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28 de Novembro de 2014 às 10:14

A esquina do Rio

PS e PSD juntaram-se, pela primeira vez nesta legislatura, para apresentarem uma proposta de reposição das subvenções aos políticos.

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Back to Basics

Os políticos deviam ler livros de ficção científica em vez de histórias de detectives e de crimes. Arthur C. Clarke

 

 

Semanada

• PS e PSD juntaram-se, pela primeira vez nesta legislatura, para apresentarem uma proposta de reposição das subvenções aos políticos. Mas, passados dias, os seus proponentes tiveram que a retirar • duas dezenas de deputados declararam manter colaborações regulares com órgãos de comunicação • na semana seguinte à prisão de vários altos quadros do Estado no processo dos vistos gold, o ex-primeiro-ministro José Sócrates foi detido sob a suspeita de corrupção e branqueamento de capitais • o advogado que apareceu a defendê-lo já tinha pedido, há um mês atrás, cópias dos despachos que ordenaram a destruição das escutas dos telefonemas entre Sócrates e Armando Vara • a detenção ocorreu na noite de sexta-feira e o advogado João Araújo apareceu como seu representante no dia a seguir • Mário Soares foi visitá-lo à prisão na quarta-feira e disse que ele era um homem exemplar; Pedro Silva Pereira, um dos mais próximos colaboradores de Sócrates, esteve mais de 72 horas sem se pronunciar publicamente sobre a detenção do ex-primeiro-ministro; um grupo de jovens eborenses, alunos de arquitectura, tirou "selfies" à porta da prisão onde está José Sócrates logo no dia em que ele chegou; depois da visita de Mário Soares, José Sócrates distribuiu um comunicado a considerar a sua detenção "um abuso" • segundo a Marktest, no último fim-de-semana, o nome de José Sócrates foi o mais mencionado nas redes sociais, sobrepondo-se a todos os outros assuntos, personalidades ou marcas • ainda segundo a Marktest, em apenas dois dias, foram divulgadas cerca de três mil notícias relacionadas com o ex-primeiro-ministro • o investimento estrangeiro estava a subir 641% até à crise dos vistos gold; em dois anos, fecharam mil lojas de compra e venda de ouro; o fisco penhorou 197 imóveis por dia desde o início do ano • há 73 queixas por dia de violência doméstica em Portugal • de 2009 até agora, houve 4.605 pessoas que mudaram de nome • o Estado arrecadou mais de 30 mil milhões de euros de impostos até Outubro, um aumento de mais 2 mil milhões em relação a igual período do ano passado.

 

 

Comissionistas

Ao longo de quatro décadas, criou-se em Portugal uma raça a que vou chamar de comissionistas políticos. Cresceram a cobrar, sempre discretamente, comissões pela sua actividade onde quer que tivessem uma réstia de poder. Desenvolveram-se em todos os partidos e quadrantes ideológicos e foram fazendo a sua actividade em benefício das suas organizações partidárias, locais ou nacionais, de grupos de pressão, de organizações amigas a que depois ficavam ligados e, nalguns casos, em proveito próprio. As comissões tinham mil caras - desde as que estavam impressas nas notas de papel moeda até às trocas de favores ou obtenções de sinecuras futuras. A sucessão de casos foi crescendo ao longo dos anos e foi-se estendendo também na administração pública e nalgumas empresas.
Mais cedo ou mais tarde, as coisas começam a dar nas vistas em demasia e foi isso que agora aconteceu. Durante muito tempo, proliferou o discurso que acusava a justiça de só perseguir os pobres e indefesos; mas, mal o aparelho judicial começou a perseguir banqueiros, altos funcionários, políticos no activo ou na reforma, ex-governantes e dirigentes partidários, começou um imenso clamor de protesto de que havia intenções políticas por detrás das acções da justiça. E assim chegamos ao ponto em que pensadores de diversos matizes se deixam envolver mais pelo sentimento do que pela razão e se tornam cegos. Fernando Sobral escreveu, aqui neste jornal, que se criaram as condições para uma pergunta assassina, em termos sociais e políticos: "és a favor ou contra Sócrates?" E acrescentava: "se a política se reduzir a isto, estamos perdidos". Mas é isso mesmo que está a acontecer, como desde quinta-feira se tornou bem patente, graças ao contributo de Mário Soares para a questão.
Subjacente a tudo isto está um princípio, de que a esquerda não abdica: ela é intocável e intrinsecamente honesta, e a direita é a mãe de todos os vícios e fundamentalmente desonesta. Ou seja, a esquerda é o Bem e a direita é o Mal. Este raciocínio maniqueísta tem ainda mais décadas que a existência de comissionistas políticos em Portugal - mas é o raciocínio da moda que comanda o sentimento sobre a razão. É o raciocínio solidário: Sócrates é de esquerda e, portanto, não pode ser desonesto; se o acusam é porque se trata de uma manobra política, obviamente desonesta e de direita. Estarmos reduzidos a isto é uma tristeza. E há ainda outra coisa: os mesmíssimos políticos que gostam de jogar com a velocidade e agilidade mediática, quando estão a fazer guerrilha e chicana, são os que agora se lamentam pela excessiva atenção dada pelos media a este caso, não se recordando que foi a mesma atenção dada a outros recentes onde não viram nada de excessivo. No fundo, não compreendem uma coisa básica: a velocidade da justiça e a velocidade do sistema mediático são coisas diferentes. E ainda bem. Talvez preferissem que não houvesse velocidade. Ou seja, que nada se movesse. Presumo que escuso de citar Galileu.

 

 

Gosto
Os turistas que visitam Lisboa descobriram as castanhas assadas e tornaram-se compradores frequentes do petisco.

 

 

Não gosto
Da maneira sistemática, como se repetem inundações em Lisboa de cada vez que a chuva é mais intensa.

 

 

Folhear

Esta é a altura em que a Monocle chega à sua edição dupla, de Dezembro/Janeiro, que este ano tem cerca de 270 páginas. O tema da edição é o "soft power", a capacidade de um país exercer poder e ganhar reconhecimento através da sua diplomacia e da sua presença no mundo. A lista de 30 países resulta do relatório de um think tank britânico, o The Institute For Government. Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Japão e França ocupam os cinco primeiros lugares de uma lista de 30 países, na qual Portugal está na 24ª posição. Nesta edição, há ainda um destaque para o "Top 50" dos viajantes e para Antuérpia, além da Art Basel de Miami. Finalmente, na capa, uma fotografia de um eléctrico bem lisboeta é o chamariz para um especial destacável, um guia de Portugal. A edição deste guia resulta do esforço conjugado do Turismo de Portugal com o interesse há muito manifestado pela revista em relação ao nosso país - é rara a edição em que não se encontra alguma coisa, seja sobre Lisboa ou Porto, seja sobre criadores ou artesãos portugueses que estão a marcar a diferença. O guia sobre Portugal tem 36 páginas e, como é hábito nestes guias da Monocle, tem recomendações sobre sítios onde ficar, onde comer e lugares a visitar; sobre lojas e pequenas indústrias, além de múltiplos dados sobre o país. Lisboa, as praias do surf, o Alentejo, o Algarve, o Porto, o Douro e o Minho são as zonas em destaque, com boas e acertadas sugestões. Já agora, a revista anuncia que a 17 e 18 de Abril se realizará em Lisboa a "The Monocle Quality Of Life Conference", que abordará temas desde o urbanismo até ao comércio, passando pela indústria da restauração e hotelaria, ou ainda o artesanato e ofícios criativos. E, a 5 de Dezembro, o grupo que edita a Monocle lança uma nova publicação, um almanaque anual intitulado "The Forecast" que, em 240 páginas, promete ensaios fotográficos, reportagens e análises.
Já falta pouco.

 

 

Arco da Velha

O ex-procurador Pinto Monteiro afirmou que, no almoço que teve com José Sócrates, em Lisboa, na semana em que o ex-primeiro-ministro foi detido, apenas falaram de livros e de viagens.

 

 

Ver

Hoje recomendo-vos uma visita à Fundação Louis Vuitton, o edifício junto ao Bosque de Bolonha, no 16º Bairro de Paris, onde Frank Gehry concebeu e construiu um edifício extraordinário, encomendado por Bernard Arnault, o presidente do grupo de produtos de luxo LVMH, para albergar um museu e centro cultural que teve um investimento de construção de perto de 150 milhões de dólares. A visita, para quem está em Lisboa e para aguçar o apetite, é fácil e barata. Basta ir a www.fondationlouisvuitton.fr e começar a percorrer o "site". Aí poderão encontrar informação sobre as actividades, mas também registos de eventos recentes - desde o concerto inaugural de Lang Lang, em Outubro, até uma recente actuação, já em Novembro, dos Kraftwerk. Encontrarão também uma visita electrónica à obra do ponto de vista arquitectónico, que também pode ser vista através de uma aplicação disponível para smartphones. Ainda nesse campo, existe também uma aplicação, concebida especialmente para crianças, que lhes permite fazerem uma visita virtual a esta obra de Gehry, "Archi Moi", disponível para iPad.

 

 

Dixit

"Não é uma Justiça igual para todos que destrói a democracia - é a impunidade".
Luís Rosa, no "i".

 

 

Ouvir

Poucos discos me agarraram e surpreenderam tanto como "Down Where The Spirit Meets The Bone", o álbum que a norte-americana Lucinda Williams editou em Outubro. Aos 61 anos, é o seu primeiro duplo CD e inclui 18 temas originais, além de uma canção, "Compassion", que abre o disco, feita a partir de um poema do seu pai, Miller Williams, e de uma versão de um tema de JJ Cale, "Magnolia", que encerra o álbum. Além disso, este é o disco de estreia da sua própria editora, Highway 20 Records. A produção é dela própria, de Tom Overby, seu marido, e de Greg Leisz. Entre os músicos, está a secção rítmica de Elvis Costello, o trio Jackshit, ou o guitarrista Bill Frisell. A base da música de Lucinda Williams é a country, com incursões frequentes nos blues. Aliás, o segundo CD do álbum é assumidamente bluesy. Eu não gosto muito de dizer coisas destas, mas ouvindo vez após vez este disco, e a diversidade e intensidade das suas canções, ocorre-me que este é uma daqueles momentos em que o título de obra de carreira se pode aplicar. Definitivamente, um dos grandes discos de 2014. (Highway 20 Records, na Amazon).

 

 

Provar

No meio da proliferação das hamburguerias de todos os feitios e padrões, vale a pena referir uma casa inaugurada há pouco tempo sob o nome A Loja. Fica perto do Liceu Maria Amália, entre a Artilharia Um e a Rua Castilho, cá para cima, do lado da Marquês da Fronteira - esta é, aliás, uma rua de boa memória em matéria de restauração. A Loja tem uma decoração leve e confortável, o pessoal é simpático e, como se exige numa casa destas, a carne é de boa qualidade, saborosa - e na cozinha sabem fazer o hambúrguer mal passado (e é aí que se percebe que a carne que serve de base é boa). Há umas surpresas que vão variando mês a mês - em Outubro, houve o hambúrguer tártaro, em Novembro, o de alheira com grelos salteados. Vamos lá ver que hambúrguer traz o Pai Natal em Dezembro. Enquanto não se conhece o menu surpresa de Dezembro, uma boa hipótese é o hambúrguer da Loja, que leva cebola caramelizada e queijo gruyère. As batatas fritas são mesmo caseiras, grossas e vêm no ponto, sem óleo a escorrer. Há uma dúzia de variedades de hambúrgueres, no prato ou no pão, tábuas de petiscos para uma conversa ao fim da tarde, saladas e sopas para as dietas e, nos doces, uma tentadora mousse de chocolate da casa e, se ainda não tiver esgotado, a célebre e única A Tarte de amêndoa.
A Loja fica na Rua Dom Francisco Manuel de Melo, 26. 

 

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