imbecil, as elites são relapsas e incultas, a escola transformou a leitura numa tortura sem sentido. Vêm aí tempos difíceis e colheitas amargas."
Francisco José Viegas, Correio da Manhã

Semanada
• Há 383 candidatos para as dez vagas nos serviços de espionagem portugueses  seis dos 15 ministros do Governo ficaram fora das listas da coligação  o lucro das empresas cotadas do PSI-20 subiu 70% no primeiro semestre do ano  a carga fiscal já representa 60% do preço de venda do litro de gasolina  entre Janeiro e Julho, foram vendidos 135.256 carros, mais 28% face a igual período do ano passado  no mês de Julho, os portugueses compraram 553 carros por dia  no início de Agosto, a circulação de veículos estrangeiros nas auto-estradas portuguesas cresceu 16%  nos cinco primeiros dias, a nova versão do filme "Pátio das Cantigas" já teve cem mil espectadores  até Junho, os portugueses investiram mais de 1,2 mil milhões de euros em PPR  várias cantinas escolares decidiram continuar abertas durante o Verão para que as crianças suas alunas possam ter alimentação nas férias  26% dos alunos do secundário ainda chumbam a Matemática  nos últimos anos, fecharam 2 mil cursos de ensino superior  segundo dados compilados pela Cision, na época desportiva de 2014/2015, o futebol gerou 537.462 notícias relativas a equipas portuguesas; só em televisão foram emitidas 182.846 notícias, que se traduziram em 11.187 horas de emissão dedicadas ao tema  num total de 310 propostas do Governo chegadas à Assembleia da República, o PS votou em 139 a favor e só em 92 contra  Alexis Tsipras afirmou que Varoufakis tem mau gosto para camisas  o Benfica perdeu a Taça Eusébio no México.

Ver
Ao longo dos últimos anos, têm aberto em Lisboa algumas galerias dedicadas à fotografia, mas a nova Barbado Gallery é a primeira que se assume com uma vocação eminentemente comercial, dirigida a coleccionadores que queiram ter, além da apreciação da obra, alguma garantia de estabilidade e rentabilidade futura do seu investimento.
Por isso mesmo, o proprietário da galeria, João Barbado, um jurista que abandonou a advocacia para se dedicar a esta actividade, criou ligações com algumas galerias internacionais por forma que possa expor nomes que são presença rara em Portugal e que têm uma cotação sólida no mercado de arte.
Assim, até 21 de Agosto, pode ainda ser vista a exposição inaugural, que inclui obras de nomes como, entre outros, o chinês Ren Hang, o israelita Nadav Kander (que já ganhou um prémio Pictet precisamente com a série sobre o rio Yangtze, a que pertence uma das fotografias em exibição), o alemão Boris Eldagsen, o britânico Marcus Lyon, que tem uma técnica muito particular de manipulação de imagem, Steve McCurry - o autor da célebre fotografia da menina afegã que a National Geographic tornou famosa - e finalmente uma fotografia de Martin Parr, o reputado fotógrafo da agência Magnum, que terá uma exposição a solo na Barbado a 12 de Setembro. O espaço da galeria é bom, João Barbado é apaixonado pelo que decidiu fazer e percebe-se que estudou o tema a fundo. A Barbado Gallery fica na Rua Ferreira Borges 109-A e tem página no Facebook, onde estão todas as indicações úteis.

Gosto
Da decisão da Secretaria de Estado da Cultura de levantar os entraves burocráticos à exportação de arte contemporânea e de obras de artistas portugueses vivos, o que facilitará a sua divulgação no mercado internacional. 

Não gosto
Os alunos do 9.º ano registaram notas médias de 47% a Português, abaixo dos 50% de 2014, e a taxa de reprovação a Português aumentou dos 19% para os 36%. 

Folhear
Com pena minha, nunca fui a Tóquio - mas já li muito sobre esta cidade, que me fascina. Ao folhear a edição de Verão da revista fotográfica Aperture, a 219, precisamente com o título "Tokyo" na capa, fico com a sensação de estar a passear pela cidade, de conhecer a sua vida, mesmo a mais escondida. A Aperture editada em Nova Iorque pela Fundação com o mesmo nome, é um repositório do que melhor se faz em fotografia actualmente. Como diz o editorial, "Tóquio existe na nossa cabeça não só como uma imagem, mas sobretudo como uma ideia". "Picture Tokyo", uma selecção de autores que olharam para a cidade, é o ponto de partida desta edição, onde merecem destaque também a fotografia feita para revistas japonesas nas décadas de 60, 70 e 80 e, sobretudo, a história de Takuma Nakahira, um dos mais importantes nomes da fotografia nipónica. Vários portefólios mostram o lado mais secreto das pessoas da cidade, outros manipulam paisagens. A selecção de fotógrafos e de imagens é fantástica. Esta edição pode ser comprada na Amazon UK por 16 Libras.

Ouvir
Aqui há uns anos, quando ia de férias, levava umas quantas cassetes, com a música que me apetecia ouvir; uns tempos depois passei a levar uns CD; e hoje em dia levo um "smartphone" onde posso aceder aos serviços de "streaming" - a transmissão de música online. O mais conhecido é o Spotify, o melhor em termos de qualidade de som é o Tidal e, recentemente, a Apple entrou no jogo com o seu Apple Music. E há ainda o SoundCloud, que é um espaço dedicado a novos músicos. Eu, pessoalmente, prefiro o Spotify, sobretudo porque é aquele que proporciona uma selecção mais alargada de música nova, permitindo tanto fazer descobertas de novos músicos como estar a par de novidades de nomes já consagrados. O serviço da Apple, por enquanto pelo menos, é menos interessante deste ponto de vista e também pela sua forma de utilização e manuseamento, que é mais complicada. Assim sendo, continuo fiel ao Spotify, que ainda por cima agora me sugere regularmente descobertas da semana personalizadas ao que são os meus gostos. Foi o que aconteceu esta semana quando dei com o novo álbum de Buddy Guy, "Born To Play Guitar" - estes blues não são delico-doces e apresentam-se de forma séria. A "playlist" de novidades que o Spotify fez para mim e este novo Buddy Guy têm sido as minhas escutas da semana.

Arco da velha
Durante uma entrevista a um jornal, o gato da candidata à Presidência da República pelo partido dos animais (PAN, Pessoas-Animais-Natureza) mostrou-se indiferente à protecção de outros bichos e comeu um pássaro que ela tinha levado para casa. 

Provar
Estamos numa daquelas épocas em que todos os dias abrem novos restaurantes em Lisboa, provavelmente impulsionados pelo aumento do número de turistas. Uma das novidades é o "La Pasta Fresca", na Avenida 5 de Outubro. Como o nome indica, faz massas elaboradas todos os dias na sua cozinha. Além de diversos tipos de pastas simples, algumas pouco divulgadas em Portugal, há também raviólis, cujo recheio vai variando ao longo dos dias. Devo dizer que a confecção das massas, o seu paladar e a sua textura e, já agora, o ponto da sua cozedura, estão perfeitos.
Também as receitas tradicionais de molhos com que são acompanhadas fazem lembrar, por vezes, os petiscos que o inspector Montalbano vai degustando nas descrições do seu autor, o escritor Andrea Camilleri. Há surpresas, como ravióli de salsicha e batata, e nas entradas há sugestões como parmigiana de beringelas. Ainda nas massas, provei um irresistível casarecce com pesto de cetara, uma receita da costa amalfitana. Fiquei com curiosidade sobre os maccheroni verdi com brócolos, anchova e salsicha fresca.
A lista de vinhos é curta, mas tem uma boa selecção de portugueses e algumas propostas italianas como um interessante tinto de Montepulciano, Le Casalte, servido a copo. Na sobremesa, experimentou-se uma cassata, importada de Itália, um pouco doce demais para o meu gosto. Como nem tudo são maravilhas, devo, no entanto, dizer que embora o serviço seja esforçado, é insuficiente. São demasiadas mesas para um só empregado de sala, sobretudo quando a dona, mesmo nos momentos de maior aflição, parece mais uma peça decorativa atrás do balcão do que alguém disposto a garantir uma boa experiência de serviço aos clientes. Qualquer trattoria em Itália evita situações destas. La Pasta Fresca - Avenida 5 de Outubro, 186A, tel. 21 796 0997.

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