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06 de Junho de 2014 às 09:31

A esquina do Rio

No dia em que o Tribunal Constitucional decidiu propor o aumento de impostos, como medida alternativa às medidas de redução da despesa que reprovou, entrou no caminho de querer impor um programa de Governo

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Nunca devemos pedir aquilo que temos poder e capacidade de obter sem ajuda.

Miguel de Cervantes

 

 

Golpistas
No dia em que o Tribunal Constitucional decidiu propor o aumento de impostos, como medida alternativa às medidas de redução da despesa que reprovou, entrou no caminho de querer impor um programa de Governo. Esse caminho, para que não existam dúvidas, é o percurso que leva aos golpes de Estado. O Tribunal Constitucional passou a ser desde a semana passada candidato a putschista. Não é uma boa notícia. Na sala onde o Tribunal Constitucional anuncia as suas decisões, sempre com atraso sobre a hora marcada (o que diz muito sobre o respeito dos juízes pelos cidadãos), há uma tapeçaria criada a partir de uma obra de Eduardo Batarda que é bem simbólica - linhas que se cruzam e enredam num novelo difuso e confuso, impossível de destrinçar. É a imagem ideal para ilustrar o Tribunal Constitucional que temos. Os impostos que o Tribunal deseja, como bem lembrou neste jornal Fernando Sobral, transferem rendimentos de todos para uma entidade que os esbanja, e que é o Estado. Na realidade, os impostos espremem o trabalho e estrangulam o investimento. Neste terceiro ano da legislatura, percebem-se bem os nefastos efeitos da falta de reforma do Estado - cuja ausência é, na realidade, o chapéu de chuva onde se abriga a parte do Tribunal Constitucional que quer governar. Como bem escreveu Miguel Cadilhe esta semana, a nossa Constituição obriga o Estado a prosseguir muitos fins mas nunca se refere aos meios necessários para os alcançar. Esse é o nosso problema. Mas, pelos vistos, o Tribunal Constitucional não tem essa preocupação porque acha que a receita é simples: mais impostos. Quererão os juízes formar uma junta governativa? Serão eles os golpistas contemporâneos? O regime chegou ao pior dos impasses.

 

 

Semanada

• Com o golpe anunciado pelo Tribunal Constitucional, António Costa, esperto, diz querer clarificar tudo no PS ainda nesta semana  António José Seguro diz que antes de Setembro não há primárias  Vários líderes distritais do PS marcaram reunião à revelia da direcção de Seguro  Augusto Santos Silva critica "incapacidade do PS" de Seguro  Seguro diz que "se anulou" no PS para manter a paz interna  Segundo José Sócrates, "liderança bicéfala só no Vaticano, que tem dois Papas"  Depois de ter considerado, em Maio de 2011, que a saída de Portugal do euro seria inaceitável por ser a pior das soluções, Francisco Louçã regressou à política para sugerir agora que a saída da moeda única poderá ser a única solução para Portugal  Rui Tavares, líder do "Livre", anunciou em entrevista que vai estudar latim  Soube-se esta semana que um Manual do SIS recomenda aos espiões a violação da lei em matérias como os dados bancários e dados das operadoras telefónicas; esta semana, a Presidente da Assembleia da República foi desautorizada duas vezes na conferência de líderes parlamentares  Mesmo assim, a Assembleia da República encontrou tempo para aumentar em 38% os membros da Comissão Nacional de Eleições responsáveis pela confusão em torno dos debates eleitorais e co-responsáveis, com os partidos, pelo desinteresse face aos actos eleitorais.

 

 

Dixit

Comentando a decisão do Tribunal Constitucional, o constitucionalista Vital Moreira declarou-se preocupado com "o facto de as regalias da Função Pública terem de ser pagas pelos contribuintes, incluindo os que, no sector privado, não gozam da mesma protecção no emprego nem das mesmas remunerações do sector público".

 

 

Ver

No momento em que Délio Jasse é um dos finalistas do BES Photo deste ano, com a sua participação exposta no Museu Berardo, a Galeria Baginski, que representa o artista, dá provas da sua atenção à actualidade e apresenta uma exposição inédita, "Terreno Ocupado", que mostra duas facetas da obra do artista. Délio Jasse usa a fotografia para expressar a sua interpretação do mundo. Não documenta, fica-se por mostrar, juntar peças e propor uma leitura. Consegue fazê-lo de duas formas diferentes - fantasiando e propondo quase colagens de imagens na série "Os Tinhas" e nas duas peças sem título de película sobre acrílico; e, por outro lado, mostrando uma visão do quotidiano, distorcida de várias formas, na série "Hora do Comércio" e, sobretudo, na série que dá título à exposição, "Terreno Ocupado", onde por vezes se sente a proximidade com o trabalho de manuseamento da realidade de Ed Ruscha na Califórnia do final dos anos 60. O "Terreno Ocupado" (na imagem aqui reproduzida), de Délio Jasse, é a Luanda que ele quer mostrar.

 

 

Gosto
Da declaração de voto de Maria Lúcia Amaral no Tribunal Constitucional.

 

Não gosto
Da apetência de Joaquim Sousa Ribeiro, presidente do Tribunal Constitucional, pelo confronto político.

 

 

Folhear

Na "Vanity Fair" de Junho, destaco dois artigos - o perfil de Jon Hamm, o actor que protagoniza Don Draper em Mad Men, e que agora começa uma carreira no cinema com "Million Dollar Arm", e um magnífico relato da vida do fotojornalista Robert Capa, centrado na sua cobertura do desembarque aliado na Normandia. Outra peça muito interessante é aquela em que Matt Berman recorda os tempos em que foi o director criativo da revista "George", criada por John F Kennedy Jr em 1995. Diane Keaton é quem responde este mês ao dicionário de Proust na última página da revista e o retrato de Annie Leibovitz vai para Sting. Dois dos casos noticiosos dos anos 90 - o incidente do vestido azul de Monica Lewinsky e a fuga de O.J. Simpson coberta em directo pelas televisões - são pretexto para visitar a década que vulgarizou a tabloidização da informação. Para quem gosta de espionagem industrial, o relato da guerra entre a Apple
e a Samsung é uma peça imperdível.

 

 

Provar

Este é um restaurante especial - ao almoço há um buffet a preço económico e ao jantar há escolha entre três menus - um filipino, outro italiano e um português. A responsabilidade da variedade geográfica da escolha é do Chef, um cozinheiro filipino que esteve anos no La Trattoria e aí se dedicou à cozinha italiana. O buffet muda todos os dias, custa seis euros, tem várias entradas e pelo menos cinco pratos principais em opção, que vão variando ao longo dos dias da semana. Escolhi o menu filipino e, depois de uns bons crepes de vegetais, bem crocantes, acompanhados de chutney, veio um frango em molho de soja e tamarindo; a terminar, torta doce. Do outro lado da mesa, a escolha foi italiana. Um carpaccio, ligeiramente ácido em demasia, um risotto que estava honesto e um tiramisú. Mas é na cozinha filipina que este restaurante brilha - exemplos são o kare-kare, um osso buco com estufado de couves, com molho de amendoim e farinha de arroz torrada. Na mesa ao lado, olhei com inveja para uns camarões na chapa com alho, pimentos e cebola e, noutra mesa, estava uma salsicha filipina, de carne de porco com especiarias e cana-de-açúcar, acompanhada de um ovo estrelado. O tradicional bife tem um toque filipino þ o adobong baka é um bife de vaca à portuguesa temperado com a acidez do tamarindo. Dois menus e vinho, ficou tudo por 35 euros. O restaurante encerra à segunda-feira e senta 40 pessoas numa sala confortável com um tranquilo tom de azul. Normalmente tem mais gente ao almoço que ao jantar, a escolha de vinhos é curta mas os preços são razoáveis, a cerveja é bem tirada, e é evidente que acolhe muita clientela de bairro. O Kababayan fica na Rua Marquês da Fronteira 173 A, telefone 218 220 209.

 

 

Arco da velha

O presidente do Sporting comparou, esta semana, o futebol a um "ânus", com duas "nádegas imponentes de onde ou sai vento mal cheiroso ou trampa".

 

 

Ouvir

Um académico chileno desenvolveu uma teoria chamada "o género portuário" - diz ele que alguma da música que se ouve nas docas de várias cidades costeiras da América do Sul tem origem na guitarra e na voz do fado -  nomeadamente estará na origem do tango, do bolero ou da ranchera. Daniel Gouveia, que em 2001 acolheu esse académico, Miguel Angel Vera Sepulveda, no I Colóquio Internacional do Fado, em Lisboa, e que foi o lado português das investigações do etnomusicólogo chileno, explica como tudo aconteceu nas notas introdutórias de "Amália, de Porto em Porto", um novo CD que reúne um conjunto de gravações inéditas em disco. São 16 canções, muitas delas gravadas de forma rudimentar e maioritariamente cantadas em castelhano. Aqui estão clássicos como "Fallaste Corazon" (que Amália interpretaria várias vezes ao vivo, apresentando o tema como um fado mexicano), "Por Un Amor", "No Llamarme Petenera", "Mala Suerte", "La Cama de Piedra" ou "Tres Palabras", além de uma deliciosa versão de "Lisboa Não sejas francesa". Estas gravações foram feitas no México, em 1950, e são agora editadas em CD, pela primeira vez, pela Valentim de Carvalho. A edição inclui ainda um texto de Miguel Angel Vera Sepúlveda, onde ele relata como foi descobrindo etas gravações, as suas conversas com Amália e a sua convicção das relações do fado com estas canções portuárias.

 

 

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