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Manuel Falcão - Jornalista 30 de Maio de 2014 às 09:28

A esquina do Rio

Vamos ter um ano bem agitado em matéria de política até às próximas legislativas, em 2015 - guerrilhas internas nos partidos, mudanças nas suas direcções, a começar pelo que já está à vista no PS

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Back to basics

O linguajar dos políticos é feito de forma a fazer parecer que as mentiras são verdades e o assassínio algo de respeitável, e também para dar um ar de solidez a coisas que mais não são que vento.
George Orwell

 

 

Semanada
• A transmissão da final da Champions League na TVI teve mais espectadores que a noite eleitoral nos três canais (RTP, SIC e TVI) em conjunto  A análise de algumas sondagens indicia que a entrada de Sócrates na campanha do PS teve por efeito uma queda nas intenções de voto nos socialistas  Marinho e Pinto admite ser candidato presidencial  Miguel Relvas voltou a intervir no Conselho Nacional do PSD, disse que nas eleições de domingo "perderam todos" e defendeu a reforma do sistema político; no domingo, o PS falava em vitória, e segunda já tinha começado a discutir a convocação de um congresso extraordinário  Manuel Alegre diz que Seguro "não tem de ter medo do congresso"  Edite Estrela diz que "é necessário que haja um congresso"  Francisco Assis diz que "não se deve colocar a questão da liderança"  Carlos Zorrinho diz que se revê no que disse Francisco Assis  Ana Gomes diz ser "inoportuna e desajustada" a disputa pela liderança do PS  António Galamba diz que não há condições "para andar todos os dias a brincar aos congressos"  Vieira da Silva diz desejar que se clarifiquem as posições  João Galamba sublinhou que nas eleições "o povo disse que este PS não chega, é preciso mais"  Mário Soares considerou o resultado do PS nas europeias uma "vitória de Pirro"  João Soares disse no Facebook que "o PS português teve uma clara e boa vitória nas eleições europeias de domingo" e considerou a possibilidade de um congresso extraordinário "um disparate total"  Jorge Lacão demitiu-se da direcção do PS, defendendo a realização de um Congresso extraordinário  No Rato, António José recebeu António Luís, que lhe solicitou a convocação de um Congresso e, em resposta, Seguro emitiu um comunicado onde diz que "o Secretário-geral do PS registou a posição do Dr. António Costa".

 


Guerrilha
Vamos ter um ano bem agitado em matéria de política até às próximas legislativas, em 2015 - guerrilhas internas nos partidos, mudanças nas suas direcções, a começar pelo que já está à vista no PS, e alguma conversa de ocasião sobre a necessidade de mudanças no sistema político, provavelmente uma remodelação estival do Governo. O movimento vai ser contagiante a todo o espectro e a reunião do Conselho Nacional do PSD mostrou que Passos Coelho preferiu ser o primeiro a falar de necessidade de proceder a alterações, pelo menos na forma de agir. Desta vez, os partidos do chamado arco da governação, ou o Bloco Central se preferirem, apanharam um susto: a abstenção foi maior do que temiam e aqui, como noutros países, movimentos à margem do sistema foram os únicos a poder verdadeiramente reclamar vitória - é o caso de Marinho e Pinto. Se juntarmos a abstenção, os votos brancos e os nulos, chegamos à conclusão que só 26,5% dos eleitores votaram num dos concorrentes. O que se passa no fundo é simples: muitos eleitores preferiram não votar a votarem contrariados e isso atingiu de forma dura o PS, a coligação e o Bloco de Esquerda que, cada um à sua maneira, se tornaram incómodos para a sua própria base eleitoral. O que se passa é que, com o andar dos anos, os partidos viraram-se para dentro e vivem centrados nos seus umbigos - preocupam-se mais com as eleições internas, com o apoio das distritais e do aparelho, do que com a relação com os eleitores, com os seus simpatizantes e votantes. No fundo, os partidos desprezam o regime e só se lembram dele quando os votos se tornam num bem escasso. Nas legislativas, ao contrário do que se podia pensar há uns meses, está tudo em aberto e a única certeza que pode agora existir é que vão ser renhidas e a campanha vai ser longa - começa já agora.

 


Dixit
"Lá vamos ter novamente António José Seguro a ficar António José Inseguro".
Morais Sarmento nos comentários da noite eleitoral.

 


Ver

De entre os trabalhos de Délio Jasse, José Pedro Cortes e de Letícia Ramos, sairá o vencedor deste ano do BES PHOTO, que vai na sua décima edição - e a respectiva exposição inaugurou esta semana no Museu Berardo. No MUDE, Rua Augusta 24, apresenta-se a moda dos anos 80. Estão representadas criações de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren, empresário dos Sex Pistols, mas também de John Galliano, Claude Montana. Thierry Mugler, Alain Mikli, Azzedine Alaïa, Romeo Gigli, Sonia Rykiel, Comme des Garçons, Issey Miyake e Jean-Charles de Castelbajac. "Os Iconoclastas dos Anos 80", a exposição que reúne estas peças exibidas em conjunto pela primeira vez em Lisboa, pode ser vista no piso 1 do Museu do Design e da Moda, até ao dia 31 de Agosto. Finalmente, neste fim-de-semana, inaugura, na Galeria das Salgadeiras (Bairro Alto, Rua das Salgadeiras 24, até 31 de Julho), a exposição "Leve Linha", de Teresa Gonçalves Lobo, composta por desenhos a tinta-da-china (na imagem), que são uma imagem de marca da artista.

 


Folhear
Editado originalmente em 1918, e agora reeditado, o livro "A Malta das Trincheiras" é um espantoso documento sobre a I Grande Guerra, escrito por André Brun, um português de origem francesa que foi levado a combater em França. André Brun foi um cronista da sua época, assinou como dramaturgo obras como "A Maluquinha de Arroios", foi argumentista de filmes como "A Vizinha do Lado" e foi um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Autores. André Brun foi ainda um dos combatentes do corpo expedicionário português, onde ganhou a medalha da Cruz de Guerra. O título original do livro é "A Malta das Trincheiras - Migalhas da Grande Guerra: 1917-1918". É um livro de relatos de guerra, que vive de um grande poder de observação, feito em pequenos capítulos, cada um deles uma história, reconstituindo o ambiente das trincheiras. Mais do que uma reportagem, relata numa prosa elegante episódios do quotidiano, a convivência com soldados de outras nacionalidades, mas também a vida nas pequenas quintas que serviam de abrigo, ou as dificuldades do diálogo em línguas diferentes. Não são escondidos os mortos nem os feridos, são relatados os problemas e os casos, é contado o medo e o humor em tempo de guerra, a aventura de manter a vida em cidades e terras transformadas em lugares mortos, por onde se sobrevive. Uma edição Guerra & Paz.

 

 

Gosto

Da abstenção tomada como um aviso.

 


Não gosto

Da indiferença dos partidos face aos resultados eleitorais, como se a culpa fosse dos eleitores.

 


Arco da velha
Em Lisboa, um carro da PJ, identificado e em serviço, cujos agentes iam fazer uma detenção, foi considerado mal estacionado e rebocado pela PSP  Uma casa de alterne, na região de Felgueiras, que esta semana foi alvo de uma acção policial, era o patrocinador oficial das camadas jovens de futebol da Lixa, localidade onde estava instalado o Impetus Bar.

 

 

Provar
Eu gosto de iscas, de iscas bem temperadas, cortadas finas, às vezes com elas tradicionais, às vezes com elas fritas. Elas, claro, são as batatas - cozidas aos quartos ou fritas aos palitos. As iscas são um prato oriundo das velhas casas de pasto, finas fatias de fígado, inicialmente de bovinos e, depois das vacas loucas, apenas de fígado de porco. Têm de ser finas em toda a extensão, não se aceitam iscas aos ziguezagues com pedaços mais grossos. O molho há-de levar o toque certo de vinagre, que realça o paladar e terá de ser espesso. As iscas, bem temperadas, são uma coisa única, um petisco. Os restaurantes populares com boa cozinha são os que melhor as confeccionam. Vou dar dois exemplos diferentes, mas afamados. Um fica nas Avenidas Novas e outro em Campo de Ourique. Na Avenida Conde de Valbom 87, em boa hora fechada ao trânsito no tempo em que João Soares era presidente da Câmara, fica o Jaguar, casa afamada, sala estreita de entrada, ampla no final, agora também com esplanada convidativa. O Jaguar é umareferência das Avenidas Novas, local onde as iscas existem sempre e são dos pratos mais procurados. O outro, na Rua Coelho da Rocha 91, é o Bar Venezuela, casa mais pequena, interclassista assumida, com cozinha bem portuguesa e familiar, com um inesperado mas interessante toque de piri-piri no tempero das iscas, servidas como prato do dia às segundas-feiras. Os dois restaurantes vivem de receitas populares e tradicionais e primam pela boa confecção. E são módicos no preço e abastados na simpatia.

 

 

Ouvir
Depois de três álbuns de inspiração clássica, o 14.º registo de estúdio de Tori Amos volta ao formato que lhe deu notoriedade, baseado na sua voz e no piano, que alterna entre momentos de uma grande intensidade, outros de uma enorme melancolia e outros de uma desarmante intimidade. "Unrepentant Geraldines", agora editado, parte de ambientes inspirados pelas artes visuais, para abordar temas como a religião, ou o envelhecimento e o sexo, com a elegância da fantasia. A canção-título, "Unrepentant Geraldines", é uma viagem ao passado musical de Tori Amos e as canções mais simples, baseadas na voz e piano, como "Oysters", "Invisible Boy" e "Selkie", são bem conseguidas, e "Wild Way" ou "Wedding Day" são marcantes, confessionais quase, enquanto "16 Shades of Blue" ou "Giant's Rollin Pin" são de um experimentalismo inesperado. Em qualquer dos casos, há um ponto comum - a qualidade das interpretações vocais mostra que Tori Amos, a cantora, está em grande forma.

 

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